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30 de janeiro de 2008

Assassinado pelo bloco central


Decorre no sábado o centenário do regicído de D.Carlos I e de seu filho mais velho e herdeiro do trono, o meu homónimo Luís Filipe.

Não é o sítio nem o local para descrever todos os factos quer da ocorrência, quer das causas que motivaram, esse facto que se adivinhava na altura e tinham alguns como inevitável.

Fala-se hoje se a eventualidade da abdicação no seu filho poderia eventualmente evitar esse derramamento do sangue, eu direi peremptoriamente que não.

A crise era já longa, profunda e decorrente do evoluir das novas ideias, que emanavam do liberalismo, já então na sua evolução republicana e igualmente radicalizada pelas teorias anarquistas.

As culpas próprias inerentes ao seu diletantismo, no agravar dessa crise foram inquestionáveis, culminando no seu apoio directo a ditadura de João Franco, tida como a causa próxima do desenlace fatal.

Importa também referir o quanto D.Carlos foi igualmente vítima de ser rei dos portugueses. Primeiramente da estultícia imbecilóide de alguns políticos portugueses, País onde a maioria do povo passava fome, que não se desenvolvia, se cravava de dívidas, que não tinha indústria, pretender ser dona de meia África, só porque se mandava um punhado de exploradores valentes atravessá-la de costa a costa.

A isso se achavam com direito, políticos de um País que não tinha dinheiro sequer para criar uma carreira regular marítima para a Guiné.

Era este país de se achava no direito de afrontar a poderosa Inglaterra no apogeu do seu imperialismo encabeçado por Cecíl Rhodes.

Foi esta gente, essa corja de políticos que o rodeavam, que perante o definitivo e impaciente Ultimatum de 1890, proposto por uma Inglaterra fartíssima de os aturar, que sempre se refugiou atrás dum pseudo patriotismo, deixando ao rei o libelo acusatório de traição à Pátria e de colaboracionismo com os ingleses, quando toda a gente sabia que não havia outro caminho a seguir senão ceder.

Se por natureza D.Carlos nunca foi um rei popular, eventualmente por timidez, pois na intimidade parece que era muito simpático, esse acontecimento em definitivo arrasou a sua popularidade e viria a feri-lo de morte.

A queda da monarquia era inevitável, mas afirmo convictamente que mais do que os tiros da pistola carbonária que o matou foi a habitual mentalidade dos políticos portugueses, que preferem os seus próprios interesses partidários aos do País, que "preparam" a morte do rei.

Nesse tempo o conluio político-partidário chamava-se rotativismo, pois também já havia bloco central esses sim os verdadeiros regicidas qua armaram a mão de Buiça.

8 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Em história = zero absoluto, não os -273º, porque não acredito nestas temperaturas.
Como terá ficado o indivíduo que foi lá medi-la?
É mais fácil chegar ao Sol para lhe medir a temperatura.
Vai-se de noite!
Tenho andado ausente, não com a cabeça no ar, mas fronha com fronha, em lençóis doentios.

Custou, mas fui descobri-lo:

Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente…
Corta a mudez sinistra o mar profundo …
Chora a rainha desgrenhadamente …

Papagaio real, diz-me quem passa?
-- É o príncipe Simão que vai à caça.

Os sinos dobram pelo rei finado …
Morte tremenda, pavoroso horror!...
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d’amargura e dor …

Papagaio real, diz-me, quem passa?
-- É el-rei D. Simão que vai à caça.

Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da pátria a agonizar …
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!...

Papagaio real, diz-me quem passa?
--É el-rei D. Simão que vai à caça.

A Pátria é morta! A Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!

Papagaio real, diz-me, quem passa?
--É el-rei D. Simão que vai à caça.

Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indomitamente a multidão …
Tocam clarins de guerra a Marselheza …
Desaba um trono em súbita explosão!...

Papagaio real, diz-me, quem passa?
--É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão!...

Guerra Junqueiro, e a sua premonição

maria faia disse...

Xistosa
queria-te agradecer os teus comentários, penso que em nome de todos, por melhorarem e de que maneira, este blog.
OBRIGADO

Luís Maia disse...

Estico os agradecimentos da Maria Faia.

Uma premonição bem mais fácil que acertar no euromihões.

Junqueiro era um republicano, estava por dentro dessa possibilidade, contudo ninguém no fundo acreditava que fosse possível acontecer, nem o próprio rei.

Aquela coisa do porreirísmo lusitano, falar muito e não fazer nada, já existia nesse tempo

Um abraço

Unknown disse...

O camarada é monárquico. É interessante!
Belo post! Até o vou linkar, veja lá!

Um abraço.

maria faia disse...

Depois deste comentário do Jorge C, sinto-me na obrigação de vir clarificar algumas questões de que me não apetecia falar.

Jorge, não sei se o Xistosa ou se o lfm, são monárquicos.
Mas o Jorge, pelos vistos é, e espero que saiba, também, que não foram os republicanos, nem o bloco central como lhe chama o Luis, que mataram o Rei D. Carlos, mas sim a aristocracia da época.
Um deles, parece que avô ou bisavô da actual Duquesa de Bragança.

A Carbonária, foi paga pela aristocracia, a mesma aristocracia que matou D. João II, aqueles que ele não conseguiu matar.

Por isso, cuidado, com essa de ser Monárquico, e com este Duque de Bragança.... o que vale mesmo, é a República Portuguesa, enquanto sistema, estar de boa saúde e estar para ficar.

Unknown disse...

Cara Maria Faia,

isto é só uma divertida troca de galhardetes que tenho vindo a ter esporadicamente (infelizmente) com o Luís Maia e que ele certamente irá entender como tal.

Numa rápida declaração de interesses, devo dizer que não sou monárquico. Pensei sempre como um republicano, por isso sou republicano por tradição. Mas não sou anti-monárquico. E é esta a parte que me interessa.

Em relação à história da aristocracia, eu poderia dizer que foi a extrema direita que encomendou o 25 de Abril, mas seria meramente especulativo.
Penso que o Luís quis dizer que foi o bloco central da época que acabou por ditar a sentença de morte do Rei por causa de uma mísera governação e só posso concordar com ele.
É claro que o rei D.Carlos poderia ter posto mão na situação e não o fez, confiou em João Franco.

No fundo, se formos a ver, o Chefe de Estado português (que é assim que deve ser visto) foi vítima de uma má gestão, mas que foi ele próprio que a permitiu.

De qualquer forma, não é a minha especialidade, por isso é melhor não dizer mais nada, correndo o risco de cair na asneira.

Cumprimentos.

maria faia disse...

Mas Jorge, eu não estou a especular

os republicanos, nunca quiseram, nem aceitaram a morte do Rei
quando muito a de João Franco, mas nunca a do Rei e só por isso é que se distanciaram do assassinato e só por isso a Républica foi adiada por dois anos.

É pacífico, ter sido a aristocracia a pagar e a apoiar os carbonários.
Não toda como é evidente, mas uma parte, com peso, dela.
Ainda há pouco tempo se falou e discutiu o papel do avô de Dona Isabel de Bragança, e o Duque, parvamente, veio à liça descomprometer o dito senhor.

Luís Maia disse...

Meu caro Jorge C.

Pois é evidente que gosto da troca de galhardetes e acho até interessante que aconteça com humor.
Fiquei um pouco apreensivo quando publiquei este post, por achar que poderia ser mal compreendido. Afinal este último comentário veio mostrar que não. Ele clarificou exactamente o que eu quis dizer.
Só rectifico a ideia que não sou monárquico, mas como deve sabe, História é o meu hobby (talvez daí a confusão) e procuro ser isento.

Assim, para além dos defeitos de D.Carlos e das incapacidades dos últimos monarcas (excluo D.Pedro V) braganças, não é preciso assacar mais culpas que o Rei não teve.
A questão do Ultimato de 1890 é paradigmática para mim.

Um abraço a todos
Luís Maia

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