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14 de julho de 2008

Golpe militar a 28 de Maio


O almoço deste dia 30 de Maio, estava pesado, não porque o bacalhau à Gomes de Sá, que eu mandara a cozinheira Efigénia, prepara para esse dia ao almoço, fosse de condimentação pesada, mas porque o semblante da Severa Mourisca não agurava nada de bom, atendendo às notícias que eu acabara de lhe ler no O Século de hoje.

Estava excelente o bacalhau, que esse cozinheiro do Restaurante Lisbonense (na foto), havia criado e que segundo sabia se encontrava, bastante doente. A velha Efigénia se bem que minhota, há anos que viera para Lisboa e tinha servido nas melhores casa, pelo que não tinha dificuldade em confeccionar os pratos que eu lhe encomendava.

Não fora o caso deste bacalhau, já que a confecção é simples pois a sua receita tradicional propõe que o bacalhau seja cortado em pequenas lascas marinadas no leite por mais de uma hora. Assado no forno, com azeite, alho, cebola, acompanhando azeitonas pretas, salsa e ovos cozidos.

As consequências do golpe militar que sob a chefia de Gomes da Costa, se tinha iniciado em Braga no dia 28, tinham precipitado acontecimentos vários, desde a demissão do governo de António Maria da Silva, ao mesmo tempo que a guarnição militar de Lisboa, sob o comando de Mendes Cabeçadas, adere ao movimento de Gomes da Costa, com o apoio da polícia de Ferreira do Amaral.

Que não houvesse preocupação dizia eu à minha amiga Severa, era um movimento militar que tinha por objectivo restaurar a ordem pública e não tardaria a que o Bernardino Machado, nomeasse outros governo da confiança dos militares e tudo continuaria como dantes, ela que bem sabia que de Gomes da Costa se dizia que tinha cabeça de galinha e era sempre da opinião da última pessoa com quem falava.

Ela abanava a cabeça taciturna, dizia-me que desta vez SABIA, TINHA A CERTEZA, que esta revolta tinha chegado para ficar e que iria durar décadas, que passaríamos tempos de ditadura e os ideais republicanos e democráticos, postos em causa.

Não deixou de me perguntar sibilinamente se a escolha do almoço não fora uma subtil homenagem minha á revolta do outro Gomes. Descansei-a quanto ás minhas intenções políticas, já que das suas, fiquei sem dúvidas.

Dizia-me ela que não duvidasse das suas capacidades divinatórias e que me lembrasse futuramente que não foi por acaso, que a revolta de Gomes da Costa, havia começado em Braga, já que nessa altura também ali decorria o Congresso Mariano, e essa dupla entre a força e a Virgem Maria, chegara para durar.

Lembrei-me que há pouco tempo, havia elogiado a capacidade cívica organizativa dos portugueses, onde as pessoas participavam activamente , embora também se notassem alguns sinais de cansaço, pelas dificuldades mas sobretudo pela incapacidade política de encontrarem ponto de concórdia mínimos que pudessem suprir as dificuldades que o País atravessa.

Constava-se que Bernardino Machado se havia demitido e entregue o poder nas mãos de Mendes Cabeçadas novo chefe do executivo, que ele próprio havia empossado.

Para desanuviar o ambiente no fim do almoço, propus-lhe que passássemos à biblioteca, para ouvir um pouco da Turandot que estreara no Scala em Abril passado

Casa Comum, 31 de Maio de 1926

2 comentários:

Anónimo disse...

Não me digas o original bacalhau a Gomes de Sá não levava batatas cozidas?

precisávamos de uma Severa Mourisca agora, não achas? seria muito mais fácil.

beijinho

xistosa, josé torres disse...

Sempre detestei história ... não histórias.

Mas hoje tive a prova cabal do que tem sido a nossa monarquia, desde os primórdios ...

Se servem bacalhau à Gomes de não sei
quantos, sem batata cozida aos cubos, é natural e revoltante que nunca mais haverá paz no reino ...

Coisas simples que nos complicaram a vida ...

É pela batata cozida que nos servem indigestos pratos de política ...
Quem haveria de dizer???

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