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27 de dezembro de 2009

A invasão da União Soviética e o sonso nacional



Casa Comum, 31 de Outubro de 1941

Amiga Severa

Estamos a assistir à internacionalização da guerra europeia, quando a Alemanha Nazi, no dia 22 de junho de 1941 com uma força de 150 divisões do exército iniciou a invasão da União Soviética, rompendo o pacto de não-agressão entre os dois países, assinado em 1939 por Hitler e Stalin e que na altura tanta confusão me fez tendo-lhe chamado na altura uma monstruosidade ideológica.

Numa entrevista, publicada numa revista Estaline justificou-se assim

VEJA - Não terá sido então um erro da parte do senhor colocar a União Soviética em aliança com figuras desse naipe, assinando um pacto de não-agressão com a Alemanha nazista?
Stalin - Claro que não! Um pacto de não-agressão é um pacto de paz entre dois países. Foi exatamente isso que a Alemanha nos propôs em 1939. Acredito que nenhum país pacífico poderia recusar um tratado de paz com um país vizinho, mesmo que esse país seja liderado por monstros e canibais como Hitler e Ribbentrop. Isso, claro, sob a condição indispensável que esse tratado de paz não ameaçasse, direta ou indiretamente, a integridade territorial, a independência e a honra do país amante da paz.

Em dois meses os alemães, chegaram a Moscovo, tendo tomado já considerável parcela do território soviético. Ao sul, toda a Ucrânia e a sua capital, Kiev, e ao norte, Leningrado continua cercada.

No passado dia 2 de Outubro, um grupo sob o comando de Fedor von Bock lançou o seu ataque contra Moscovo, tal ataque recebeu o nome de código Operação Typhoon. Mesmo sofrendo pesadas baixas as forças soviéticas continuaram a lutar, agora sob o comando do general Georgy Zhukov.



Em Portugal faz-se sentir com alguma intensidade o apoio de alguns meios germanófilos e anticomunistas à invasão alemã. A destacar o apoio da Legião Portuguesa, organização declaradamente afecta à causa alemã, esta invasão da União Soviética pelos alemães que provoca uma assunção clara da Legião Portuguesa do seu germanofilismo.

Pela primeira vez, é tornada pública uma posição de claro alinhamento pela luta desenvolvida pelos nazis, através de uma ordem de serviço publicada no dia 10 de Julho de 1941 pela Junta Central da Legião Portuguesa no Diário de Notícias.

Contra Moscovo, vencer (diziam eles) não podem ficar indiferentes à campanha libertadora da opressão vermelha nenhuma nação, nenhum povo, nenhum nacionalismo; contra Moscovo alinharão os que querem a ordem; marcharão as legiões de todo o mundo, os exércitos defensores digníssimos das pátrias. O legionário português como nacionalista e cristão é, acima de tudo, anticomunista.

Depois disto, mesmo assim o Estado Novo, continua oficialmente a proclamar o seu não alinhamento, mas que lata dr. Salazar, a isso chama-se popularmente o estilo dum verdadeiro jesuíta, sonso e matreiro.

Mais importante contudo é a notícia que continua a resistir-se a mais uma onda de repressão a propósito da inopinada decisão do governo de aumentar as propinas, que desencadeou um movimento de revolta na Universidade de Coimbra. Como a repressão e a força, tem o condão de acirrar os ânimos ai está a criação dum vasto movimento de poetas, que se apelidam de o Novo Cancioneiro, titulo geral de obras em que poetas jovens, alguns deles parcialmente ligados à Presença, tem vindo a publicar as suas composições em volumes separados.

O primeiro foi a Terra de Fernando Namora, seguido pelos Poemas de Mário Dionísio, Sol de Agosto de João José Cochofel, Aviso à Navegação de Joaquim Namorado os Poemas de Alvaro Feijó e a Planicie de Manuel da Fonseca.

Tudo isto lhe recomendo minha cara amiga e que não deixe de ler também outro livro chamado Esteiros, o nome de um romance integrado numa estética nova mas que aborda o tema do trabalho infantil (coisa banal em Portugal) na vila de Alhandra, cujo autor é Soeiro Pereira Gomes.

O convite musical para hoje é uma homenagem ao martirizado povo soviético, personalizado por Shostakovich na sua 6ª Sinfonia, estreada há dois anos

2 de dezembro de 2009

Mais uma festa surpresa ao patrão

Casa Comum,30 de Abril de 1941
Cara amiga

Não lhe mandei os parabéns, mas Salazar fez anteontem 52 anos e como sempre a UN e as outras estruturas estatais, organizaram em Lisboa no Terreiro do Paço a habitual manifestação "espontânea" popular que serve simultaneamente para das os parabéns ao chefe e para agradecer o que faz por Portugal. a cantilena habitual.

Desta vez os ingleses deram uma mãozinha para abrilhantar a festa, porque no dia 19 de Abril a Universidade de Oxford decidiu atribuir-lhe o título de Doutor honoris causa, que decorreu na Sala do Senado da Universidade de Coimbra.

Só o facto de estar em guerra pode justificar esta homenagem por parte dos ingleses, a quem convém a manutenção da atitude de neutralidade "activa" por parte de Salazar, pois doutro modo não se pode entender a atribuição desta distinção ao chefe dum governo dum regime tipo fascista.

Enfim coisas que o violento ciclone de 15 de Fevereiro afinal não varreu. os jornais têm ilustrado bem o que foi aquele dia com fotos documentando a fúria do ciclone e os seus estragos que abrangiam praticamente todo o país. Casas derrubadas, paredes rachadas, postes de alta tensão e telefónicos por terra, arvores centenárias arrancadas pela raiz, barcos afundados, automóveis virados, cheias e inundações por todo o lado, comunicações ferroviárias e rodoviárias cortadas , só o Ditador permanece no seu posto.

Hitchcock ganhou o oscar deste ano com o filme Rebecca, com Laurence Olivier e Joan Fontaine




que por acaso era o meu favorito

Os ataques da aviação alemã que se fazem sentir deste Setembro do ano passado, tem sido cada vez mais violentos, mas este do dia 19 de abril parece ter sido o mais intenso muito embora em guerra nunca se possa saber o que nos reserva o dia de amanhã.



O meu convite musical de hoje é para Prokofiev e o seu violino concerto nº2

10 de novembro de 2009

Franco planeia invadir-nos



Casa Comum, 30 de Novembro de 1940

Cara amiga

Um grande amigo espanhol, fez-me uma revelação espantosa, pediu-me que apenas a partilhasse consigo, pois é um grande admirador seu, já que compartilham muita coisa, em especial o gosto por Brahms.

Disse-me ele que num documento produzido pelo estado-maior espanhol, Franco disse "Decidi preparar a invasão de Portugal, com o objectivo de ocupar Lisboa e o resto da costa portuguesa.


Franco prepara-se pois, para rasgar o tratado de amizade e não agressão entre Portugal e Espanha, assinado em Março do ano passado.E estão bem armados pois a Alemanha e a Itália, armou-os com tecnologia moderna de guerra. e nós não poderemos contar com o apoio britânico, que têm outras prioridades.

A entrada em Portugal será a tentativa de "remediar um erro". completando um velho desiderato das elites espanholas", que passava por retomar o poder em Portugal, perdido em 1640.

"Ninguém pode deixar de dar conta ao olhar para o mapa da Europa que, geograficamente falando, Portugal na realidade não tem o direito de existir. Tem apenas uma justificação moral e política para a sua independência pelos seus quase 800 anos de existência", foi isso que Serrano Suñer, ministro dos Estrangeiros terá dito ao homólogo Joachim von Ribbentrop.

Como vê minha querida nós a festejar no Mundo Português e os nuetros hermanos a preparar o nosso fim, esperemos que Hitler não concorde com isso e que não tenhamos que vir a agradecer a nossa independência a esse criminoso.

Foi um bocadinho complicado por a Nau Portugal a navegar. Abalroou mas acabou por se endireitar e lá chegou a Belém, um pouco assim como todos nós, de tombo em tombo que lá vamos andando, como diz o outro.



Falei nisso e lembrei-me, que o Piano Concerto nº2 de Brahms é o seu favorito, vamos ouvi-lo ?

31 de outubro de 2009

Arbeit macht frei


Casa Comum, 15 de Junho de 1940

Cara amiga

Arbeit macht frei, é o letreiro que se pode ler à porta de Auschwitz inaugurado em 20 de Maio de 1940, a partir de barracas de tijolo do exército polaco, para abrigar prisioneiros, que dizem vai ser utilizado para internar membros da resistência e intelectuais polacos. Dizem-me que campos de concentração de prisioneiros é normal de tempo de guerra e que as tropas aliadas também os têm. Não nego que seja verdade, mas a ambos exijo, que os prisioneiros sejam tratados com a dignidade que a convenção de Genebra impõe. Certo que já vamos na terceira,esta assinada em 1929 e que proclama
  • a obrigação de tratar os prisioneiros humanamente, sendo a tortura e quaisquer actos de pressão física ou psicológica proibidos.
  • obrigações sanitárias, seja ao nível da higiene ou da alimentação.
  • o respeito pela religião dos prisioneiros.
Espero que neste caso os alemães também respeitem essa convenção, mas não deixo de ficar apreensivo, com o letreiro da porta de entrada, lembrando que em exagero, cargas de trabalho desumanas, não são formas de educação, mas actos puros de tortura.

Paris foi bombardeada e na sequência do avanço alemão, a noticia alarmante que ontem Paris, foi tomada pelas tropas nazis que ali entraram em triunfo.O centro da Europa, a capital cultural dos homens livres foi assaltada pelas forças da opressão.



Derrotado e completamente aniquilado o exército aliado, foi pungentemente retirado em Dunquerque, entre os dias 28 de Maio e 4 de Junho, fortemente castigado pela tropas alemãs, conseguiram, apesar de tudo resgatar 120.000 homens em 5 dias.



Por cá tudo é paz e tranquilidade, tempo de festejos, para comemorar os 800 da fundação de Portugal e dos 260 da Restauração. Assim acontecerá a 23 de Junho próximo, quando Salazar e o Ministro das Obras Públicas Duarte Pacheco. cortarem a fita. Inúmeros pavilhões temáticos, dizem, abarcando as colónias e a presença dum Pavilhão do Brasil, único país estrangeiro convidado.

Até estou a pensar convidar a minha amiga a que visitemos a Exposição do Mundo Português, em conjunto. Dir-me-á depois se aceita.

Por hoje fiquemos-nos pela 1ª Sinfonia de Schubert.

22 de outubro de 2009

Concordata em tempo guerra

Casa Comum, 30 de Maio de 1940

Amiga Severa

Concordatas já aconteceram muitas o longo da História, pelo menos há 8 séculos desde a Concordata de Worms. Duma forma geral, acontecem para repor direitos dos católicos e da Igreja, em Estados, onde a Santa Sé se julga lesada.

Assim acontecia por cá desde 1910, quando a República foi implantada, cujos dirigentes adoptaram uma série de medidas anti-clericais, como por exemplo a Lei da Separação do Estado da Igreja, de 20 de Abril, de 1911 a proibição do culto público e a nacionalização dos bens da Igreja.

Admito que tenham sido cometidos alguns excessos, que sempre podem acontecer, quando se tira a tampa numa sociedade que vive séculos sobre pressão. As relações com a Santa Sé tinham sido então suspensas, por aquela entidade, até à queda da República, concretamente até ao dia 6 de Julho de 1928, quando os dirigentes da Ditadura militar decretaram a reposição da paz entre o Estado e a Igreja Católica

Com a subida de Salazar ao poder e a implantação do Estado Novo, iniciou-se um processo negocial que culminou com a assinatura de uma Concordata entre Portugal e a Santa Sé, no dia 7 de Maio de 1940, que viria oficializar as relações entre as duas partes.

Pois é assim cara amiga, tudo se conjuga, para o regresso da Santa Sé e tal como no reinado de D.Maria I, retomaram por certo todos os seus privilégios, até porque embora a Constituição de 1933 consagre o princípio da liberdade de culto e de religião, não deixe de afirmar que a Igreja Católica é a religião da Nação portuguesa, por isso só ela que tem o direito de ensinar nas escolas públicas.

Já sabemos o que isto quer dizer em linguagem Salazar-Cerejeira.

O avanço alemão na Europa continua a processar-se a passos largos. Em França depois da tomada de Amiens no dia 20 passado, avançam em direcção a Dunquerque, empurrando as tropas inglesas para o Atlântico.A Holanda já se rendeu, durou 10 dias a sua resistência e a Bélgica fez o mesmo ante-ontem.

Em Londres correm rumores de que pode haver um Golpe de Estado em Portugal, para derrubar Salazar e colocar no poder um governo favorável à Alemanha e à Italia. Francamente não percebo a intenção deste rumor. como se começam a preparar na Grã Bretanha planos para a tomada das ilhas dos Açores, e de Cabo Verde, talvez o mesmo se justifique para forçar a intenção britânica de intervenção em Portugal.

Você conhece a minha paixão pelos Piano concertos, razão porque o meu convite de hoje é para ouvirmos o único de Alexander Scriabin, esse magnífico compositor russo, de origem aristocrática, que muito embora tenha escrito muitas peças para piano, este foi o seu único concerto para piano e orquestra.

16 de outubro de 2009

O Portugal dos pequenitos


Casa Comum, 30 de Abril de 1940

Cara amiga Severa

Numa época de guerra intensa, Portugal busca o acto piedoso duma beatificação, a de D. Nuno Álvares Pereira, que Cerejeira intenta em Roma conseguir, neste ano em que se comemora os 300 anos da Restauração.

O plano é ambicioso e visa trazer Pio XII a Portugal, para presidir pessoalmente a esse acto. Que excelente propaganda para o regime, uma visita Papal, em plena guerra.


Cerejeira completa o projecto, organizando um plano de oração nacional, para promover a obtenção de milagres que pudessem ser atribuídos ao Condestável. Consta-se que os bispos reunidos em Fátima, também em voto secreto, prometeram que, caso Portugal não entre na Segunda Guerra Mundial, seria construído um santuário.

Fico por saber se se tratam de questões de Fé.


Quase pronto para ser inaugurado, ouvi dizer que em Junho próximo, será um parque temático, projectado pelo arquitecto Cassiano Branco e construído por iniciativa do Professor Bissaia Barreto, chamado Portugal dos Pequenitos, em Coimbra cuja construção se iniciou em 1938, e que apresenta construções em escala reduzida representando monumentos e outros elementos sobre a arquitectura e a História de Portugal.

Pois é assim que vamos por cá andando, entre preces, orações promessas e obras de propaganda, como esta que acabei de referir e a do Mundo Português, que chegará em breve, enquanto as carências e privações há muito aqui já chegaram e ao que parece para ficar.

Escrevo-lhe hoje, no dia seguinte à estreia do João Ratão, um novo filme de Brun do Canto, que revela sempre os mesmos tiques e as mesma situações do pobrezinho e feliz, que ao gosto de Salazar e seu apaniguados, enfeita o nosso panorama "cultural".



Os lamentáveis reflexos do pacto germano-soviético, veio alimentar os antigos desejos expansionistas sobre a Finlândia, com a justificação da defesa de Leninegrado Começou com uma ofensiva soviética em 30 de Novembro de 1939, três meses depois da invasão alemã da Polónia e o início da II Guerra Mundial, e terminou em 13 de Março de 1940 com o Tratado de Paz de Moscovo. A Liga das Nações, considerado o ataque ilegal, acabou por expulsar a União Soviética daquela Liga.

O convite final de hoje é para que revisitemos Brahms para ouvir o seu Piano trio nº1, tenhamos sempre a música como contra-ponto às amarguras da vida.

5 de outubro de 2009

Quase tudo o vento levou



Casa Comum, 20 de Dezembro de 1939
Cara amiga


Podíamos minha cara amiga, estar hoje a festejar com champagne, num jantar que teria todo o gosto em a convidar, no Tavares Rico, para juntos festejar a morte de Hitler, no caso do plano Valquíria ter sido bem sucedido.

Gizado por alguns militares que, descontentes com a política de Hitler se uniram para tentar matá-lo.
Quem liderava o plano era o Coronel Claus Von Stauffenberg. que pretendia levar para uma reunião de costume, onde se fazia a análise da situação da guerra, duas bombas inglesas numa maleta.

Tentaria ficar o mais próximo possível de Hitler e depois de acionadas as bombas, teriam cerca de 15 minutos para saír do local, antes da explosão.

Se o plano desse certo, a informação da morte de Hitler deveria ser passada para Berlin, para que o QG fosse isolado.

Uma antecipação ao horário da reunião, perturbou a armação do duplo engenho explosivo o que acabou fazendo com que ele não tivesse tempo de armar a segunda bomba, que ao explodir e porque a mudança de local dum bunker, para uma sala aberta, alterou as condições de impacto, não tenha obtido o efeito pretendido, causar a morte do ditador, que acabou por escapar apenas com ferimentos ligeiros.

Adiemos pois a comemoração, enquanto infelizmente a guerra continua.

Em primeira mão lhe falo dum filme de Vitor Fleming, que me contaram estreou há dias em Atlanta e se aguarda a estreia em Lisboa com muita expectativa.

As filmagens principais começaram em 26 de Janeiro de 1939 e terminaram 5 meses depois, em 27 de Junho. Este filme é, talvez, o melhor exemplo de como o cinema é um processo colectivo, já que teve vários realizadores. George Cukor foi o primeiro a trabalhar no filme, mas foi substituído após três semanas de filmagens porque Clark Gable não estava satisfeito com o seu trabalho. Cukor foi substituido por Victor Fleming, que realizou 45% do filme e é creditado como realizador na ficha técnica (Cukor continuou a trabalhar no filme como “tutor” de Leigh e de Havilland). A meio das filmagens Fleming teve um esgotamento e foi substituido, durante duas semanas, por Sam Wood.


Hoje vamos ouvir Shosyakovitch na sinfonia nº12 em ré menor, se calhar um bocado bolchevista para o seu gosto, mas paciência, espero que o seu gosto pela música se consiga abstrair de certos aspectos laterais.

A música de Wagner será eterna, mesmo sendo a preferida de Hitler

14 de setembro de 2009

Heinrich Himmler e a Fonte da Vida


Casa Comum, 30 de Setembro de 1939

Meu amigo

Muito embora eu saiba, que o meu caro amigo, não é o que se pode chamar um comunista, considero e julgo não me enganar, que tem por eles enorme simpatia, seja pela luta de resistência que desenvolvem em Portugal, contra a ditadura salazarista, seja por qualquer outra razão que me escape.

Aliás tive oportunidade de ler o seu descontentamento na última missiva que me mandou, sobre o tratado assinado entre a Alemanha nazi e a "sua" União Soviética, a que aliás chamou monstruosidade ideológica e que esta partilha da Polónia entre as duas potências, bem esclarece.

Heinrich Himmler o chefe dos SS e uma das figuras mais poderosas da Alemanha nazi emitiu uma directiva a que chamou Lebensborn (Fonte da vida) e que tem como objectivo o apuramento da raça ariana, a superior, no conceito deles mas sobretudo promover o aumento da natalidade.

Já se pode falar em aliados, para classificar as forças que se opõe ao desvario nazi, porque tanto o Canadá como a África do Sul também declararam guerra à Alemanha, vamos ver em que consiste essa declaração de guerra.

Guerra que também se desenvolve, já com enorme violência no Atlântico, porque a força naval Alemã comandada por um grande especialista em submarinos, Doenitz têm conseguido dizimar os navios aliados, que muito embora navegando em comboios, não consegue fazer frente à táctica alemã Rudeltaktik (matilha), que era como o seu nome indica, um ataque conjunto submarino aos referidos combóios.

A humilhação suprema que Hitler impõe aos judeus, obrigando-os a usar a estrela de David de cor amarela, que deveria obrigatoriamente ser ostentada pelos judeus em público como um sinal distintivo de sua condição judaica e para serem considerados inferiores, é um insulto ao povo judaico e quando assim é, não é crível pensar-se que exista esperança de vida a esse povo em solo alemão ou nos territórios ocupados

Hoje sou eu que presenteio o meu amigo com o primeiro disco dum jovem cantor americano de ascendência italiana chamado Francis Albert Sinatra, que agora apareceu com este seu primeiro trabalho chamado From the bottom of my heart.


1 de setembro de 2009

Uma monstruosidade ideológica


Casa Comum, 9 de Setembro de 1939

Cara amiga

Todas as nuvens negras que cobriam o céu da Europa confirmaram o desenlace que se adivinhava. Coma a declaração de guerra da França e da Grá-Bretanha à Alemanha, estão oficialmente abertas as hostilidades no continente europeu.

O que se espera deste conflito é algo de muito sangrento e por certo será mais terrível ainda que o conflito mundial anterior e que terminou em 1918, já que os meios aos dispor são mais eficazes que eram nesse tempo, mas humanidade não aprende e vamos ver o que nos vai trazer a vileza do pequeno austríaco Adolfo (democraticamente eleito diga-se) e do balofo Benito.

Foi no passado dia 1 de Setembro às 4 e 40 da manhã , que foram disparados os primeiros tiros com que o couraçado alemão Schleswig Holstein alvejou as posições polacas, iniciando a agressão alemã à Polónia.

Esta invasão deu sequência ao plano nazi do espaço vital expansionista alemão, onde a exigência feita à Polónia e recusada do corredor de Dantzig, servia apenas como pretexto para o objectivo que pretendiam, a guerra.

A preocupação de Hitler, tem apenas um nome chama-se União Soviética e essa potência mundial foi manietada, pela estratégia de Ribbentrop, o ministro dos Estrangeiros de Hitler, através do pacto que traçou com Molotov, o seu homónimo soviético .Um pacto de não agressão, que me deixou de boca aberta por considerar no mínimo uma monstruosidade ideológica, uma aliança "impossível" entre inimigos irredutíveis o nazismo e o bolchevismo.

Esse "crime" cometido pela União soviética, deixaria a Polónia isolada, não fosse a declaração de guerra anunciada pela França e pela Grã-Bretanho, potências europeias que Hitler despreza e que realmente a tibieza da diplomacia nos últimos tempos não credibiliza.

Que irá acontecer ?. Vamos aguardar, mas um coisa sabemos, Salazar, muito lesto já veio anunciar a neutralidade de Portugal. Se a neutralidade anunciada corresponder aos mesmos parâmetros durante a guerra civi espanhola, vamos balançar entre as simpatias fascistóides do ditador e os tratados de amizade com o velho aliado.

O presidente Carmona, anda lá pelas Áfricas em viagem. Moçambique, Angola e África do Sul, estando prevista a sua chegada a Lisboa no próximo dia 12.

Tenho uma bobine com algumas imagens, que mostram a desproporção de forças entre o poderoso exército alemão e a debilidade das forças polacas, mais a sua "poderosa" cavalaria.



Hoje dou-lhe a conhecer um novo compositor que em 1922 estreou a sua Sinfonia das Cores e que lhe recomendo vivamente

14 de agosto de 2009

As rosas negras da ditadura desabrocham em Maio



Casa Comum, 31 de Maio de 1939

Cara amiga

Bem à americana, é a forma como eles se impõe ao mundo, quero dizer que nada melhor para reanimar a economia e reafirmar a saída da crise iniciada em 29, que organizar uma grande exposição mundial em Nova Iorque que foi planeada durante 4 anos e cujo os objectivos também passam por levantar o espírito americano, tendo sido escolhida a data do 150º aniversário de George Washington como presidente dos Estado Unidos.

Lá estiveram a trabalhar, os elementos da geração de ouro, reconheça-se, das artes portuguesas deste nosso tempo Bernardo Marques, Carlos Botelho, Kradolfer, Thomaz Melo,José Rocha, Emmerico Nunes, conhecida como a equipa do António Ferro e que já havia trabalhado na Exposição de Paris em 1937.

É difícil exigir aos artistas, que tão poucas oportunidades têm em Portugal para desenvolver a sua arte, que introduzam conceitos políticos nas poucas oportunidades que lhe surgem, mas custa-me constatar que não se demarcam dos eventos de propaganda salazarenta.

Canto da Maia, um dos mais notáveis artistas dos nosso tempo, escultor com estatuto internacional executou para essa exposição um baixo relevo a que chamou a Família em Portugal, inspirado nos conceitos salazarentos da família pobrezinha mas honrada e feliz, que obtém grande êxito nesse evento.

Recordo-lhe uma escultura desse notável artista a que chamou Beni soit le fruit de tes entrailles, de 1922.

Por esta nossa Lisboa o mês de Maio em especial, é o mês dos friut fascistóides a saber , o congresso da MP entre 21 e 28 de Maio, o respectivo acampamento nacional, já o III calcule-se, macho por natureza e o salão de Estética da MP feminina , que estética não é coisa de homem.

Uma vez mais uma comemoração do 28 de Maio, com o respectivo desfile na Avenida da Liberdade (estranha contradição, quando há tanta falta dela), e o habitual discurso de circunstância do ditador desta feita focando o "aliciante" tema "A Legião-expressão da consciência moral da Nação".

Ia me esquecendo das habituais medalhinhas de circunstâncias aos principais servidores do Estado Novo, desta feita calhou a Botelho Moniz, Mário Pessoa e a David Neto, será possível que alguma desta gente com valor, não venha um dia a revoltar-se contra o ditador ?


Eu deixo a minha homenagem pela via do swing de Oscar Aleman e o seu quinteto de jazz, no tema Donkey Serenade.



O convite musical é para o Piano Concerto nº 1 de Prokofiev, escrito antes da sua saída da Rússia, por causa da revolução bolchevique, que hoje muito o critica, mesmo depois do seu regresso à pátria em 1934. Esta peça é de 1912, portanto imune às criticas da nomenclatura soviética.


7 de julho de 2009

O Pacto Ibérico ... amigos para siempre

Casa Comum, 30 de Abril de 1939

Cra amiga


Pois infelizmente acertei, depois da conquista de Barcelona, era evidente que a guerra civil de Espanha, havia terminado a marcha sobre Madrid foi um pró-forma para as forças nacionalistas de Francisco Franco e assim oficialmente a 1 de Abril, acabou formalmente aquela guerra, com a vitória das forças anti-democráticas que não aceitaram a vitória nas urnas dos republicanos. Depois de mais de 500.000 de mortos,( ainda estão por se obterem números exactos ) terminou o conflito, ficando para trás uma Espanha arrasada, dilacerada pela mais horrível das guerras a civil, no sentido em que se destroem famílias inteiras, combatendo-se ferozmente entre elas.


Antes do final dessa guerra, já Portugal e Espanha, trataram de rubricar um acordo de não agressão, a que chamaram Pacto Ibérico com a validade de 10 anos, tacitamente revogado, caso nenhuma das partes não o denuncie com seis meses de antecedência. No fundo em 6 artigos está definido um tratado de amizade e não agressão, que assinala afinal a política que Salazar já seguira em toda a guerra civil.

Nos tempos que correm a diplomacia movimenta-se intensamente, um prenúncio de guerra que se avizinha e desta vez por certo, com grandes proporções e por certo generalizada. A Alemanha e o Japão, assinaram um tratado em 1936 a que chamaram pacto Anticomintern e que essencialmente se opunha à Internacional Comunista (Comintern) e naturalmente à União Soviética em particular. Agora pretendem alargar esse pacto a outros Países, envolvendo a Itália, (como seria de esperar) e a Espanha franquista.

Salazar foi convidado a aderir, mas não aceitou, pelo menos coerência ele têm, anti-comunista primário ele é, mas individualista também, prefere só e neste caso a mal acompanhado (digo eu). A coerência que referi, é um facto pelo menos no que decorre de afirmação de pretender Portugal, rigorosamente neutral.

Pergunto-me como vai evoluir a situação na Europa ? Hitler perante a passividade, inglesa e francesa, vai prosseguindo a sua ameaça bélica, "decretou" o fim da Checoslováquia, reclamando para si os territórios da Boémia e da Morávia e a Itália invade a Albânia, anexando esse País em 7 deste mês, uma semana depois do desmembramento da Checoslováquia.

Já sei que a minha amiga, vai partir dentro de dias para Nova Yorque para visitar a Feira Mundial, que foi hoje inaugurada, espero que me mande notícias desse evento que tanto quanto sei contará com um pavilhão de Portugal.

A serenata sem esperança, que aqui lhe deixou cantada pela jovem revelação francesa deste ano Lucienne Delyle. Apenas com 23 anos, está fazendo um grande êxito



O convite musical é para a 1ª Sinfonia de Sibelius.




29 de junho de 2009

Habemus Papam


Casa Comum, 15 de Março de 1939

Cara amiga


Desde o passado dia 2 que temos um novo Papa. Exactamente no dia em que fez 63 anos Eugénio Pacelli é eleito Papa com o nome de Pio XII. Um romano, como já não acontecia desde o século 18,após a morte de Bento XIII em 1730. É um nobre italiano. muito culto (três licenciaturas), mas de saúde precária, tanto assim que nos tempos de seminário, foi autorizado a pernoitar em casa de seus pais.

De qualquer forma, esta eleição pelos tempo que correm, onde se sentem no ar os ventos da guerra, as suas responsabilidades são acrescidas, porque lhe cumpre a tarefa de a tentar evitar, como se depreende das suas palavras proferida numa mensagem radiofónia, logo no dia seguinte à sua eleição "Nestas ansiosas horas, enquanto muitas dificuldades parecem se opor à realização da verdadeira paz, que é a mais profunda aspiração de todos, levamos nossa suplica a Deus, uma oração especial por todos aqueles que têm a maior honra e o enorme peso de guiar o povo no caminho da prosperidade e do progresso civil".

Será que os srs Hitler e Mussolini ouvirão as suas preces ? O certo é que os sintomas da guerra se intensificam, como se prova pela proclamação recíproca entre os governos francês e britânico , de cooperação em caso de guerra.

O reaccionário Franco, consumou a sua vitória, na sequência da conquista de Barcelona, forçando as forças republicanas a procurar refugio em França, mas a verdade é que o reconhecimento pela França e pela Grã-Bretanha da Junta de Burgos como representante legítima do estado espanhol correspondeu à consolidação da vitória de Francisco Franco. A França acabou por nomear o general Petain como embaixador, no passado dia 2 de Março. é óbvio que a guerra civíl de Espanha acabou neste momento.

E nós por cá ? Apetece perguntar. Minha amiga, nós por cá tudo bem.

Par além da intenção manifestado por Salazar de se manter "rigorosamente neutral", em relação a esses conflitos, há o objectivo de reforçar a imagem de apoio popular, ao regime e à sua política corporativa, promovendo-se no passado dia 26 de Fevereiro no Terreiro do Paço, uma manifestação de associados dos Sindicatos Nacionais, Casas do Povo e dos Pescadores.

Fui á estreia ao Tivoli do filme de "Aldeia da Roupa Branca" de Chianca de Garcia, com Beatriz Costa,Manuel Santos Carvalho, José Amaro, Óscar de Lemos, Elvira Velez entre outros. O sabor do enredo é popular e divertido, mas não deixo de referir que também espelha, o atraso da sociedade portuguesa, é esta mentalidade pacóvia e tacanha que a Salazar, não convém alterar, porque afinal também ele a têm.

O convite musical para hoje é para Mendelssohn para ouvir a sua 2ª Sinfonia.




16 de junho de 2009

Aqui é Portugal

Casa Comum, 31 de Agosto de 1938

Cara amiga

Não costumo iniciar o nosso diálogo, pela música, mas hoje apetece-me fazer uma ronda pela últimas novidades aqui chegadas, como deste magnífico disco de Francisco Canaro, um trecho da Invídia. que por acaso é uma coisa que se cultiva muito por cá



Também me chegou à mão este magnífico J attendrai de Tino Rossi, que acho a minha amiga também gostará



Quanto ao Carmona que desembarcou ontem no Terreiro do Paço de regresso de uma deslocação a Angola e São Tomé e Príncipe, Viajou no paquete Angola, a bordo do qual o general presidente fez um balanço da sua visita. "Agradeço hoje à Providência o ter-me guardado para esta jornada maravilhosa".

Foi jornada da repetição até à exaustão, do slogam Aqui é Portugal, uma "Pátria em tamanho natural, duma Pátria em que se confundem todas as raças e todos os séculos" como se lia na primeira página do Diário de Notícias de hoje.

Como se todos os angolanos não brancos, não soubessem, por sentirem na pele, que isso é mentira. Carmona partiu a 11 de Julho, portanto foi mês e meio do Aqui é Portugal.

Vamos ouvir a fantástica 3ª Sinfonia de Mahler ? É uma boa proposta para estes tempos de Verão

5 de junho de 2009

Mate-se já o enciclopedismo racionalista

Casa Comum, 30 de Junho de 1938

Amiga Severa

Já falamos algumas vezes no caminho político de Salazar e do seu projecto, após a Constituição de 1933 e da criação do Estado Novo, seguindo-se a "estatização" de toda a sociedade, tendo por base a "nova ideologia".

Chegou a vez da educação, nada como começar por mudar o nome passando a chamar Ministério da Educação ao antigo da Instrução Pública, cujo último ministro foi o Eusébio da Encarnação, antes do actual "reformador" António Carneiro Pacheco, que é o grande responsável pela condução política de educação do povo segundo a fórmula “As reformas do ensino, feitas pelo Estado Novo, acabam com o estéril enciclopedismo racionalista, fatal para a saúde moral da criança. Servem de base à preparação de homens robustos no físico e no espírito", dizem eles.

O nosso homem é um antigo talassa, vira casacas e antigo ministro durante o sidonismo, esteve ligado à fundação da Mocidade Portuguesa, que não fique a pensar minha amiga, ser apenas uma coisa de homens, porque o Carneiro Pacheco, já se lembrou de si e desde o ano passado já existe a Mocidade Portuguesa Feminina.

A partir de agora e por decreto salazarista, está iniciada oficialmente a guerra à cultura, cujo fundamento das sociedades livres modernas é exactamente o tal enciclopedismo racionalista, apontado agora a dedo como pernicioso, pelo Estado Novo.

Também em Abril passado, foi reconhecido oficialmente o apoio à Junta de Burgos de Francisco Franco, no discurso de Salazar na sessão solene de encerramento da I legislatura da Assembleia Nacional, o novo "solar dos " Ditadura.

Não sei se vem a propósito, mas em tempo de guerras de fascismos, uns mais violentos, outros igualmente maléficos, mas beatos e dissimulados, penso que vale a pena mostrar este pequeno filme de Walt Disney, estreado este ano e que se chama Ferdinand the bull, uma ficção deliciosa, mas utópica dum Ferdinand, que na realidade teria sido feito em bifes.




A referência musical de hoje é um regresso aos meus favoritos piano concerto, hoje é o 5º de Camille Saint-Saens.


31 de maio de 2009

O prisioneiro pessoal do sr.Adolfo




Casa Comum, 31 de Maio de 1938
Cara amiga

Fazendo de André Gide, poderei perguntar-lhe "Quem é este novo Jean Paul ?", referindo um novo nome das letras francesa que dá pelo nome de Sartre, o tal Jean Paul, a propósito dum livro seu chamado a Náusea, onde nos fala de Antoine Roquentin, um historiador letrado e viajado, que chega à cidade de Bouville, (em tradução livre a cidade da lama), para escrever uma biografia e acaba por fazer uma análise violenta à nossa sociedade burguesa, a mim a si e a todos nós.

Diga-se em rodapé muito mais critica à sociedade dele a francesa, que à nossa, essencialmente pacóvia e retrógrada do Portugal de hoje
.

Este homem a continuar assim, vai por certo, sacudir o pensamento moderno, para já não falar, da sua própria vida privada e do seu casamento com Simone de Beauvoir, a quem ela trata por "meu pequeno ser", aludindo a pequena estatura física de Sartre.

Fala-se que ambos vivem a sua relação, sem partilharem o mesmo tecto, sendo ambos livres para outros amores. Tudo no pressuposto da liberdade.

Liberdade que os novos poderes emergentes na Europa próxima, detestam, isto a propósito do julgamento de Martin Niemöller na Alemanha de Hitler.

Trata-se dum pastor luterano, que se atreveu a contestar
a tirania do Adolfo, muito embora tenha em 1924 votado no partido hitleriano, após a subida destes ao poder, em 1933, Niemöller – então pároco em Berlim-Dahlem – entrou em conflito crescente com o novo governo.

Numa recepção na Chancelaria em Berlim, ele contestou o ditador pessoalmente. Segurando a sua mão fortemente disse-lhe: 'Sr. Chanceler, o senhor disse que devemos deixar em suas mãos o povo alemão, mas a responsabilidade pelo nosso povo foi posta na nossa consciência por alguém inteiramente diferente'.

Em Fevereiro deste ano. começou o seu julgamento diante do Tribunal Especial II em Berlim-Moabit, pondo fim a um longo processo de perseguições que culminaram com a sua prisão.

Segundo a acusação, Martin Niemöller teria criticado as medidas do governo nas suas pregações "de maneira ameaçadora para a paz pública", teria feito "declarações hostis e provocadoras" sobre alguns ministros do Reich e, com isto, transgredido o "parágrafo do Chanceler" e a "lei da perfídia".

A sentença foi de sete meses de prisão, bem como 2 mil marcos de multa.
Os juízes consideraram a pena como cumprida, em função do longo tempo de prisão preventiva. Niemöller deveria assim ter deixado a sala do tribunal como homem livre.

Para Hitler, no entanto, a sentença pareceu muito suave. Ele enviou o pastor como seu "
prisioneiro pessoal", para a prisão, até que lhe apeteça liberta-lo.

Todos os dias temos que falar em liberdade, ou melhor dizendo, na falta dela, muito embora por cá tudo aparente tranquilidade e paz, sob a benção do senhor da Calçada.

A festa do trabalho "nacionalizado e institucionalizada" a 1 de Maio, este ano foi em Viana do Castelo, o desfile naútico do Dia da Marinha foi no dia 5 e o acampamento nacional da Mocidade Portuguesa, são os eventos políticos do mês de Maio.

Por mim prefiro, fazer-lhe o convite para ouvirmos a 6ª Sinfonia de Mahler.

16 de maio de 2009

Anschluss invento do sargento Hitler


Casa Comum, 2 de Maio de 1938

Amiga Severa

É sempre demorada a concretização de projectos em Portugal, pois como o Dr.Salazar gosta de tudo controlar e é supinamente desconfiado,nada se faz que não demore uma eternidade.

Isto a propósito de em Março passado se ter inaugurado oficialmente o Parque Florestal de Monsanto, pelo presidente Óscar Carmona, que plantou a primeira árvore, dum projecto que agora foi concretizado mas que começou em 1934 por iniciativa do agora presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Duarte Pacheco.

Contudo passado 4 anos aí está plantada a primeira árvore, que não pode considerar-se demasiado, atendendo ao facto de ser necessário proceder a expropriações e muitas outras questões burocráticas. Nesta perspectiva não é demasiado tempo, contudo se se acrescentar que a ideia inicial partiu dum engenheiro silvicultor chamado João Maria de Magalhães que desde 1868, defendia este projecto, será então uma enormidade.

Informaram-me que no passado dia 27 de Março, vitimado por uma biliose anúrica sem qualquer assistência médica nem medicamentos, morreu no Tarrafal, Arnaldo Simões Januário, um barbeiro de Coimbra, militante anarquista, organizador dos sindicatos e da luta operária, na sua terra.Militante libertário da "União Anarquista Portuguesa". A sua morte põe termo a um lomgo historial de prisões, pelo menos desde 1927, na sequência da repressão sobre o movimento operário depois do 28 de Maio. Morreu no Tarrafal, menos dum ano depois de para lá ter sido enviado, cumprindo os 20 anos de prisão a que fora condenado, por ter afirmado, perante os seus carrascos que tomava inteira responsabilidade pela organização do Movimento Grevista, da Marinha Grande de 18 de Janeiro de 1934.

Adoraria festejar a primeira reunião do Conselho Académico, da recém fundada Academia Portuguesa de História, cujos fins são claramente definidos nos Estatutos, cujo texto refere tratar-se de uma «agremiação de especialistas que se dedicam à reconstituição documental e crítica do passado».

Seria, esta Academia, a legítima herdeira da mais antiga Academia Nacional – a Academia Real Portuguesa da História, fundada por D.João V, conforme Decreto de 8 de Dezembro de 1720, mas receio que os seus objectivos não sejam cumpridos, ou pior ainda que sejam colocados ao serviço da Ditadura, que também neste campo não deixará por certo de colocar a gloriosa história do nosso país, ao seu serviço.

Estou banzado minha querida, pelo silêncio das nações europeias, face ao desplante do sr.Hitler em anexar a Austria à Alemanha, em nome do seu famoso "Anschluss” e da necessidade de criação de espaço vital, para que possa cumprir o "sonho" de trazer todos os alemães para a Alemanha. o sargento Hitler ele também austríaco, cumpre-o agora, já que em 1935 não o conseguiu.

Até onde irão as tendência expansionista do senhor, mas pergunto até onde irá a complacência das nações livres europeias ?


Hoje só Beethoven me acalma, o meu convite vai para ouvirmos o Triple Concert.


11 de maio de 2009

Nódoa de sangue a alastrar no céu

Casa Comum, 10 de Fevereiro de 1938

Cara amiga

Não sei se soube mas no passado dia 25 de Janeiro a nossa gente lisboeta entrou em perfeita em histeria por causa duma aurora boreal, cujo aspecto avermelhado alastrava pelo céu, prenunciando para alguns o fim do Mundo.

A particularidade nacional, que se traduz, na necessidade, mesmo enfrentando todos os perigos, de ver melhor, essa obsessão de ver tudo fez com que, segundo relata o Diário de Notícias, "À porta da igreja da Estrela esteve para ser preso um indivíduo que pretendia arrombar a porta que dá para o zimbório, a fim de observar lá do alto o que se passava nas regiões celestes. O guarda e o sacristão tiveram de chamar a polícia, pois é proibida a subida ao zimbório depois do pôr do sol."

Ao que parece lá para a Meia Laranja muita gente se juntou mesmo em trajos sumários "aguardando com ansiedade o fim do mundo, de que supunham anúncio infalível aquela mancha vermelha, que se alastrara no céu estrelado como uma grande nódoa de sangue"

Foi assim que a "sarapanta", como chamam os pescadores do bacalhau à aurora boreal, habituados que estão a vê-la por terras da Terra Nova e Groenândia, semeou o pânico por todo o lado.

Não fossem os zunzuns que a contestação provocada em alguns sectores das Forças Armadas, pelas "reformas" introduzidas pela acção de Oliveira Salazar, poderia conduzir a um golpe militar contra o Estado Nove e ficaríamos a pensar que o facto da PSP, a GNR e Legião Portuguesa, terem sido colocadas em estado de alerta e poderíamos ser levados a concluir, que o objectivo fosse prender a D.Aurora Boreal.

Fui à estreia de mais um filme português, a Rosa do Adro de Chianca de Garcia, sempre com a esperança que comecemos a deixar de gatinhar e iniciemos o caminhar, no sentido de fazer melhor cinema. Fui ao Trindade no passado dia 3, e vi por lá gente habitual nesta coisas.

O filme contava com a linda e talentosa Maria Lalande(Rosa), o Tomás de Macedo(António) e o Oliveira Martins (Fernando), entre outros.




Também assistimos nos nossos dias, a uma crescente onda de nacionalismo na América Latina. Na Bolívia o ano passado um governo militar confiscou as propriedades da Standard Oil e no México os trabalhadores do petróleo pressionam o governo do presidente Cardenas também para a nacionalização.

Deixo-lhe a interpretação da Lucha Reys essa notável cantora mexicana, como exemplo, da tomada de consciência que os povos da América do Sul, estão atingindo no sentido de sacudir a pressão das forças imperialistas.

4 de maio de 2009

Um exército de bajuladores


Casa Comum, 30 de Dezembro de 1937

Cara amiga

O certo é que a nossa vida política, continua marcada por dois acontecimentos, a guerra cívil de Espanha e a consolidação da ditadura salazarenta e da consequente aliança com o nacionalismo espanhol.

Bem que fora de portas, se tenta que a união dos anti-fascistas portugueses e espanhóis, consiga florescer, mas a morte duma das suas figuras mais proeminentes da república portuguesa, Afonso Costa em Maio deste ano veio complicar o desenvolvimento dessa propaganda muito embora Bernardino Machado, tenha inclusivamente transferido a sua residência do Mónaca para Paris para substituir Afonso Costa no Comité ali formado.

No passado Verão, Bernardino Machado dirigiu-se a Juan Negrin, Presidente da Assembleia da Sociedade das Nações, protestando contra a atitude da Ditadura de se aliar com os governos alemão e italiano nesse apoio a Franco.

Como disse Bernardino Machado “servir os inimigos da nova Espanha livre é servir os inimigos seculares do Portugal restaurado”, reavivando a questão das ambições alemãs sobre as colónias portuguesas.

Os contactos com a "resistência" em Portugal, segundo um relatório de Roberto Queiroz, um representante daquele comité que se deslocou a Portugal para tentar conseguir adesões foi bastante negativo. Nesse relatório, Queiroz dizia que era difícil obter o apoio de grande parte dos adversários da ditadura, pois constatara que, seria inviável qualquer projecto de revolução sem o apoio do Exército, e o único militar republicano que poderia congregar vários sectores do Exército era Ribeiro de Carvalho, e este não mostrava empenho em assumir a chefia militar de uma revolução.

Como se vê minha amiga, o exército português está perfeitamente engajado à ditadura, prefere a bajular o ditador, do que servir a Pátria.

Enquanto isso Salazar nomeia o amigo Pedro Teotónio Pereira como o agente especial de ligação junto de Franco. Depois de ter sido de 1933 a 1936 subsecretário de Estado das Corporações e dois anos como Ministro do Comércio e Indústria, foi agora nomeado para este "importante cargo" na esfera da diplomacia da ditadura, que pasme-se, contraria a política oficial da Inglaterra.

Costa Leite o antigo discípulo, outra da fidelidades de Salazar em acumulação com o comando da Legião foi agora nomeado Ministro do Comércio e Indústria, substituindo Garcia Ramires, o que poderia não ter nenhuma importância especial, não fosse o acentuar da tendência para cada vez se fechar mais o grupo dos eleitos em torno do ditador, tenho a sensação que cada vez é mais restrito o número dos "eleitos" perto do ditador, o que talvez possa significar alguma insegurança e muita cautela, talvez como consequência do atentado falhado a 4 de Julho.

A consequência desse atentado foram detenções, muita detenções e mais repressão, fala-se em Ernesto Faustino, operário, José Lopes,operário anarquista, morre durante a tortura, Manuel Salgueiro Valente, tenente-coronel, (no exército há sempre alguém que resiste) que morreu em condições suspeitas no forte de Caxias, Augusto Costa, operário da Marinha Grande, Rafael Tobias Pinto da Silva, Francisco Domingues Quintas, Francisco Manuel Pereira, marinheiro de Lisboa, Pedro Matos Filipe, de Almada e Cândido Alves Barja,marinheiro, de Castro Verde, que morreram no espaço de quatro dias no Tarrafal, vítimas das febres e dos maus tratos; Augusto Almeida Martins, operário, é assassinado na sede da PVDE durante a tortura ; Abílio Augusto Belchior,operário do Porto, morre noTarrafal, vítima das febres e dos maus tratos.

Todos militantes do PCP e deixo-lhe a lista dos nomes que me chegaram ás mãos, para que fique bem claro, que eu não lhe disse apenas que morreram alguns, digo-lhe quem foi que morreu e não acredito que todos eles estivessem envolvidos no atentado, mas na sequência comem por tabela.

Para acabar a "chatisse " da política como vc lhe chama, deixo-lhe a mensagem que Paiva Couceiro um insuspeito monárquico disse a Salazar, numa carta que lhe enviou

Cantam-se loas às glórias governativas e ninguém pode dizer o contrário. O Portugal legítimo do "senão, não" foi substituído por um Portugal artificial, espécie de títere, de que o Governo puxa os cordelinhos.

Vela a Polícia e o lápis da censura. Incapacitados uns por esse regime de proibições, entretidos outros com a digestão que não lhes deixa atender ao que se passa, e jaz a Pátria portuguesa em estado de catalepsia colectiva. Está em perigo a integridade nacional. É isto que venho lembrar.

Em memória de tanto morto, em Portugal e em terra dos nossos vizinhos espanhóis, vamos ouvir o Te Deum de Bruckner, uma peça que gosto muito, com os desejos que o próximo ano, seja menos doloroso.

27 de abril de 2009

Atentado falhado a Salazar



Casa Comum, 31 de Outubro de 1937

Cara amiga

Diz o povo que todos os diabos têm sorte e mais uma vez isso se confirmou, quando Oliveira Salazar escapou ileso dum atentado à bomba, organizado aqui em Lisboa, por militantes anarquistas, dizem. Falas-se no nome de Emídio Santana um militante histórico do anarco-sindicalismo, como o seu principal organizador.

Salazar, deslocava-se à capela particular do seu amigo Josué Trocado, na Avenida Barbosa du Bocage, em Lisboa, para assistir à missa, no dia 4 de Julho passado, quando a bomba explodiu à passagem do carro, destruindo-o, mas mantendo a salvo o alvo principal.

Confidenciou-me um amigo comum, que Santana lhe teria afirmado, "Se Salazar se sentia autorizado a comprometer o país no conflito espanhol, nós, cidadãos portugueses, na legitimidade dos nossos direitos, tínhamos o dever de nos opor, à vilania da agressão". Entre outras razões, é invocada a vilania do comportamento de Salazar no apoio às forças de Francisco Franco e as patrulhas militares que se faziam da raia portuguesa atacando os anti-fascistas em busca de refúgio, prendendo-os e entregando-os à morte.

As forças fascistóides nesse mesmo dia promoveram um desfile de homenagem ao chefe de Estado, cantando loas ao milagre de Nossa Senhora, que protege o seu povo, salvaguardando o vida do seu chefe. Dois dias depois, mais um enjoativo beija-mão dos militares, 1500 dizem, que foram a São Bento, ouvir o chefe discursar sob o tema "Portugal a Aliança Inglesa e a Guerra de Espanha.

Interessante é destacar a enorme adesão que a Guerra Civil Espanhola provocou, de vários artistas e intelectuais de todo o Mundo, pela causa republicana face ao ataque fascista de Francisco Franco.

Em Paris em Maio passado, em plena guerra civil, o governo republicano inaugurou o Pavilhão Espanhol da Exposição Internacional de Paris. A execução desse pavilhão, para além das dificuldades trazidas pela guerra e com poucos recursos disponíveis, serviria contudo de propaganda, para um país que lutava contra o fascismo.

Como se estivessem na frente de batalha, artistas espanhóis e estrangeiros não hesitaram em atender ao pedido de participação. A escultura de 18 metros de altura do artista Alberto Sánchez, O povo espanhol tem um caminho que conduz a uma estrela, marcava a frente do pavilhão. No saguão de entrada,destaca-se o quadro Guernica, painel em preto-e-branco pintado por Pablo Picasso, denunciando o bombardeio dessa cidade por aviões nazis, um dos maiores destaques daquele pavilhão.

Você já deve saber que, no dia 11 de Julho morreu George Gershwin, tempo para recordarmos a Rhapsody in blue, ou esse fantástico Summertime da Porgy and Bess.

E assim me despeço por hoje relembrando a sinfonia de Villa Lobos, chamada a Pátria.

14 de abril de 2009



Casa Comum, 30 de Abril de 1937

Amiga Severa

Nem chegámos a comentar a criação de mais uma instituição fascistóide, que o nosso ditador, resolveu autorizar, continuando a sua tendência, para copiar as instituições nazis.

Neste caso a comparação deve ser feita com os camisas castanhas, as SA, fundadas em 1921 por Hitler e que tanta importância tiveram, na sua tomada do poder.

Basicamente a Legião Portuguesa é uma milícia, sob a alçada dos Ministérios do Interior e da Guerra, para defender "o património espiritual" e "combater a ameaça comunista e o anarquismo", de acordo com a ideologia do Estado Novo.

Essa "coisa" foi fundada em Setembro do ano passado, por proposta do Botelho Moniz, e é presidida por João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), sendo o general Casimiro Teles, acompanhado pelos capitães Correia Guedes e Silva Neves, respectivamente, chefe e sub-chefes do Estado Maior da Legião.

Há quem diga que o chefe supremo Salazar, não apreciou muito a ideia desta organização, que aglutina alguns nomes provenientes do Nacionalismo Lusitano, a Cruzada Nacional Nuno Álvares Pereira e a Liga 28 de Maio e antigos apoiantes de Sidónio Pais. Porém a presença do Lumbrales, terá sido uma imposição sua, seu amigo pessoal e da máxima confiança, trará algum descanso.

Vamos ver que ele por certo não deixará de tirar partido, desta organização, a favor dos intuitos do Estado Novo.

Para já foi vê-los desfilar garbosos, no comício festa do passado dia 28 de Maio.Talvez o exército tenha ficado com ciúmes.



No mês de Março, foi criada as Casas dos Pescadores, mais uma organização para cimentar a criação do estado corporativo, à semelhança do que aconteceu no mundo rural, com a existência das Casas do Povo, "estatizando "a economia primária, com o objectivo de fazer desaparecer as diferenças de interesse, entre patrões e empregados, tudo encantado na paz de senhor, debaixo do tecto das respectivas casas, retirando, no salazarento entendimento qualquer espécie de interesse aos sindicatos.

A sangrenta guerra civil aqui ao lado, teve mais uma cena trágica, o bombardeamento que Guernica, capital da província Basca, que a 26 de Abril de 1937 foi alvo por parte de aviões alemães (Legião Condor) por ordem do General Franco. Dos 7000 habitantes, 1654 foram mortos e 889 feridos.

Fica o horror duma pequena aldeia basca a ser bombardeada pela aviação nazi, aliada do nazi Franco.

Hoje resta-me a beleza de Mozart, para amenizar o trágico das atrocidades, vamos ouvir o maravilhoso Piano concerto nº26 em ré maior.






5 de abril de 2009

Antes morir de pie que vivir de rodillas

Casa Comum, 30 de Novembro de 1936

Cara Amiga

Mataram Garcia Lorca. Fuzilaram-no no dia 18 de Agosto, nos arredores de Granada. Ao que parece terá sido a sua irmã que, perante a ameaça das franquistas de prender ou executar de imediato o seu pai, revelou a localização de Frederico, supondo-o a salvo por se encontrar em casa de membros importantes da Falange de Granada, para onde ele tinha ido refugiar-se na casa do poeta Luís Rosales.

deixo-lhe um poema de Lorca, por certo não o mais representativo da sua obra, mas é um que gosto bastante.

Se as minhas mãos pudessem desfolhar

Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!

A Espanha este ano perdeu além de Garcia Lorca, outro grande nome, este do bel canto. Falo da meio soprano Conchita Supervia, desaparecida prematuramente em Londres, como consequência do parto mal sucedido ,daquele que seria o seu segundo filho, primeiro do seu casamento com o industrial Benjamin Rubinstein com quem tinha casado em 1931. Tinha só 40 anos esta fantástica cantora, agora desaparecida.



A violência inaudita com que decorre a guerra civil espanhola, está a ser mais uma vez a demonstração da mentalidade de Salazar, que sob a capa da neutralidade, apoia claramente as tropas da falange franquista, pelo medo que tem do triunfo da forças da república.

Porém , por cá, muita gente se une para os apoiar, tendo sido informado que foi criada a Frente Popular Portuguesa onde se encontram, sob a direcção de Afonso Costa e Bernardino Machado, diferentes correntes políticas como o Partido Democrático, a Esquerda Radical, a Maçonaria, alguns anarco-sindicalistas, o Comité dos Sargentos de Terra e Mar, a União dos Combatentes da República Aliança Liberal (UCRAL) e personalidades como o Eng. Cunha Leal, o General Sá Cardoso, o Dr. António Sérgio (Seara Nova) ou o Prof. Bento de Jesus Caraça (PCP/Frente Popular).

Soube também que, no final do mês passado, desembarcavam na baía do Tarrafal (Ilha de Santiago,arquipélago de Cabo Verde) 157 presos antifascistas, que foram inaugurar o Campo de Concentração do Tarrafal, o campo da morte do Estado Novo

A primeira leva de presos, transportada no vapor Luanda, , foi constituída por comunistas, anarquistas, sindicalistas e anarco-sindicalistas, que tinham participado na greve geral de 18 de Janeiro de 1934, marinheiros dos navios de guerra Dão, Afonso de Albuquerque e Bartolomeu Dias, que se tinham revoltado em 8 de Setembro de 1936 e dirigentes políticos que se opunham ao Estado Novo.

Muitos desses presos já tinham cumprido as penas a que foram condenados; outros ainda não tinham sido julgados; alguns nem culpa formada tinham, mas embarcaram porque "eram perniciosos e contrários ao interesse do Estado Novo".

Segundo me disseram, este primeiros "hóspedes", vão ter a tarefa de construir a própria prisão, estando alojados em barracas de lona. Foi decidido que seriam condenados a trabalhos forçados, quando muitos como já disse, estavam ali mas sem ter sequer sido julgados.

Acabo como comecei em título citando Dolores Ibarruri, é assim que muitos pensam em Espanha, em Lisboa ou no Tarrafal

O convite musical de hoje é para Mozart e o seu violino concerto nº24.

27 de março de 2009

A criação da Mocidade Portuguesa

Casa Comum, 31 de Agosto de 1936

Cara amiga Severa

Estávamos a adivinhar o desenlace a guerra civil ,aqui ao lado na vizinha Espanha. As últimas eleições que deram a vitória à esquerda unida, englobando todos os partidos tradicionais de esquerda, mais os anarquistas, os republicanos e os autonomistas da Esquerda catalã, os galegos e o Partido Nacional Basco. Essa coligação, venceu as eleições de Fevereiro passado, dominando 60% das Cortes, derrotando a Frente Nacional, composta pelos direitistas.

Esta Frente, perante tão ampla maioria. resolve pegar em armas, promoveu um levantamento militar liderado por um tal Francisco Franco, iniciando e escalada da revolta anti-democrática, exactamente pelo enclaves sob dominação espanhola em Marrocos.

Registemos a data de 18 de Julho de 1936, para assinalar o início deste conflito, que tudo indica, vai ser violentíssimo e que por certo atendendo ao facto de decorrer à nossa porta, vai por certo obrigar Salazar a tomar medidas, que de todo, vão ser desfavoráveis ao governo republicano espanhol, democraticamente eleito.

Conhecendo os seus princípios, basta sabermos que esse governo corresponde a uma unidade de esquerda, composta por socialistas e comunistas, para se perceber,que preferirá alinhar, pelas forças reaccionárias e fascistas da Frente Nacional, embora possa até, "jesuiticamente" nunca o admitir, mascarando-se de falsa equidistância.


O pequeno revés da morte em Cascais do general Sanjurgo, o principal dirigente da Frente Nacional, num desastre de avião, que partindo de Portugal o levaria para Espanha, no passado dia 20 de Julho, não fará por certo emperrar os planos de tomada de poder pela força da Frente Nacionalista.

Salazar continua preocupado com o alinhamento político dos militares, pelo que decidiu impor a sua autoridade, nomeando-se em acumulação sine die a pasta do Ministério da Guerra. Prova da sua desconfiança, não delegando em ninguém a coordenação daquele sector

A tendência para copiar as instituições fascistas alemães e italianas mantém-se, desta vez atingindo os mais jovens, criando a Organização Nacional Mocidade Portuguesa pelo Decreto-Lei n.º 26 611, de 19 de Maio de 1936, em cumprimento do disposto na Base XI da Lei n.º 1941, de 19 de Abril de 1936.

Pretendia abranger toda a juventude - escolar ou não - e atribuía-se, como fins, estimular o desenvolvimento integral da sua capacidade física, a formação do carácter e a devoção à Pátria, no sentimento da ordem, no gosto da disciplina, no culto dos deveres morais, cívicos e militares.

Os princípios inquestionáveis os objectivos, servir para criar a idolatria pelo chefe, bem expresso no significativo S, que todos ostentavam na fivela do cinto, bem como reveladora, também seja a saudação nazi do braço estendido, seguindo os padrões daquela ideologia.

A minha sugestão filmica de hoje, vai para o musical Show Boat de James Whale e em especial para uma passagem musical que acho vai gostar Old man River, cantado por Paul Robeson.

Quanto à musica vou convida-la para um serão mozartiano .


16 de março de 2009

Os infelizes tempos modernos

Casa Comum, 31 de Março de 1936

Caro amigo

Será possível que estejamos condenados a viver num mundo de ditadores ? Parece que os velhos tempos, a velha ideologia, se agarra aos argumentos mais violentos para assegurar a sua continuidade. Por certo que os principais alvos a abater passam pelos mesmos de sempre a inteligência e a cultura, os seus interpretes mais notáveis.

Foi o que aconteceu no Brasil e na ditadura do Getúlio Vargas, que em Março de 1936,mandou prender o grande escritor brasileiro Graciliano Ramos, acusado sem que a acusação fosse formalizada, de ter conspirado no levantamento comunista que houve em Novembro do ano passado. Foi preso em Maceió e enviado para o Recife, onde foi embarcado com destino ao Rio de Janeiro no navio, com outros 115 presos.

Mas mais do que a política eu lamento sempre o desaparecimento de pessoas da cultura, independentemente da sua cor ou da sua ideologia, sei que é um exagero dizer isto, mas é para mim tão importante a Arte e a cultura, que desculpo "qualquer coisinha", mesmo que isso possa reflectir um desvio em relação à minha maneira de pensar.

Quero dizer com isto que morreu em Bombaim no dia 18 de Janeiro, Rudyard Kipling, o prémio nobel da Literatura em 1907. Normalmente considera-se Kipling o principal representante da literatura imperialista, mas esta interpretação é superficial, se se aprofundar na sua obra , as preocupações com a relação entre os dominadores brancos e a população indígena, estão lá ainda que ele não seja exactamente um revolucionário

Para outros as suas principais obras Kim e O Livro das Terras Virgens, são convencionalmente consideradas obras infantis, mas que realmente não o são, moralistas ? por certo que sim, mas voltam sempre à realidade das relações sociais no Império Britânico, a sua grande preocupação.

Deixo a parte final do poema If (é muito extenso )

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...

Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minute se espraie em séculos fecundos...

Então, á ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!...
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!...
-( tradução de Féliz Bermudes)

Também fui à estreia do último filme de Charlie Chaplin os Tempos Modernos, já foi ver ?



A mensagem musical de hoje é um retorno a Maurice Ravel e á sua Rapsódia espanhola.



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