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30 de novembro de 2008

as Imagens valem mais do que mil palavras(I)

As imagens que ilustram os últimos posts publicados

O "Mago Tirano" das Finanças. Ficam as imagens e os factos dessa época, os primeiros tempos do fascimo português.

26 de novembro de 2008

Em Angola gritou-se pela autonomia

Casa Comum, 31 de Março de 1930

Carissima amiga

Como pode alguém ficar indiferente, perante a resistência a luta persistente de Mahatma Gandhi e seus discípulos e o seu protesto contra o domínio inglês na Índia

Como você sabe minha amiga a soberba inglesa espalha por todo o Império , não só essa mesma toleima, como usa a sua bota militar, para calcar, mesmo nas coisas mais insignificantes, todos os seus súbditos, que como sabemos, insiste em considerar como meros escravos. A razão da luta do pacifista Gandhi ganha por isso contornos de grande dignidade


Repare, que os indianos (e não só), são obrigados a comprar todos os produtos industrializados da Inglaterra, sendo proibidos inclusivamente de extrair o sal no seu próprio país, que acaba por se tornar o símbolo do colonialismo para todos os indianos.

Essa marcha começou, no dia 12 de Março como você sabe e eles vão de terra em terra, percorrendo os caminhos do País que deveria ser o deles, parando para descansar, e ganhando cada vez mais aderentes para a causa da liberdade. Quanto tempo mais aguentarão, pergunto eu ?

Então que me diz aquela história do Filomeno da Câmara em Angola ?

O Salazar depois de ter despedido o comissário Vicente Ferreira por telegrama, nomeia o militar Filomeno da Câmara, homem de confiança dos golpistas de 26 e como sempre nestes casos, não interessa sequer saber se o homem é competente. Engraxador era com certeza pois não sei se lhe chegaram a contar alguns dos decretos redigidos pela sua própria mão e publicados no Boletim Oficial de Angola, são no mínimo ridículos (por exemplo, trata o Presidente da República por "grande homem casto" .

Chega a Angola acompanhado pelo Morais Sarmento compicha de 26 e ao que parece muito pouco de fiar, e no mínimo fanático e completamente engajado as soluções fascistas tipo fusilar todos os "antipatriotas" com pretensões à independência de Angola, "liquidar os maçónicos" e dar cabo de todos os republicanos partidários da democracia "corrompida". (quem lhe terá encomendado o sermão ?).

Veja-se bem o que foi este homem como Director-Geral da Administração Pública, que incluía, quando julgava necessário, agressão física de funcionários, inclusivamente de altos funcionários.

O comissário Filomeno a páginas tantas retira-se para o sul de Angola com toda a sua família e em vez de cumprir o regulamentado, deixar a responsabilidade do governo ao seu substituto legal, o chefe de Estado Maior das Forças Armadas, como a lei determinava, confiou esse cargo ao obscuro tenente Morais Sarmento. Mais ainda: deixou-lhe folhas em branco já assinadas para que este pudesse publicar todos os decretos que entendesse.

O jovem Sarmento ao que parece terá começado a preparar um "golpe de Estado".Segundo alguns depoimentos, o seu projecto seria de prender o chefe do Estado Maior das Forças Armadas, o Coronel Genipro Almeida, e deportar centenas de opositores ao novo regime fascista português, nomeadamente no sector da maçonaria.

O chefe do Estado Maior foi mais célere e, durante a noite de 29 de Março do ano passado, cercou as forças do tenente Morais Sarmento e depois dum tiroteio , o exaltado tenente, acabou morto,

Abriram-se as hostilidades entre forças do Alto Comissário, que clamava por traição e as do Coronel Genipro, ambos reclamavam junto de Salazar também Ministro das Colónias a sua lealdade a Portugal.

Ouviram-se em Luanda pela primeira vez os gritos, pela liberdade e pela independência.

Por esta razão e por certo porque, a própria nomeação de Filomeno e de Morais Sarmento, tinham como principal tarefa, o apagar de alguns focos republicanos, maçónicos e liberais, que por Angola ainda existiam e que se conglomeraram em torno das forças do Coronel Genipro, o certo é que Salazar toma partido publicamente pelo Alto Comissário, mas no passado dia 16 de Março, deu -lhe ordem para vir à Metrópole para receber instruções, que na prática significa a sua substituição.

Todos sabemos e ele também, que os combatentes pela liberdade, ficaram em Angola, que fará ele a seguir ?

(Baseado no estudo
ANGOLA: CONFLITOS POLÍTICOS E SISTEMA SOCIAL (1928-30
por
Adelino Torres
ISEG-Universidade Técnica de Lisboa)

19 de novembro de 2008

O duplo ministro

Casa Comum, 31 de Janeiro de 1930

Há muito tempo que não lhe escrevo e muito embora nas questões políticas seja o meu amigo o mais erudito e eu mais para as artes, também não fico indiferente aos aspectos políticos.
Destaco a morte do Primo de Rivera, em Paris, no passado dia 16 de Março. Afinal o ditador espanhol, grande "farol inspirador" dos nossos governantes actuais e dos mentores do golpe original do 28 de Maio.

Contudo caiu em desgraça junto do rei e abandonado pelos altos comandos militares e pelo rei, apresentou a sua demissão e exilou-se em Paris, não sem antes recomendar a Afonso XIII alguns nomes de militares que poderiam suceder-lhe à frente do governo, entre eles o do general Dámaso Berenguer, o senhor que se segue.

Por cá continua a saga dos militares, meu caro amigo, aí está o general Domingos de Oliveira, um "velho talassa", ligado ao movimento da espadas, que levou o Pimenta de Castro ao poder em 1915. Enfim os governos e os ministros vão e vêm, mas o Finanças de Santa Comba, permanece, cada vez mais poderoso, embora com novas companhias, que duvido não seja ele a escolher.

Aliás os poderes do ministro Salazar, ficam mais que reforçados, já que ocupa a pasta das Colónias em acumulação. Curiosamente na sequência um conflito, em que o próprio Salazar, era interveniente, por causa da concessão dum crédito a Angola, que opunha as Finanças ao governador do Banco de Angola, Cunha Leal e que tinha estado na origem da queda do governo anterior.

Naturalmente que após a tomada de posse do novo governo, Salazar duplamente ministro, começa por demitir Cunha Leal, "deixando" que o Conselho de Administração, daquele banco, nomeie Mendes Cabeçadas para o substituir.

Hoje fica uma sugestão de zarzuela, já que falámos de Espanha, por razões bem menos felizes, fica um apontamento da La picola molinera, de Pablo Luna, estreada em 1928

11 de novembro de 2008

Menos um republicano em tempo de Ditadura

  • Casa Comum, 15 de Novembro de 1929 

  • As notícias vindas de Nova Iorque, são alarmantes, o que aconteceu na passada quinta-feira dia 24 com a quebra da Bolsa de Valores, bancos e investidores perderam grandes somas em dinheiro. 

  • A situação dos bancos foi agravada pelo facto de muitos deles que haviam emprestado grandes somas de dinheiro a fazendeiros, após o início duma grade recessão económica, estes fazendeiros tornaram-se incapazes de pagar as suas dívidas, cavaram enormes prejuízos, levando essas entidades bancárias ao descalabro. 

  • O pânico que instalou-se entre as pessoas, que temendo uma possível falência, correram a retirar os fundos, levando-as a fechar as portas. 

  • Consta-se que milhares de accionistas perderam, literalmente da noite para o dia, grandes somas em dinheiro. Muitos perderam tudo o que tinham. 

  • Temo que esta grave situação se venha a estender, pela Europa. Nesta caso quanto mais desenvolvidas são as economias maior é o estrondo, cá por casa, talvez não seja tão grave, porque a loja também é pequena. 

  • A procissão ainda vai no adro, vamos ver o que por ai virá. Se por um lado uma crise se avizinha, por outro algumas boas notícias para a humanidade, assim têm que ser observados, todos os avanços que possam haver no entendimento entre os povos , para defesa das garantias da condição humana.

  • Neste caso, aponto a assinatura da terceira convenção de Genebra, que teve como objectivo definir o tratamento de prisioneiros de guerra. Acabámos uma guerra há pouco tempo, tantas atrocidades foram cometidas, que urge consagrar os direitos que essas pessoas terão inerente à sua condição. 

  • Esta Convenção fixou igualmente os limites do tratamento geral de prisioneiros, como:
  • a obrigação de tratar os prisioneiros humanamente, sendo a tortura e quaisquer atos de pressão física ou psicológica proibidos.
  • obrigações sanitárias, seja ao nível da higiene ou da alimentação.
  • o respeito da religião dos prisioneiros.
  • permitir ao Comitê internacional da Cruz Vermelha (CICR) visitar todos os campos de prisioneiros de guerra sem nenhuma restrição e dialogar sem testemunhas como os prisioneiros.


  • Mas a morte de António José de Almeida a 31 de Outubro, foi para nós, republicanos e lutadores pela liberdade, uma perda terrível. 

  • Não só pelo simbolísmo de ter sido o 6° Presidente da República Portuguesa, mas por ser um Republicano desde os bancos da escola. Médico, esteve em S
  • ão Tomé a exercer a sua profissão mas especializando-se também em doenças tropicais. Ingressou no Partido Republicano Português e, mais tarde, também na Maçonaria e na Carbonária.

  • Foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente Lusitano já este ano, mas nunca pode tomar posse devido ao seu estado de saúde. 

  •  Aliás nos últimos anos, doente e prematuramente envelhecido, passou em silêncio literário e político os últimos anos de vida. 

  • O seu funeral foi uma manifestação impressionante de pesar. 

  • No dia seguinte o "Diário de Notícias" lançou a ideia de se lhe erigir um monumento, ideia que aprovo inteiramente.

8 de novembro de 2008

Está de chegada o Cerejeira

Casa Comum, 30 de Setembro de 1929

Minha cara Severa

Já ouviu falar dum tal Cerejeira ? Após a notícia do falecimento do cardeal D.António Mendes Belo, no dia 5 de Agosto, espera-se que Manuel Gonçalves Cerejeira, seja o seu substituto como cardeal-patriarca de Lisboa. Como Arcebispo de Mitilene, tem largas hipóteses, que isso venha a acontecer.

Homem dos arredores de Famalicão, é amigo íntimo do nosso homem das Finanças, já há largos anos desde os bancos da Universidade de Coimbra, formarão por certo uma dupla imparável, para mal dos nossos pecados, nada pior que uma ditadura de finanças, com a benção da Madre Igreja.

Vem ai uma campanha do trigo, com um lema "O trigo da nossa terra é a fronteira que melhor nos defende". Lema um pouco bélico, mas que traduz um objectivo concreto aumento da produção de trigo e o desenvolvimento de industrias subsidiárias, como a dos adubos e a da maquinaria agrícola.

Vamos ver se os aumentos da produção, não trarão erosão de solos e se os acréscimos de produção vão ser conseguidos à custa do aumento da área cultivada e não do rendimento.

Reveladora da admiração da nossa ditadura militar, foi o facto do Carmona ter recebido a delegação dos balilas, membros da Juventude Fascista italiana, onde vinham 2 filhos do Mussolini que por cá estiveram a 12 deste mês.

Foi este o ano do Nobel a Thomas Mann, merecido quanto a mim, muito mais pela Montanha Mágica, do que pelo Buddenbrooks a que o júri se referiu e que conta a saga duma família por 4 gerações.

A propósito do falecimento da soprano alemã Lilli Lehmann, só agora me lembrei que deixámos passar o falecimento em Maio da Condessa d Edla, a viúva de D.Fernando com quem casou em 1869, depois deste ter enviuvado, da rainha D.Maria II.

Elise Friedericke Hensler, a cantora de Ópera quase rainha de Portugal, amada pelo monarca e desprezada pela sociedade e pela história de Portugal, nunca conseguiu o reconhecimento como mulher do rei de Portugal , mas a quem por testamento D.Fernando deixou o Palácio de Pena em Sintra.

4 de novembro de 2008

A Portaria dos sinos

  • Casa Comum, 31 de Julho de 1929 

  • Minha cara amiga Severa: 

  • Isto é que têm sido tempos agitados, desde a última vez que falámos. O homem de Santa Comba esteve hospitalizado no hospital da Ordem Terceira no Chiado, mas pelo vistos não é grave, só partiu uma perna. 

  • Os amigos, dizem que o homem tem queda para as finanças. 

  • Eu acho que, às vezes há sinais , avisos que devemos respeitar, sobretudo quando se trata de quedas. 

  • Que me diz daquela coisa da Portaria dos sinos ? Como você sabe desde o tempo do Sidónio, que havia a proibição do toque dos sinos, fora das horas permitidas

  •  Uma igreja qualquer de Évora resolveu tocar os sinos fora de horas que o Governador-civil proibiu. Mete-se o arcebispo de Évora no assunto e faz queixa ao Mário de Figueiredo, que estava na chefia da Justiça e que entra a matar, publica uma Portaria, que permite manifestações públicas do culto católicos, com procissões e toques de sinos.~

  • Caldo entornado, Maçonaria em acção, e o ministro da guerra Júlio Morais Sarmento comanda protestos no próprio Conselho de Ministros e você bem o conhece como republicano, anti-clerical. 

  • Discute-se o "importantíssimo problema" e Mário de Figueiredo, impetuoso, perante a atitude contrária do ministro da Guerra e do Presidente do Ministério, apresenta o seu pedido de demissão. O nosso engessado perneta, imobilizado no hospital, quando sabe da atitude do seu companheiro de governo, escreve ao Chefe do Estado e ao Presidente do Ministério, a manifestar o seu desejo de se afastar, pretextando motivo de doença. 

  • O Presidente Carmona procurou harmonizar a situação. Figueiredo teima em manter a portaria. Sarmento obstina-se em reprová-la. O chefe Vicente de Freitas publicou uma nota oficiosa desagradável para Salazar e manda cortar pela censura uma entrevista dada pelo ministro das Finanças ao "Século",onde considera que a demissão do gabinete se filia em razões de ordem geral e não apenas por causa da portaria dos sinos. 

  • Uma coisa é certa Carmona não dispensa o Salazar, mas aceita a demissão do restante governo de Vicente de Freitas, afinal o governo a que presidia, caiu aos pés do seu verdadeiro chefe, o ungido do Senhor, o clerical Salazar.

  • Carmona, chama Ivens Ferraz para formar Governo. Salazar é o único que transita, mas o homem faz o que quer bate o pé, só entra na condição de se manter válida a portaria em causa. 

  • Você que anda lá pelo norte, deve ter sabido da reunião em Torres Vedras no passado dia 7, dos vitivinicultores do centro e sul criticando o chamado projecto de salvação do Douro, que visava proibir a entrada na região do Douro das aguardentes do Centro e do Sul.

  •  É de novo a defesa do vinho do Porto, velha questão iniciada com Pombal, mas que desta vez com o apoio nos Sindicatos Agrícolas, das Câmaras locais e da Comissão de Viticultura do Douro José Relvas, presente, considera a solução como imbecil, ele terá as suas razões, essa reacção já vem do governo de João Franco, que restaurou o regime de privilégio do vinho do Porto e que desde então, suscita larga controvérsia e a crítica de muitos agricultores de outras regiões do país, designadamente do Ribatejo.

  • Os americanos estão sempre a inventar coisas para ter a "coisa a mexer", e é desses movimentos que se gera dinheiro. 

  • Agora foi essa coisa dos Óscares, organizados pela própria indústria do filmes, para premiar os melhores. Esta primeira edição teve como vencedor do melhor filme um chamado Wings (Asas), que voce deve ter visto, é a história de dois jovens rapazes, um rico, outro de classe média, que se apaixonam pela mesma mulher, se tornam pilotos de guerra. Um filme com Clara Bow

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