Gostava de voltar para casa, tenho umas saudades do Alfredo….o que gosto dele….como fui tão cega, como pude fazer o que fiz….
O que pode fazer a parvoíce e a rotina…a rotina parece que mata tanta coisa, mas do lado dele não, eu bem sabia que me continuava a querer, mas era aquele ramerrame….era a vida sossegada demais, era pensar que queria aquele amor escaldante, a paixão numa palavra, esquecendo-me que o amor vale mais e quando o Afonso se fez a mim, parecia que me tinha devolvido a vida, ou a alegria…pelo menos a excitação e a malfadada paixão.
Não é justificação, bem o sei, porque pensei que o amava e só depois ……o depois para nada serve.
Não o devia ter feito, ponto, não lhe devia ter, sequer, dado a mínima hipótese e agora estou para aqui a chorar sobre o leite derramado, sem ter coragem de falar com o Alfredo.
Só depois de perdermos, perdermos não, que o que fiz foi deitar fora…..se eu pudesse voltar a atrás, mas só tenho é que assumir que lhe provoquei uma infelicidade imensa a ele, que nunca a mereceu e agora amargo e de que maneira.
Não tenho desculpa nenhuma, mas como poderei falar com o Alfredo se ainda por cima já passaram dois anos e tal, até é capaz de já ter outra e mesmo que não tenha, como me há de perdoar ter saído porta fora sem sequer o avisar, com a Mariana….
Céus, com a Mariana! Não estava mesmo boa da cabeça, parece-me que me enfeiticei….
Já deixei o Afonso há um ano e o Alfredo bem sabe que vivo sozinha, que não tenho ninguém.
Quando olha para mim, parece-me que me quer dizer alguma coisa, mas não é a vez dele falar, mas os meus olhos ficam sempre molhados, ele a olhar para mim e eu com olhos a pedir perdão…..só que para pedir desculpa não chegam os olhos , há que falar.
Mas de cada vez que o vejo a sair a porta com a Mariana, só me apetece gritar LEVA-ME, LEVa-me também…..mas a voz não sai e fico a vê-los partir já com as lágrimas as escorrer pela cara abaixo, e juro e torno a jurar a mim própria que quando vier trazer a Mariana lhe falo, lhe falo, lhe falo e repito sem fim a ver se me entra na cabeça, na coragem…..mas a voz não sai.
Tenho medo, tanto medo, que me diga não e nem sei o que me assusta mais, se é ficar assim eternamente, ou ouvi-lo dizer - não, nem pensar.
Já pensei em o convidar para almoçar, não pode é ser à sexta-feira, que ele vai com os amigos.
Almoçar, almoçar era boa ideia, metia um dia de férias e ficávamos os dois a conversar. Desta vez falo, desta vez vou-lhe perguntar se não quer cá vir almoçar na quinta…quando ele trouxer a Mariana….
Queres almoçar comigo na quinta? Não, não pode ser assim de chofre.
Alfredo gostava de falar contigo , queres vir almoçar aqui a casa na quinta, ou na quarta, ou na segunda…..segunda é que era mesmo bom, quanto mais rápido melhor e assim podemos ficar sozinhos a conversar
- Claro Isabel, segunda está ótimo, a que horas queres que apareça? Está bem, à uma estou cá.