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16 de março de 2010

Ferro o Gobbels lusitano



  • Casa Comun, 31 de Janeiro de 1944
  • Cara amiga

Para Salzar a questão cultural, não é uma QUESTÃO CULTURAL em si mesma, mas sobretudo a resposta à questão de como ocupar os tempos livres dos trabalhadores. Tem que ser acima de tudo uma forma de exercer controlo social.

Penso assim até porque julgo e tenho a certeza que a minha amiga me acompanha, que não pode haver cultura sem liberdade de pensamento, porque fora disso os actos efectuados, nessa área eventualmente rotulada de cultural, não passará de mero passar de propaganda política.

Todos nós sentimos e Salazar não fugirá à regra, que a sorte da guerra que parecia inevitável para o lado do Eixo, hoje (felizmente ) tende a caír para o lado aliado.

Não querendo mudar nada, Salazar, entende que convém mascarar qualquer coisa de algo parecido com isso, para que tudo fique na mesma .

O Secretariado de Propaganda Nacional foi criado em 1933 foi agora transformado no Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), duas criações atribuídas a António Ferro, estavam directamente ligadas a Salazar.

Tão directamente como o próprio António Ferro, o estava desde 1933 após ter publicado um livro de entrevistas com o ditador, a que chamou Salazar, o Homem e a Obra, Desde então foi convidado para colaborador por Salazar, com as funções simultâneas de chefe da propaganda e de responsável pelo sector cultural.

António Ferro, a quem apetece chamar o Gobbels português tem com aquele a percepção clara de que a cultura se pode transformar num poderoso instrumento de poder ao serviço do Estado.

A ideia geral até aqui difundida é muito clara, passar a ideia que ao Povo Português é atribuída uma missão divina - propagar e defender os grandes valores da cristandade no mundo, sendo o Império, apresentado como o exemplo para o mundo ocidental.

A ideia geral que nas nossas aldeias, constituída por gente trabalhadora, pobre e feliz é apresentada como um exemplo às outras nações civilizadas, onde pululam grandes urbes industrializadas minadas pela desordem e imoralidade.

Tem sido esta a mensagem de Ferro, até nisso bem mais tacanha e saloia diga-se que a do seu homólogo Gobbels, mas igualmente muito perigosa, pelo menos dentro de nossa casa.

Toda a gente sabe que Salazar vende volfrâmio aos alemães, matéria-prima que lhe sé fundamental para o esforço de guerra do inimigo.

O embaixador inglês Campbell apresenta ao governo de Lisboa a exigência do embargo da exportação de volfrâmio. O objectivo do Ministro da Economia Warfare era anular o fornecimento de matérias-primas fundamentais para o esforço de guerra do inimigo, no fabrico de armas e munições, com vista ao seu endurecimento e maior resistência.

Que dirá Salazar ? Em tempo de negoceio da utilização das Lajes, servirá este tema para aumentar a força negociadora ? , já que é inegável que a exploração do volfrâmio é uma fonte de riqueza que emprega muita gente em tempos muito difíceis reconheça-se.


Hoje proponho que ouçamos de Kalinnikov a Sinfonia nº2 em lá maior

10 de março de 2010

O nascimento do MUNAF

  • Casa Comum,31 de Dezembro de 1943
  • Cara amiga

Morreu o príncipe perfeito do Salazar, numa estrada entre Montemor e Vendas Novas, deu-se o acidente e no dia seguinte a 16 de Novembro em Setúbal, no hospital da Misericórdia morreu Duarte Pacheco.

Independentemente do relacionamento que tenha havido entre ambos, com as suas entradas e saídas do governo, os cargos docentes e a presidência da Câmara de Lisboa, não se deve pôr em causa as suas qualidades de empreendedor, a que deve juntar-se as qualidades do seu carácter. Algarvio, de Loulé, acaba por morrer ainda jovem, tinha 43 anos, mas a obra vai ficar por aí e o seu projecto de modernizar Lisboa.

Foi um ministro que embora se submete ao governo Salazarista, como não podia deixar de ser, consegue uma liberdade de acção e inovação extraordinárias.

É uma perda que se lamenta.

O governo americano informou o governo português acerca das do se interesse na obtenção de facilidades militares nos Açores, que neste contexto de guerra generalizada pode considerar-se vital para o desenrolar das operações militares, atendendo à sua posição estratégica.

Porém Salazar, receoso da forma como as potências do Eixo encarariam esta modalidade de apoio ao aliados, tem recusado essa pretensão escudando-se no velho argumento da neutralidade,muito embora anteriormente, o Governo Português tenha permitido aos U-Boat's e á marinha alemã reabastecimentos na ilha.

Contudo recusar a possibilidade de colaboração com os ingleses, já lhe será mais difícil de sustentar, como é relativamente fácil com os americanos. São 600 anos de aliança, que impedem a recusa frontal.

A 8 de Outubro de 1943, os ingleses desembarcaram em Angra, descarregando equipamentos e material, estando a desenvolver então uma serie de estruturas para que permitisse que aviões pesados aterrassem, passaram a chamar ao lugar a Base das Lajes e a 9 de Novembro de 1943 apenas um mês depois de as forças britânicas ali terem chegado, foi abatido primeiro barco alemão por bombardeiros estacionados nas Lajes

A oposição a Salazar continua a fazer esforços para edificar a indispensável unidade anti-fascista, difícil de alcançar, pela razões que você conhece. Com alguns amigos,Bento de Jesus Caraça tem vindo a contactar sectores importantes da oposição e como resultado do seu esforço, conseguiu uma reunião em finais 1942 ou princípios de 1943, na qual começou o difícil processo de negociação para estabelecer uma base de unidade.

Os participantes nesta reunião — Álvaro Cunhal Fernando Piteira Santos pelo PCP, José Magalhães Godinho e Manuel Mendes pelos socialistas, entre outros,chegaram a um acordo sobre a necessidade dum movimento amplo, mas clandestino e eficaz, que desenvolvesse um programa democrático mínimo e uma actividade propagandística regular e que desse os primeiros passos de resistência armada

Para chegar a esse acordo foram necessários vários meses, mas seria de facto esta reunião que iniciou o processo que levou à fundação do Movimento de Unidade Nacional Anti-Fascista (MUNAF) que agora se anuncia, ilegal e clandestinamente como não pode deixar de ser, mas pronta a avançar com o objectivo de derrubar o regime.

Esperemos que algo aconteça para o ano, são estes os votos que lhe faço minha querida amiga.

Vamos ouvir Rachmaninoff o seu The Rock ?

Créditos
(O MUNAF, o PCP e o problema da estratégia revolucionária da Oposição, 1942-David L. Raby )

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