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26 de julho de 2008

Gomes da Costa no exílio



Minha cara amiga

Estou a escrever-lhe dos Açores, mais propriamente de Angra do Heroísmo, para onde, as vicissitudes da política me enviaram.


Soube da sua ida para Lisboa, por pessoa amiga que me deu a sua morada.


Muitas vezes me acusaram de "cabeça tonta", porque diziam concordava sempre com a última pessoa com quem falava, mas desde que o Sínel de Cordes, me convidou para com ele e outros militares encabeçar um movimento que se propunha restaurar a ordem e a paz em Portugal, que encarei essa missão como sempre deve fazer um militar, com seriedade e obstinação.


Ao ocupar a pasta do Ministério e interinamente a de Chefe do Estado, pareceu, que se depositava em mim a confiança necessária para levar a tarefa a bom porto, mas o mesmo Sínel de Cordes e o Carmona, menos dum mês depois forçaram num golpe, demitindo-me com a alegação de incapacidade para tratar dos assuntos do Estado, o que francamente me parece excessivo, atendendo ao tempo que dispus.

Falta de coerência programática e impulsivo, foi a alegação

A proposta que mantivesse a chefia do Estado, pareceu-me uma afronta à minha dignidade, que me levou a não aceitar.


Ao Oscar Carmona cabe agora a tarefa de chefiar novo governo, o seu conservadorismo vai fazê-lo por certo reunir-se de personalidades que o acompanharão nesse seu intento.


Lembro-me da conversa que em 4 de Junho tive com um grupo de jovens promissores, na Amadora, a quem chamava jocosamente a Tuna de Coimbra e que me impressionaram pelas suas ideias bem determinadas sobre o País.

Recordo que um deles um tal António Salazar, não entendeu as garantias que eu lhe dera como suficientemente sólidas e decidira voltar para Coimbra, ainda que já nomeado pelo Cabeçadas para a pasta das Finanças


Ouvi dizer que um deles está agora com o Carmona no novo governo, os outros virão mais tarde tenho a certeza.

Pois minha amiga aqui estou na Terceira, segundo o Óscar me disse há que dar tempo para acalmar as hostes.

Ele não se esqueceu como fui fui recebido em Lisboa e do desfile da Vitória na Avenida da República a frente de 15.000 homens.


Minha cara amiga, espero que fique bem e quando quiser enviar-me notícias deste nosso querido Portugal, pode enviar-mas para a morada que incluo, por ser casa de pessoa amiga e de confiança

Um abraço cordial de


Manuel Gomes da Costa
General

Angra do Heroísmo, 1 de Agosto de 1926

(carta absolutamente ficcionada, que não os factos nelas aludidos)

14 de julho de 2008

Golpe militar a 28 de Maio


O almoço deste dia 30 de Maio, estava pesado, não porque o bacalhau à Gomes de Sá, que eu mandara a cozinheira Efigénia, prepara para esse dia ao almoço, fosse de condimentação pesada, mas porque o semblante da Severa Mourisca não agurava nada de bom, atendendo às notícias que eu acabara de lhe ler no O Século de hoje.

Estava excelente o bacalhau, que esse cozinheiro do Restaurante Lisbonense (na foto), havia criado e que segundo sabia se encontrava, bastante doente. A velha Efigénia se bem que minhota, há anos que viera para Lisboa e tinha servido nas melhores casa, pelo que não tinha dificuldade em confeccionar os pratos que eu lhe encomendava.

Não fora o caso deste bacalhau, já que a confecção é simples pois a sua receita tradicional propõe que o bacalhau seja cortado em pequenas lascas marinadas no leite por mais de uma hora. Assado no forno, com azeite, alho, cebola, acompanhando azeitonas pretas, salsa e ovos cozidos.

As consequências do golpe militar que sob a chefia de Gomes da Costa, se tinha iniciado em Braga no dia 28, tinham precipitado acontecimentos vários, desde a demissão do governo de António Maria da Silva, ao mesmo tempo que a guarnição militar de Lisboa, sob o comando de Mendes Cabeçadas, adere ao movimento de Gomes da Costa, com o apoio da polícia de Ferreira do Amaral.

Que não houvesse preocupação dizia eu à minha amiga Severa, era um movimento militar que tinha por objectivo restaurar a ordem pública e não tardaria a que o Bernardino Machado, nomeasse outros governo da confiança dos militares e tudo continuaria como dantes, ela que bem sabia que de Gomes da Costa se dizia que tinha cabeça de galinha e era sempre da opinião da última pessoa com quem falava.

Ela abanava a cabeça taciturna, dizia-me que desta vez SABIA, TINHA A CERTEZA, que esta revolta tinha chegado para ficar e que iria durar décadas, que passaríamos tempos de ditadura e os ideais republicanos e democráticos, postos em causa.

Não deixou de me perguntar sibilinamente se a escolha do almoço não fora uma subtil homenagem minha á revolta do outro Gomes. Descansei-a quanto ás minhas intenções políticas, já que das suas, fiquei sem dúvidas.

Dizia-me ela que não duvidasse das suas capacidades divinatórias e que me lembrasse futuramente que não foi por acaso, que a revolta de Gomes da Costa, havia começado em Braga, já que nessa altura também ali decorria o Congresso Mariano, e essa dupla entre a força e a Virgem Maria, chegara para durar.

Lembrei-me que há pouco tempo, havia elogiado a capacidade cívica organizativa dos portugueses, onde as pessoas participavam activamente , embora também se notassem alguns sinais de cansaço, pelas dificuldades mas sobretudo pela incapacidade política de encontrarem ponto de concórdia mínimos que pudessem suprir as dificuldades que o País atravessa.

Constava-se que Bernardino Machado se havia demitido e entregue o poder nas mãos de Mendes Cabeçadas novo chefe do executivo, que ele próprio havia empossado.

Para desanuviar o ambiente no fim do almoço, propus-lhe que passássemos à biblioteca, para ouvir um pouco da Turandot que estreara no Scala em Abril passado

Casa Comum, 31 de Maio de 1926

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