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30 de dezembro de 2008

Ano novo em vida velha

Casa Comum, 2 de Janeiro de 1932

Minha cara amiga

Hoje tenho estado a ouvir o Russ Colombo numa miscelânea de êxitos de 1929, com a particularidade dele tocar violino e cantar, e outros êxitos como o Prisioner of love, ou o fantástico Paradise,

Enfim uma tarde a ouvir a música mais actual que vem lá fora como A Tear, a Kiss, a Smile, cantado pela Bebe Daniels e o Everett Marshall e a Janet Gaynor cantar aquela coisa do George Gershwin Somebody From Somewhere.

Foi assim que entrei o ano, embora preocupado, sobretudo com os sinais cada vez mais fortes, da aproximação entre a nossa ditadura e estado fascita italiano de Mussolini, com a chegada ontem do Italo Balbo, o ministro do Ar do Duce.

Em Outubro do ano passado, o conselho de Ministros, decidiu criar um Conselho Político Nacional, uma estrutura consultiva, composta por representantes dos sectores apoiantes da Ditadura coordenados pelo "chefe supremo" Salazar, mas essa decisão de Outubro, só agora em Dezembro teve a sua constituição oficializada, presidida pelo Carmona e que integra, Salazar, Armindo Monteiro, Manuel Rodrigues, Martinho Nobre de Melo, Mário Figueiredo e José Alberto dos Reis.O objectivo deste orgão consultivo. tem uma tarefa central, a preparação duma nova constituição, claramente é a Ditadura à procura da sua legalização.

É a resposta à tentativa da revolta dos aviadores de 26 Agosto, que durou 9 horas e cerca de 40 mortos. Entre os líderes da revolta o tenente-coronel Utra Machado, o major-aviador Sarmento Beires, Dias Antunes, Helder Ribeiro e Agatão Lança. mas com a participação de vários aviadores.

Como vc sabe o Sarmento de Beires, do partido Republicano, já tem história na oposição, pelo menos desde o golpe de 20 de Julho de 28, estando desde essa altura na clandestinidade e que por aí continuou, já que não foi apanhado, escapando ao destino dos outros, a deportação para Timor

Revolta foi derrotada pelas forças do governador militar de Lisboa, brigadeiro Daniel de Sousa. O planeamento da revolta falhou por completo pois estava planeado ser desencadeada ao mesmo tempo que a da Madeira.

Vamos ver o que vai dar este ano novo.



27 de dezembro de 2008

Manifestações orquestradas e novas polícias

Casa Comum, 30 de Setembro de 1931

Minha cara amiga

Primeiro as más notícias.penso que não sabe do falecimento em Abril de Henrique Oswald, o compositor brasileiro, como vc sabe foi um dos compositores mais importantes deste nosso tempo. Soube que ele tinha morrido em Junho, no Rio de Janeiro com 79 anos. Enfim um brasileiro, que matizou a sua obra, entre os coloridos da sua terra e as influência europeias, através dos seus estudos em Florença.

Prometi eu, começar com as más notícias, como se houvesse boas nesta terra. Pelo menos no que toca a novidades da vida política é sempre mais do mesmo.Agora o Salazar inventa truques de maquilhagem, como a dissolução da odiosa Polícia de Informações do Ministério do Interior, passando-a para a PSP, mas também incorpora a polícia Internacional Portuguesa, no Ministério do Interior. Não se espera nada de diferente, já que a esta polícia, que até agora tinha como missão vigiar fronteiras, irá ter por certo nova funções, já que Salazar tem evidentemente duas obsessões a Maçonaria e o Comunismo.

Em Maio no dia 19 o Lopes Mateus do Interior, mandou fechar e selar o edifício do Grémio Lusitano, a sede nacional da Maçonaria. Um dos últimos acto do Mateus, já que acabou por transitar para a Guerra substituindo o Schiappa de Azevedo

Os ataques à maçonaria e à centrais sindicais, não abrandam, quer à de predominância anarquista (CGT), quer a que os comunistas pretendem organizar a Comissão Inter-Sindical, na clandestinidade por forma a poderem substituir os sindicatos entretanto extintos.

Nada disto porém foi feito ao acaso ou de surpresa, a Ditadura preparou bem esse ataques, primeiro organizando uma manifestação espontânea gigantesca em 17 de Maio, de apoio a Salazar e a Carmona. Comboios especiais transportam para Lisboa, os "partidários da Ditadura", para uma concentração em Belém, perante o Carmona, comício no Teatro S.Carlos e no Coliseu ( a ópera buffa portuguesa no seu melhor) e o inevitável discurso do salvador da Pátria, desta vez com o título sublime "O interesse nacional da política da Ditadura". Parece que o Domingos de Oliveira o palhaço chefe do governo também discursou, mas francamente acho que ninguém lhe ligou.

No 28 de maio, mais um aniversário da "revolução nacional", já vai no 5º e mais uma organização da embrionária União Nacional, com a predominância tónica nos adversários habituais.

As manifestações de desagrado e resistência possível, limitou-se a uma bomba em Lisboa no Alto do elevador de Santa Justa e alguns tumultos na Rua do Carmo.

Quero entregar-lhe em mão o 1º número do jornal Avante, do Partido Comunista Português, que vc, muito embora não sendo bolchevique (tal como eu), não deixará de ler com muita atenção, mas com o máximo cuidado, por causa da polícia.

19 de dezembro de 2008

Dois meses de revolta armada

Casa Comum, 31 de Maio de 1931

Pois é verdade a minha amiga Severa sempre deixa para mim a codêa e come o miolo, que é como quem diz, a sensaboria das politiquices, reservando-se para o fascínio das artes.

Curiosamente parece que a substituição na pasta da guerra de Namorado de Aguiar por Schiappa de Azevedo, por desvarios conspirativos para derrube do Salazar, que "namorando" o Ivens Ferraz, trocavam segredinhos para o fazer saltar.

Consta-se que o homem têm ouvidos nas costas e adivinhou antes do tempo certo, ou talvez que não passasse de boataria, que a intriga também é muita e você, bem sabe como é esta gente da nossa terra.

Pelo sim pelo não, o Salazar não se mete com o general Ferraz, sempre é o Chefe máximo do Estado-Maior e com militares nunca se sabe.

Falando em guerra, estes 2 meses últimos foram em polvorosa, revoltas militares na Madeira, nos Açores e na Guiné, é obra.

Na Madeira começou em 4 de Abril e durou 28 dias, sob o comando da Junta Revolucionária da Madeira, presidida pelo General Sousa Dias, criou um embrião de governo provisório que tomou medidas de alcance económico e social, e que foi um pouco o feitiço contra o feiticeiro, pois teve origem nos deportados pelo regime para a Madeira que, seriam cerca de 200, entre civis e militares, numa altura em se sentia o descontentamento por sucessivas lutas da população da Madeira contra medidas do governo central de que é bem conhecida a "revolta da farinha" e os apertos orçamentais, que sempre aleijam mais o mais fraco.

Sendo assim minha amiga, foi como juntar a mexa ao trapo, mas 28 dias de resistência foi heróico, porém já foram derrotados pelas "forças leais ao governo", como eles dizem.

Nos Açores, o comandante Maia Rebelo, o capitão de mar e guerra João Manuel de Carvalho, o major Armando Pires Falcão e o sidonista Lobo Pimentel, chefiam o levantamento e aderem à revolta as ilhas de S. Miguel, Terceira, Graciosa e S. Jorge.

A 17 de Abril, na Guiné, prendendo o governador e não encontrando resistência, forma-se então uma Junta Revolucionária, naquela província, que formula a mesma luta contra Lisboa.

A desigualdade de forças, determinou o fim de todas estes levantamentos, afinal também reflexo da depressão de 1929, que como sempre nestes casos chega sempre mais tarde às economias mais débeis. A crise monetária europeia no início deste ano, fez-se sentir, nos seus efeitos bancários e cambiais, também em Portugal.

O governo de Oliveira Salazar encetou um conjunto de medidas restritivas, começando pelo orçamento de 1931/32, para o qual se prevê um decréscimo de 7,8% nas despesas, com um superavit de 1900 contos, mas com efeitos devastadores para as classe mais desfavorecidas.

Que importa ao homem das finanças, se o povo passa fome, o que lhe interessa é aferrolhar, poupar os 1900 contos de reis, é o que importa.

Não me esqueci da vitoria Republicana em Espanha, devem vir a dar-me por certo motivos para sorrir, mas foi só há mês e meio, em 14 de Abril, estou a reunir umas informações que depois lhe conto.

Como é habito acabar-se com música deixo-a com o hino da Segunda Republica Espanhola

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13 de dezembro de 2008

Uma passagem pelas coisas belas da vida

Casa Comum, 30 de Abril de 1931

Meu amigo

Já há muito tempo que aqui não deixo ficar nada, mas quando apareço trago novidades. Você sabe que o Leitão de Barros acabou um novo filme, por acaso o primeiro filme sonoro português, a que tive o privilégio de assistir em audição privada para amigos, já que a estreia está prevista lá para o mês de Junho no São Luiz.

A história é passada no século dezanove e narra as aventuras dum jovem cavaleiro, D. João, Conde de Marialva, dividido pelo amor da mítica e insinuante cigana Severa - a quem a lenda consagrou como fadista desditosa - e uma fidalga. Enredo ambientado nas lezírias e nas touradas.

Adaptação da obra homónima da autoria de Júlio Dantas. Entre os vários colaboradores de Leitão de Barros neste filme conta-se o cineasta francês René Clair, na planificação do filme.

Deixo-lhe um cheirinho do filme, um fado cantado pela protagonista Dina Teresa.





Como sempre mais virada para as questões da cultura, deixo-lhe a tarefa de comentar as politiquices nacionais e internacionais, esta que se vivem agora com as nossas revoltas internas sobretudo a da Madeira e Açores.

Falo-lhe da morte de Anna Pavlova, a maior bailarina de sempre. Russa de São Petersburgo e que morreu em Haia, com 50 anos, no dia 23 do passado mês de Janeiro.



Não posso acabar sem lhe recomendar o último do Charlie Chaplin o City Lights, porque sei o quanto vc aprecia o Charlot.

8 de dezembro de 2008

Chega mais um ditador

Casa Comum, 31 de Dezembro de 1930

Getúlio Vargas assume a presidência interina da República do Brasil, na sequência do golpe militar que depôs o presidente Washington Luís do passado dia 24 de Outubro.

É um gaucho, mas descendente de família açoriana, foi ministro das Finanças do presidente deposto, cargo que abandonou para assumir a presidência do Rio Grande do Sul.

Foi nomeado interinamente para a presidência do governo provisório com amplos poderes. A constituição de 1891 foi revogada e Getúlio passou a governar por decretos,

Como sabe cara amiga, isto chama-se governo de ditadura, mais um, nestes tempos conturbados da história das nações onde se degladiam as novas ideias republicanas de liberdade democrática, com a imposição pela força de conceitos normalmente conservadores e reaccionários.

Por cá as prisões aos que não beijam o anel ao regime, continuam a ser o destaque. O regime ditatorial, dia após dia endurece a sua atitude. Um presumível golpe foi o mote para a prisão de vários chefes republicanos como Sá Cardoso, Helder Ribeiro, Augusto Casimiro, Rego Chaves, Ribeiro de Carvalho, Maia Pinto, Correia de Matos, Pinto Garcia e Carlos Vilhena

Já tinham sido detidos em Maio João Soares, Moura Pinto, Tavares de Carvalho, Carneiro Franco, Raul Madeira e Cunha Leal. Tudo por causa de um presumível golpe, marcado para o dia 21 de Julho.

O mês de Julho, talvez pela força do calor, foi muito intenso, minha amiga, para o regime, não foram só as prisões e as deportações, o regime tenta organizar-se optando pela criação de um partido-estado, com uma ideologia denominada de nacionalismo-histórico, uma invenção que remete para o passado histórico e quanto a mim de "retoma monárquica", como não pode deixar de ser atendendo ao passado de 8 séculos de vida monárquica.

Nem ponta de ar fresco ou abertura, ás novas correntes do pensamento político moderno, dando oportunidade a algumas medidas socializantes de opção mais liberal, não, tudo é definido como cultura fechada e passadista. Uma política saloia, ferrugenta e beata.

É isso que anuncia a criação da União Nacional, papagiada pelo general-ministro Oliveira o dos Domingos, que leu o texto constitutivo desse partido enquanto o agora só ministro das Finanças o outro Oliveira, o de todos os dias, lia a teorização política do novo partido, com um discurso chamado Princípios Fundamentais da Revolução Política onde criticou as desordens cada vez mais graves do individualismo, do socialismo e do parlamentarismo.

Ao menos Getúlio Vargas tem para já uma coisa positiva o seu gosto pela música, (do nosso botas nada se sabe) talvez por influência de Heitor Villa Lobos, introduziu a disciplina de canto coral nas escolas de ensino médio em todo o Brasil.

Fica, para a minha amiga mais um vez a homenagem a Heitor Villa Lobos, o Trenzinho do Caipira, que como você sabe é o 4º movimento da Bachianas nº 2 os meus votos dum ano de 1931 um pouco melhor.




3 de dezembro de 2008

Domingos Oliveira o verbo de encher

Casa Comum, 31 de Maio de 1930

O tempo passa célere minha cara amiga Severa e já passaram 4 anos, desde o fim da república, consignado no golpe militar conduzido por Gomes da Costa, a "Revolução Nacional" como lhe chamam, os apaniguados da ditadura e lá foram os militares "generalados" ao beija mão a Salazar, numa sessão realizada na sala do Risco do Arsenal do Alfeite da Marinha, em Lisboa.

O Domingos de Oliveira a fingir de presidente do governo, chamou a atenção, para a necessidade de preparação da "nova ordem constitucional coma organização política civíl, que possa manter e continuar a obra da Ditadura, garantir a normalidade da vida pública concorrer decisivamente pata o fortalecimento e felicidade da Pátria".

A normalidade da vida pública, disse o chefe do governo, que como sabemos se assegura prendendo e deportando as vozes que se levantam em oposição como a de Cunha Leal, que depois duma estadia no Aljube, foi transferido para Ponta Delgada.

Essa é a normalidade da Ditadura, pois como você sabe também estão presos João Soares, Moura Pinto, Tavares de Carvalho, Carneiro Franco e Raúl Madeira.

Aliás pouca importância teve o discurso de Domingos Oliveira, a palavra do ministro das Finanças e das Colónias é que era aguardada, determinando de novo quem era o verdadeiro estratega do regime.

A palavra de ordem central de Salazar, centrou-se no Acto Colonial que foi publicado no passado dia 8. de acordo com a lógica da ideologia imperial de Portugal enquanto potência colonizadora.

Olhe minha querida vamos à música que é o que verdadeiramente nos enriquece e aquece a alma, nada como Beethoven , que me diz ao 3º Piano Concerto op. 37 ?







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