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19 de julho de 2008

O simbolismo das palavras



Soube da morte de Camilo Pessanha,ocorrida há dias em Macau.

Disseram-me que vítima de excesso do amor ao ópio, o que não admira por ser tão frequente em terras do Oriente.

Felizmente que o hábito do consumo de droga, não está generalizado aqui em Portugal, muito embora se conheçam algumas pessoas mais abastadas a usarem a morfina e ópio.


Tantos anos em Macau, muito embora exercendo funções judiciais não o afastaram do consumo, nem da poesia, que aparecia duma forma dispersa, em jornais e revistas, pelo que só existe um único livro publicada em 1920 chamado Clépsidra.

Desfolhando a Clépsidra, parei neste poema chamado "Estatua" e nas palavras de Camilo, um mestre do simbolismo, deixo cair a minha apreensão, pelos sinais mais recentes da vida política portuguesa, desde o afastamento de Mendes Cabeçadas, um herói da Republica e das suas liberdades, substituído na frente do Ministério por Gomes da Costa, que acumula igualmente as funções de Presidente da Republica, desenha-se um perfil ditatorial para o governo de Portugal, que me não agrada

Em de 22 de Junho passado foi instituída a censura prévia à imprensa, não sendo permitida a saída de qualquer jornal, sem que 4 exemplares sejam presentes ao Comando-Geral da GNR.

E S T Á T U A

Cansei-me de tentar o teu segredo:
No teu olhar sem cor, - frio escalpelo,
O meu olhar quebrei, a debatê-lo,
Como a onda na crista dum rochedo.

Segredo dessa alma e meu degredo
E minha obsessão! Para bebê-lo
Fui teu lábio oscular, num pesadelo,
Por noites de pavor, cheio de medo.

E o meu ósculo ardente, alucinado,
Esfriou sobre mármore correcto
Desse entreaberto lábio gelado:

Desse lábio de mármore, discreto,
Severo como um túmulo fechado,
Sereno como um pélago quieto.

Não creio que Camilo tenha colocado nas palavras deste seu poema as minhas apreensões, outras estátuas por certo lhe aparecerão,a marcar a fronteira da distância que nos separa dos outros.

Como nos amedronta aquilo que não entendemos.

Casa Comum, 30 de Junho de 1926





2 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Visto ou lido á distância,
"Por noites de pavor, cheio de medo."
Lábios de mármore que não falavam, severo como um túmulo, sereno como o abismo que se aproximou.

Digam-me que há premonições e eu acreditarei.

Táxi Pluvioso disse...

Estátua bem-vinda pelo pombo és.

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