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26 de março de 2008

Rótulos




Foto de Mike Ludlow


Dizem que sou louca, só para não dizerem pior, mas a mim que me importa!

Quero ir onde ninguém vai, quero sentir o que ninguém sente, quero aqui ficar, quero ali ir, quero poder me entregar, quero poder desejar, quero escolher.
Dizem que sou ninfomaníaca, porque não sabem o que quer dizer, só para não dizerem pior, que sei bem o que vai naquelas cabeças bem pensantes, mas a mim que me importa!
Quero estar nos braços deste, enquanto me apetecer, ir para os de outro, quando esse apelo sentir.

Quero lá saber o que dizem de mim, quero lá saber o que de mim pensam, por sempre porem rótulos, sem quererem sequer saber a razão da existência, quanto mais do que pensa esta louca, que de louca nada tem.

E é vê-las a cochichar, aos grupinhos, olhos que apontam, olhos que são flechas, fazendo de conta que são amigas, mas se puderem dão cabo de mim. Têm medo que lhes roube os maridos, as pobres coitadas que nem gosto têm.
Mas elas que tanto mal dizem, acabam por fazer pior, à socapa, corpos que se entregam noutros braços que não os dos maridos, sem coragem de o afirmar, para sentirem “poder”, com vontade de manterem o status e eu é que sou a louca, para não dizerem pior.

No meu corpo ondulante quero ser livre, não ter de justificar nem de inventar que com uma amiga estive, enquanto estava em braços que me apertavam com desejo e paixão.
Quero sentir as mãos que escolher, o meu corpo a percorrer, sem ter de pensar em horas, ou no jantar que ficou por fazer, ou de ter para a telepizza telefonar.

E rio para o ar e para o mundo, quero lá saber dos rótulos, e das parvoíces que de mim contam.
Só fico enquanto quiser e enquanto bem me sentir.
Ah! Poder partir ou ficar, poder ir ou vir, é a minha felicidade.

Que ninguém me venha dizer que sou louca, só para não dizerem pior, loucos são os que ficam querendo partir.

25 de março de 2008

Dão-nos um lirio e um canivete

"Dão-nos um lírio e um canivete", disse eu há dias aqui numa resposta, que fiz de passagem a um comentário de Xistosa, numa alusão ligeira, ao tempo da guerra colonial.

Lembrei a erosão que essa guerra injusta, como quase todas, provocou na nossa geração, (falava com Xistosa, um sessentão praticamente "equivalente") e com essa simples frase recordei-me de Natália Correia.

Recordo-me sempre dela, quando falo na guerra colonial, porque me lembro desse poema fundamental, que começava exactamente por essa frase e que se chamava, "Queixa das almas jovens censuradas".

A guerra colonial sob a visão rigorosa da Natália retratava neste poema, exactamente tudo o que nos davam nesse tempo, um mapa imaginário e tanta coisa feita de nada, até a honra de manequim, para dar corda à nossa ausência, dos nossos lares , das nossas família e assumamos, ainda meninos do colo das nossas mães.


Dão-nos a capa do evangelho
E um pacote de tabaco.
Dão-nos um pente e um espelho
Para pentearmos um macaco.

O tabaquinho do Movimento Nacional Feminino, beato e cheio de madrinhas de guerra e aerogramas de tristeza. Quantas vezes um "esquife feito de ferro com embutidos de diamante para o enterro mais adiante"para tantos que de lá vieram.

Por isso a nossa dimensão
Não é a vida. Nem é a morte.

Naturalmente que Natália Correia não foi só isso. Era uma mulher de denúncia. liberta e eventualmente libertina, de quem recordo uma noite de vivência comungada, por Alfama em largo grupo, que incluía o Ary dos Santos, talvez uma das noites simultaneamente mais loucas da minha vida com poemas recitados às estrelas e onde mais pequenino me senti a comer sardinhas assadas sentado ao pé dos deuses..

Esta poema cantado por José Mário Branco autor da música, fica mais belo ainda, se possível, porque também em si mesmo representa, que pessoas tão opostas politicamente, podem ter a capacidade de se entender nas coisas verdadeiramente importantes.
(para ouvir desligar primeiro no fundo do blogue o tema genérico)



20 de março de 2008

Revisitar Albert Camus

Não tenho aqui à mão, muitos dos meus livros, ficaram por Lisboa, na minha casa-mãe, mas por onde, agora pouco paro, rumei a Sul, ficando-me por Portimão e a Lisboa, subo de passagem, às vezes ida e volta no mesmo dia.

Não quero esquecer-me de trazer alguns dos livros de Camus, que por lá tenho e que subitamente me apeteceu reler. Camus foi a minha inebriante descoberta juvenil, num tempo de mentes fechadas, era uma janela, um rasgo na mediocridade e se há dias falei de Gomes Ferreira, como um dos símbolos da minha formação, não poderia deixar de mencionar Camus, no mesmo plano.

Importa também tentar encontrar as razões porque me apetece tanto, retornar ás referências intelectuais da minha juventude, não é por certo por saudosismo, que sei não comportar, mas talvez porque algo na "paisagem portuguesa" de agora, me sugere cinzentísmo, nuvens negras que no meu subconsciente se avolumam.

Coloco a possibilidade, de argumentar legítima defesa, ou é impressão minha ? Embora tema que ninguém consiga convencer-me que se lê nos rostos, nas caras e nas palavras da nossa gente, promessas de esperança em dias melhores.

Há algo de muito medíocre e cinzento nos tempos em que vivemos.

Pode parecer paradoxal eu estar a sugerir-me Camus em acto de defesa pessoal. Ele não era exactamente o homem da mensagem da esperança na espécie humana.Pelo menos para quem o leia desprevenidamente a atitude existencialista não parte dessas premissas para a condição humana, contudo a mensagens final encaixava perfeitamente na ideia que só na solidariedade humana se pode encontrar a solução para o absurdo dos dias que se "vivem".

Preciso de reler o Homem revoltado.

14 de março de 2008

As Maias não se maquilham

Desde já uma nota importante, não quero que pensem que sou um tipo quadrado. Não quero que pensem que tenho alguma coisa contra o facto da maioria da mulheres se maquilharem.

Curiosamente, as mulheres da minha vida nunca se maquilharam, a minha mãe era uma senhora linda de olhos verdes e de pele muito branca. A minha mulher têm uns lindos olhos azuis e minha filha saindo a mim, tens os olhos castanhos.

Também não tenho ideia do meu pai alguma vez ter feito alguma alusão no sentido de proibir a minha mãe de usar bâton, rímel ou qualquer um dos habituais produtos usados para efeito decorativo facial, digo isto porque noutros tempos era habitual os homens proibirem.

Por mim, enquanto marido e pai, também nunca o fiz, nem nessa matéria nem noutras, sempre fui rigorosamente liberal, no que aos gostos de cada um diga respeito.

É apenas uma coincidência de 3 gerações, decididamente a maquilhagem não entra na minha família. Lembro-me, que igual nota poderia dar das minha 4 tias maternas, mas acrescentaria ainda mais, também o mesmo se pode acrescentar ao uso de brincos.

Também nunca usaram.


Decididamente "as Maias", nunca se maquilharam e nem por isso deixaram de ser lindas.

Assim de repente só o meu neto, decidiu e ainda bem para acabar com a norma, usar um pequeno brinco, que por acaso até lhe fica bem.

10 de março de 2008

João Sousa Monteiro


É um apaixonado pela Psicanálise e pela Psicologia e sobretudo pelo estudo desta aplicada às crianças e adolescentes na sua odisseia diária: o crescimento

"O desejo de conhecer trás sempre a recordação velada de uma ameaça, esconde sempre o eco de uma condenação. Comer da árvore do conhecimento conduz inevitavelmente à expulsão do paraíso, mas recuar perante o desejo de conhecer conduz inevitavelmente à morte"

João Sousa Monteiro fez um programa no “FM stéreo da Rádio Comercial entre 18 de Maio de 1977 e 29 de Dezembro de 1978” chamado o Homem no Tempo, transmitido duas vezes por semana com suporte áudio (voz de Hitler a discursar, ruídos de aviões, metralhas e explosões, etc).

João Sousa Monteiro, sempre foi incómodo e foi por isso silenciado.

Era inconformista, subversivo e radical. Usava um tom revolucionário pouco habitual porque era contra a formatação do conceito, vulgar e demagógico de “revolucionário”.

"... o sentido ultimo da arte, da filosofia da ciência, da psicanálise e de toda a cultura: ajudar a transformar os "pensamentos impensados " dos outros e de nós próprios, contribuir para que nos outros, e em nós, nasça uma vez, e outra, e outra ainda, o desejo de "criar o mundo", e a capacidade para reconstruirmos, vez após vez, a ilusão de o termos conseguido ...”

“…Um dos tabus sociais de maior importância estratégica para a sobrevivência e bom funcionamento de qualquer sociedade “civilisada” consiste na proibição de pensar.

Sem essa preciosa restrição, imposta sobre cada um de nós com especial vigilância desde o início da nossa existência, nenhuma forma arcaica ou civilizada de organização social poderia provavelmente subsistir

Entreter o “indígena” com toda a espécie de birimbaus civilizados, de comprar-lhe a sua tácita aquiescência de búfalo e vacamente cooperador; distraí-lo a todo o tempo distraí-lo sobretudo de si próprio - de modo que não lhe sobre energia suficiente para perceber, no fundo, o que se passa à sua volta; Meter-lhe sempre à frente dos olhos, um chocalho luminoso – qualquer um dos chocalhos luminosos que a civilização engenhosamente produz – de modo a que não fixe nunca demasiadamente o olhar no mijo moralista em que a Sociedade se apoia, na açorda ideológica que a sustenta; Comprar-lhe assim a sua docilidade postiça é talvez o mais comum e o mais rendoso dos negócios, em que todos, em que todos nós participamos activamente, de formas directas ou indirectas.”

In “Tire a Mãe da Boca” de João Sousa Monteiro.

Conheci João Sousa Monteiro, andaria eu pelos dez anos, era amigo de um dos meus irmãos.
Vivia muito perto de nós, e tinha uma biblioteca fantástica. Íamos os dois, o meu irmão e eu, muitas tardes e noites para casa do João só, simplesmente, para lermos tudo o que era proibido, nessa altura.

Esta é a homenagem que quero aqui fazer, a um amigo, que me ajudou a formar, que me ensinou a pensar, que ajudou a fazer de mim aquilo que sou hoje.

6 de março de 2008

A Grande Alma


Não me é possível, neste repositório das personalidade que nos marcaram, que eu a Maria Faia (e quem mais quiser colaborar) decidimos fazer, deixar de mencionar a figura de Mahandas Gandhi.

É um dos meus ídolos, de tal forma que digo, que personagens como a dele deveriam ser mostradas nas escolas, se isso acontecesse só poderia resultar na melhoria da formação humana dessas crianças.

Não seria necessário converter o ensino, numa divulgação do hinduísmo, não é disso que se trata, mas os seus valores, a sua preocupação constante com a busca da "Verdade"e a afirmação sempre constante que a firmeza, deve ser a força que move o Mundo, não a violência.

A solidariedade deveria dominar ideologicamente na sociedade, em detrimento do egoísmo e isso deveria ser ensinado nos bancos da escola, para que se pudesse no futuro vir a colher os frutos de uma sociedade melhor.

O exemplo da Grande Alma (Mahatma), não poderá nunca desaparecer, sob os escolhos do esquecimento, porque não desejamos que este Mundo venha a ser, ainda pior.

É preciso recupera-los divulgar que existiram pessoa como o Gandhi, como Nelson Mandela (ainda vivo), ou Luther King. Os valores que defendem continuam a precisar de ser defendidos, os problemas que Gandhi definiu como prioritários continuam latentes, nalguns caso minimizados mas relembro que no seu famoso programa de 5 pontos, simbolizados nos dedos da mão, pelo menos pela no que à

igualdade, pela amizade e pela igualdade para as mulheres

diz respeito,há ainda muito por fazer, se não quisermos claro, raciocinar que o Mundo termina na soleira da nossa porta.


E JÁ fez agora 60 anos que Gandhi que morreu

2 de março de 2008

Le Deuxiéme Sexe - O Segundo Sexo



«On ne naît pás femme, on le devient»


Simone de Beauvoir escreve O Segundo Sexo (Le Deuxiéme Sexe) em 1949.

Quando o li, às escondidas dos meus pais, teve enorme impacto em mim, pois já nessa altura, teria uns dezasseis anos, contestava as semanadas diferentes que eram dadas aos meus irmãos e a mim.

Pensar que foi escrito em 1949!

É esta data que é importante, porque esta Mulher defende, no primeiro volume do livro, a igualdade da Mulher perante o Homem.
Defende durante todo o livro, que a mulher não deveria abdicar da sua carreira, nem a favor do marido nem dos filhos.
Diz mesmo, que deveriam ser os homens a incentivar as suas mulheres para serem mais empenhadas nas suas carreiras e na política. Num mundo onde os dois fossem iguais, serião os dois mais livres.
E se hoje este volume parece datado, não o é apesar de tudo, pelo menos em Portugal.

A luta pela igualdade entre a Mulher e o Homem tem leis, mas não tem prática, nem em casa, nem no trabalho e muito menos na política.

O segundo volume debruça-se sobre a condição da Mulher em todas as suas dimensões, sexuais, psicológicas, sociais e políticas.
É Simone de Beauvoir que fala pela primeira vez no orgasmo feminino e na diferença psíquica que existe entre a ejaculação do homem e o orgasmo feminino.

O homem quando atinge a ejaculação, atinge também a pausa do desejo, senão mesmo o fim desse desejo.
A mulher quando atinge o orgasmo continua pronta para os que poderão seguir-se, visto a sua natureza ser mais psíquica do que fisiológica.

O prazer do homem sobe em flecha até atingir o orgasmo, e apaga-se de seguida, enquanto o prazer da mulher ondeia por todo o seu corpo, por isso o coito para ela nunca estar completamente acabado.
Por isso ser para a mulher tão “doloroso”a separação dos dois após o acto sexual e ela gostar de o ter dentro até todo o seu maravilhamento a deixar.

Evidentemente que há homens e mulheres que reagirão de modo diferente.

Este livro foi para mim, a abertura para o mundo da carne e do sexo, a hipótese de raciocinar sobre assuntos tabus, de que ninguém falava, e nem às amigas se dizia que se tinha lido.

Temas e Instituições