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3 de dezembro de 2007

Exijo uma estrela vermelha no boné de Funes

No meu blogue favorito, como já várias vezes tenho afirmado, que se chama funes el memorioso, por acaso também colaborador aqui da Casa, foi publicado um interessante e muito actual post, a que o seu autor chamou Nota importante, que me inspirou para esta intervenção.

A partir duma nota declarativa de desapego democrático e suas consequências nos processos eleitorais, porque segundo o autor, o voto de cada um dos eleitores não pode ser equalizado porque os cidadãos o não são. Em suma o voto dum analfabeto não pode valer o mesmo do que o duma pessoa instruída, o de uma pessoa abastada não pode valer o mesmo que o de um esfomeado, o de um inteligente o mesmo do que o dum estúpido.

Acho interessante a discussão deste ponto de vista, apenas no plano das ideias diga-se de passagem, onde todas as teses por mais inconcebíveis que o sejam, não devem deixar de ser consideradas. Lembro-me como achava idiota no meu tempo de estudante, ter de considerar como objecto de estudo o paradoxo de Zenão.

A aparentemente perigosa ideia explicitada pelo seu autor, levar-me-ia afinal a concluir em limite, que afinal o brilhante Funes, não passaria dum mero divulgador das ideias comunistas, ou do sistema eleitoral cubano.

A isto eu chamarei o meu paradoxo de Funes.


Explicando melhor, se os pressupostos para que o sistema eleitoral, um cidadão um voto possa ser considerado aceitável para Funes, nada melhor do que acabar com a propriedade privada e com a possibilidade de alguém enriquecer, ou então, optimizando, num País só de esfomeados a eleição já pode ser considerada aceitável.

Como por outro lado ao que parece e segundo constatei quando lá estive e ouço várias pessoas repetirem, Cuba é um país de gente culta, o que corresponde ao parâmetros eleitorais Funeanos, a uma excelente intervenção popular superior.

O facto de não haver muitas opções de escolha eleitoral, dizem, também não deverá ser factor de exclusão para Funes, sabendo-se que propostas emanadas só por super-inteligentes, são indiscutíveis, segundo se depreende da sua teorização.

Talvez os inteligentes não sejam muitos, mas pode sempre arranjar-se um lugarzinho, no Comité Central, para um brilhante advogado desiludido com o seu bastonário e com o seu País.

4 comentários:

António Conceição disse...

Bem, tenho que começar por dizer que a única coisa que verdadeiramente me incomoda neste post é a referência ao paradoxo de Zenão.
Zenão de Elea é um dos meus heróis. Era um génio que foi capaz de formular um problema que depois levou mais de dois mil anos a ser resolvido.
Quanto ao resto, algumas breves notas:
1- "o voto dum analfabeto não pode valer o mesmo do que o duma pessoa instruída" - evidentemente que não. Mas eu não confundo instruído com tiutlar de um canudo de qualquer natureza. qualquer idiota pode ter um canudo.
Por outro lado, importa esclarecer que o analfabeto idiota tem todo o direito de gostar mais de laranjas do que de bananas. Neste sentido, o voto do idiota é tão bom como o meu, que gosto mais de bananas. A questão não se coloca neste plano. O problema é que o idiota não é capaz de pensar. É estúpido, como normalmente eu digo. E com isto quero dizer que a sua mente é facilmente manipulável, havendo sempre alguém a convencê-lo que se gosta de laranajas e quer laranjas, então deve votar bananas.
A única razão pela qual eu afirmo que o voto dos analfabetos não presta é porque o analfabeto (rectius, o estúpido) é capaz de, enganado, escolher contra si próprio.
A teoria de o povo tem sempre razão é teoria que eu, de todo em todo não subscrevo. Só por mero acaso é que o povo tem razão.

2- "[O voto]uma pessoa abastada não pode valer o mesmo que o de um esfomeado" - Nunca disse isto, nem o subscrevo.

3- [O voto] de um inteligente [vale] o mesmo do que o dum estúpido - É claro que tem que valer mais. Isso nem merece discussão. Não há quem possa não concordar. A única dificuldade (como bem notava a Redonda no Funes, el memorioso) é saber qual o critério para distinguir um inteligente de um estúpido. Eu uso a minha consciência para o efeito. Ms reconheço que não é critério que possa erigir-se em critério universal, porquanto arranca de um pressuposto não demonstrado e, em todo o caso, por mim não demonstrável: o de que eu próprio não sou estúpido. Acredito piamente que não o sou, mas isso não passa de uma crença, uma fé. Insuficiente, portanto, para fundar uma teoria racional.

Mas o tema vale um ou dois posts. Deixá-los-ei aqui em breve.

António Conceição disse...

O meu texto anterior está cheio de erros gramaticais e de concordância, mas estou sem pachorarra para o corrigir. Depreenda-se do sentido o que quis dizer.

maria faia disse...

Parabéns Luís!
Se não fosses tu, talvez Funes O Memorioso, não quisesse voltar a postar na (ex)Casa Comum.

Luís Maia disse...

Uma clarificação Funes disse no seu blogue

O meu voto não vale o mesmo que o de um analfabeto, ou do que o de um tipo sem fome que é capaz de fazer uma cena grotesca numa praça, porque estão a dar castanhas, ou do que o de uma dona de casa que gosta do Manuel Luís Goucha, ou do que um de um murcão que fica horas e horas numa fila, para entrar num centro comercial num domingo à tarde.

Maria Faia

è sempre um prazer termos Funes entre nós

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