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27 de abril de 2009

Atentado falhado a Salazar



Casa Comum, 31 de Outubro de 1937

Cara amiga

Diz o povo que todos os diabos têm sorte e mais uma vez isso se confirmou, quando Oliveira Salazar escapou ileso dum atentado à bomba, organizado aqui em Lisboa, por militantes anarquistas, dizem. Falas-se no nome de Emídio Santana um militante histórico do anarco-sindicalismo, como o seu principal organizador.

Salazar, deslocava-se à capela particular do seu amigo Josué Trocado, na Avenida Barbosa du Bocage, em Lisboa, para assistir à missa, no dia 4 de Julho passado, quando a bomba explodiu à passagem do carro, destruindo-o, mas mantendo a salvo o alvo principal.

Confidenciou-me um amigo comum, que Santana lhe teria afirmado, "Se Salazar se sentia autorizado a comprometer o país no conflito espanhol, nós, cidadãos portugueses, na legitimidade dos nossos direitos, tínhamos o dever de nos opor, à vilania da agressão". Entre outras razões, é invocada a vilania do comportamento de Salazar no apoio às forças de Francisco Franco e as patrulhas militares que se faziam da raia portuguesa atacando os anti-fascistas em busca de refúgio, prendendo-os e entregando-os à morte.

As forças fascistóides nesse mesmo dia promoveram um desfile de homenagem ao chefe de Estado, cantando loas ao milagre de Nossa Senhora, que protege o seu povo, salvaguardando o vida do seu chefe. Dois dias depois, mais um enjoativo beija-mão dos militares, 1500 dizem, que foram a São Bento, ouvir o chefe discursar sob o tema "Portugal a Aliança Inglesa e a Guerra de Espanha.

Interessante é destacar a enorme adesão que a Guerra Civil Espanhola provocou, de vários artistas e intelectuais de todo o Mundo, pela causa republicana face ao ataque fascista de Francisco Franco.

Em Paris em Maio passado, em plena guerra civil, o governo republicano inaugurou o Pavilhão Espanhol da Exposição Internacional de Paris. A execução desse pavilhão, para além das dificuldades trazidas pela guerra e com poucos recursos disponíveis, serviria contudo de propaganda, para um país que lutava contra o fascismo.

Como se estivessem na frente de batalha, artistas espanhóis e estrangeiros não hesitaram em atender ao pedido de participação. A escultura de 18 metros de altura do artista Alberto Sánchez, O povo espanhol tem um caminho que conduz a uma estrela, marcava a frente do pavilhão. No saguão de entrada,destaca-se o quadro Guernica, painel em preto-e-branco pintado por Pablo Picasso, denunciando o bombardeio dessa cidade por aviões nazis, um dos maiores destaques daquele pavilhão.

Você já deve saber que, no dia 11 de Julho morreu George Gershwin, tempo para recordarmos a Rhapsody in blue, ou esse fantástico Summertime da Porgy and Bess.

E assim me despeço por hoje relembrando a sinfonia de Villa Lobos, chamada a Pátria.

14 de abril de 2009



Casa Comum, 30 de Abril de 1937

Amiga Severa

Nem chegámos a comentar a criação de mais uma instituição fascistóide, que o nosso ditador, resolveu autorizar, continuando a sua tendência, para copiar as instituições nazis.

Neste caso a comparação deve ser feita com os camisas castanhas, as SA, fundadas em 1921 por Hitler e que tanta importância tiveram, na sua tomada do poder.

Basicamente a Legião Portuguesa é uma milícia, sob a alçada dos Ministérios do Interior e da Guerra, para defender "o património espiritual" e "combater a ameaça comunista e o anarquismo", de acordo com a ideologia do Estado Novo.

Essa "coisa" foi fundada em Setembro do ano passado, por proposta do Botelho Moniz, e é presidida por João Pinto da Costa Leite (Lumbrales), sendo o general Casimiro Teles, acompanhado pelos capitães Correia Guedes e Silva Neves, respectivamente, chefe e sub-chefes do Estado Maior da Legião.

Há quem diga que o chefe supremo Salazar, não apreciou muito a ideia desta organização, que aglutina alguns nomes provenientes do Nacionalismo Lusitano, a Cruzada Nacional Nuno Álvares Pereira e a Liga 28 de Maio e antigos apoiantes de Sidónio Pais. Porém a presença do Lumbrales, terá sido uma imposição sua, seu amigo pessoal e da máxima confiança, trará algum descanso.

Vamos ver que ele por certo não deixará de tirar partido, desta organização, a favor dos intuitos do Estado Novo.

Para já foi vê-los desfilar garbosos, no comício festa do passado dia 28 de Maio.Talvez o exército tenha ficado com ciúmes.



No mês de Março, foi criada as Casas dos Pescadores, mais uma organização para cimentar a criação do estado corporativo, à semelhança do que aconteceu no mundo rural, com a existência das Casas do Povo, "estatizando "a economia primária, com o objectivo de fazer desaparecer as diferenças de interesse, entre patrões e empregados, tudo encantado na paz de senhor, debaixo do tecto das respectivas casas, retirando, no salazarento entendimento qualquer espécie de interesse aos sindicatos.

A sangrenta guerra civil aqui ao lado, teve mais uma cena trágica, o bombardeamento que Guernica, capital da província Basca, que a 26 de Abril de 1937 foi alvo por parte de aviões alemães (Legião Condor) por ordem do General Franco. Dos 7000 habitantes, 1654 foram mortos e 889 feridos.

Fica o horror duma pequena aldeia basca a ser bombardeada pela aviação nazi, aliada do nazi Franco.

Hoje resta-me a beleza de Mozart, para amenizar o trágico das atrocidades, vamos ouvir o maravilhoso Piano concerto nº26 em ré maior.






5 de abril de 2009

Antes morir de pie que vivir de rodillas

Casa Comum, 30 de Novembro de 1936

Cara Amiga

Mataram Garcia Lorca. Fuzilaram-no no dia 18 de Agosto, nos arredores de Granada. Ao que parece terá sido a sua irmã que, perante a ameaça das franquistas de prender ou executar de imediato o seu pai, revelou a localização de Frederico, supondo-o a salvo por se encontrar em casa de membros importantes da Falange de Granada, para onde ele tinha ido refugiar-se na casa do poeta Luís Rosales.

deixo-lhe um poema de Lorca, por certo não o mais representativo da sua obra, mas é um que gosto bastante.

Se as minhas mãos pudessem desfolhar

Eu pronuncio teu nome
nas noites escuras,
quando vêm os astros
beber na lua
e dormem nas ramagens
das frondes ocultas.
E eu me sinto oco
de paixão e de música.
Louco relógio que canta
mortas horas antigas.

Eu pronuncio teu nome,
nesta noite escura,
e teu nome me soa
mais distante que nunca.
Mais distante que todas as estrelas
e mais dolente que a mansa chuva.

Amar-te-ei como então
alguma vez? Que culpa
tem meu coração?
Se a névoa se esfuma,
que outra paixão me espera?
Será tranquila e pura?
Se meus dedos pudessem
desfolhar a lua!!

A Espanha este ano perdeu além de Garcia Lorca, outro grande nome, este do bel canto. Falo da meio soprano Conchita Supervia, desaparecida prematuramente em Londres, como consequência do parto mal sucedido ,daquele que seria o seu segundo filho, primeiro do seu casamento com o industrial Benjamin Rubinstein com quem tinha casado em 1931. Tinha só 40 anos esta fantástica cantora, agora desaparecida.



A violência inaudita com que decorre a guerra civil espanhola, está a ser mais uma vez a demonstração da mentalidade de Salazar, que sob a capa da neutralidade, apoia claramente as tropas da falange franquista, pelo medo que tem do triunfo da forças da república.

Porém , por cá, muita gente se une para os apoiar, tendo sido informado que foi criada a Frente Popular Portuguesa onde se encontram, sob a direcção de Afonso Costa e Bernardino Machado, diferentes correntes políticas como o Partido Democrático, a Esquerda Radical, a Maçonaria, alguns anarco-sindicalistas, o Comité dos Sargentos de Terra e Mar, a União dos Combatentes da República Aliança Liberal (UCRAL) e personalidades como o Eng. Cunha Leal, o General Sá Cardoso, o Dr. António Sérgio (Seara Nova) ou o Prof. Bento de Jesus Caraça (PCP/Frente Popular).

Soube também que, no final do mês passado, desembarcavam na baía do Tarrafal (Ilha de Santiago,arquipélago de Cabo Verde) 157 presos antifascistas, que foram inaugurar o Campo de Concentração do Tarrafal, o campo da morte do Estado Novo

A primeira leva de presos, transportada no vapor Luanda, , foi constituída por comunistas, anarquistas, sindicalistas e anarco-sindicalistas, que tinham participado na greve geral de 18 de Janeiro de 1934, marinheiros dos navios de guerra Dão, Afonso de Albuquerque e Bartolomeu Dias, que se tinham revoltado em 8 de Setembro de 1936 e dirigentes políticos que se opunham ao Estado Novo.

Muitos desses presos já tinham cumprido as penas a que foram condenados; outros ainda não tinham sido julgados; alguns nem culpa formada tinham, mas embarcaram porque "eram perniciosos e contrários ao interesse do Estado Novo".

Segundo me disseram, este primeiros "hóspedes", vão ter a tarefa de construir a própria prisão, estando alojados em barracas de lona. Foi decidido que seriam condenados a trabalhos forçados, quando muitos como já disse, estavam ali mas sem ter sequer sido julgados.

Acabo como comecei em título citando Dolores Ibarruri, é assim que muitos pensam em Espanha, em Lisboa ou no Tarrafal

O convite musical de hoje é para Mozart e o seu violino concerto nº24.

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