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21 de agosto de 2008

A Liga de Paris precisa de asas para voar


Enquanto os sinais de reforço dos poderes ditatoriais continuam a acentuar-se em Portugal e no resto da Europa, acrescente-se, se torna evidente a clivagem entre as forças pró-ditatoriais e os resistentes republicanos.

A luta continua aberta, embora desigual, começando o ataque à imprensa livre afecta ás forças republicanas, como o ataque às instalações do jornal a Batalha, o jornal propriedade da União Operária Nacional de tendência anarquista, na sequência aliás da ofensiva contra o sindicalismo de esquerda, já que dias antes também a Confederação Geral do Trabalho havia sido dissolvida.

Em contra-partida o governo de Vicente de Freitas diz querer transformar o 1º de Maio numa Festa do Trabalho a ser "comemorada em serenidade, paz e harmonia social". É este o conceito das forças da ditadura, tentar governamentalizar o movimento sindical autónomo, por forma a que pela utilização de frases queridas aos ouvidos de toda a gente, colocar um orgão criado para defesa dos interesses dos trabalhadores ao seu serviço.

A Liga de Defesa da República, foi criada em Paris em torno de Afonso Costa, constituida por nomes como Álvaro de Castro, José Domingues dos Santos, Jaime Cortesão e António Sérgio, disseram-me que se propõe lançar dali as bases da luta contra a ditadura instalada no poder

Naturalmente que tenho algumas dúvidas, que essa luta dirigida do exterior possa ter uma acção preponderante, razão provável para que tenham considerado importante aceitar uma ligação à CGT por terem ligações com os comunistas e visto a República dever encaminhar-se para a esquerda, apoiando-se nas classes operárias, segundo a visão expressa por Afonso Costa,

Os sonhos de Afonso Costa e da Liga de Paris precisam de ganhar asas para poder voar. Voar como Charles Lindbergh, um jovem de 25 anos, que ontem conseguiu o feito brilhante e ousado de fazer a ligação a Paris por avião por sobre o Atlântico apenas em 33 horas e 31 minutos , tripulando o The Spirit of Saint Louis.

Casa Comum,22 de Maio de 1927

6 de agosto de 2008

Na década da autocracia europeia

Os indícios de autoritarismo que se estão a desenhar no nosso País desde o passado ano de 1926, são preocupação, como já disse mas sobretudo porque estão perfeitamente enquadrados, com acontecimentos que ocorrem no mesmo sentido em vários pontos da Europa.

Em Itália o regime fascista abole o cargo de elegível de presidente da Câmara,substituindo-o pelo de corregedor nomeado pelo governo civil. Alguns atentados contra Mussolini só agravaram o aperto reaccionário com a aprovação das leis fascistissime, com o desaparecimento de todos os partidos da oposição e a criação duma polícia especial a OVRA, para reprimir os anti-fascistas, culminando a sua acção com a prisão de António Gramsci,


lider do Partido Comunista Italiano.

O regime fascista "reestrutura" as relações entre o capital e o trabalho, criando o ministério das associações, ensaiando o corporativismo, acabando com a greve e o lock-out, estatificando e controlando a "luta de classes".


Em Espanha, Primo de Rivera celebra um tratado de amizade com a Italia, estabelecendo relações de amizade entre as duas ditaduras, ao mesmo tempo que a Alemanha é admitida na Sociedade das Nações, recebendo um lugar permanente no Conselho.

A URSS assina um tratado de amizade e neutralidade com a Alemanha, enquanto a luta interna pelo poder se vira em absoluto para o lado de Estaline, secretário-geral do PCUS, qu acaba por controlar firmemente todas as alas do Partido.

Está cada vez mais débil e oposição movida por Trotsky e Zinoviev, que se clamavam contra a crescente burocratização e contar o apego estalinista a uma nova máxima a seu ver anti-revolucionária, do "socialismo num só país".


Há efectivamente por todo o lado um forte movimento de contestação às liberdades políticas acentuando-se a tendência, para o autoritarismo estatal, sinceramente espero que não venha a acontecer em Portugal, muito embora os acontecimento deste último ano de 1926, não me dêem grandes esperanças,

O movimento militar e civil desencadeado em Fevereiro deste ano contra a ditadura militar, foi completamente desbaratado quer no Porto onde começou quer em Lisboa.O saldo foi violento, mais de 600 prisões, centenas de mortos e milhares de feridos.

Não admira que as felicitações ao governo da ditadura tenham partido das entidades patronais e dos países acreditados em Portugal por iniciativa do núncio apostólico.

Todos os funcionários públicos envolvidos nos movimentos reviralhistas foram demitidos, destacando-se algumas figuras proeminentes como Jaime Cortesão e Raul Proença, fundadores da Seara Nova e que eram directores da Biblioteca Nacional de Lisboa.

Em 10 de Março soube que foi publicado em Coimbra uma nova revista a que os seus criadores chamaram a Presença. A avaliar pelos nomes dos seus fundadores José Régio,João Gaspar Simões,Branquinho da Fonseca e Edmundo de Bettencourt auguro que façam um bom trabalho, embora tema pelo seu futuro.

Casa Comum, 20 de Março de 1927

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