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14 de dezembro de 2007

Uma no cravo outro na ferradura


Há empregados que não se sabem defender dos patrões.
Há outros que pensam que sabem e são os modernos escravos.

Há patrões, para mim a maior parte dos patrões nacionais, que são tão maus, tão chicos espertos, que acabam sempre a lixar os empregados, mas que mais tarde ou mais cedo são também lixados por estes.

Este é um exemplo paradigmático de patrão e respectivos empregados:

Quem ouve estes empregados, nem lhe passa pela cabeça que podem fazer parte dos modernos escravos, no entanto assim é e no pior sentido.

Estes empregados, refilões que exigem, por exemplo, um pequeno frigorífico para as suas bebidas (águas e coca colas) e para os seus iogurtes, nos respectivos stands de feiras, são os mesmos que se levantam às quatro da manhã para estarem em Lisboa às cinco e meia da matina, carregarem o furgão com cinquenta quadros, 35 dos quais grandes, enormes formatos, que pesam imenso (desta vez têm-me a mim para os ajudar) arrumá-los com cuidado, deixá-los bem amarrados sem baterem uns nos outros, garanto-vos que é preciso arte, e partirem por volta das sete menos um quarto para o seu destino em Espanha.

Chegados lá, cinco horas depois, numa viagem onde o nevoeiro cerrado imperou, procura-se o local da exposição e descarregam-se os quadros.
Se achei difícil o carregamento, o descarregamento é uma enormidade.
O sítio das descargas é longe do stand, os quadros levados ao colo um a um, unicamente por dois, o outro tem de ficar no furgão.
Demora-se a descarregar um tempo infinito, digo eu que tomei o pequeno-almoço às quatro e um quarto da manhã, e são já quase duas da tarde, das nossas horas e eu sem comer nada.

O grave é que a exposição inaugura às 19h deles e já só há 4 horas para ir pôr as malas ao hotel, ir almoçar, desembrulhar os quadros, escolher os que ficam dentro do stand e em que parede, o que foi uma carga de trabalhos, porque foram para lá sem fazer a mínima ideia do tamanho das paredes, nem do stand, nem de nada, além do medo de que, no final de tudo, o patrão não gostasse da disposição dada.

Resumindo: eram sete menos um quarto quando tudo foi dado por concluído.
As pessoas de todas as outras galerias estavam frescas, bem arranjadas, bem pintadas, cheias de glamour.

Nós estávamos de jeans, sujas de pó por todo o lado, pinturas népias, olheiras até ao chão, ar mortiço, glamour nem sombra.

É na inauguração que vão os melhores coleccionadores, os representantes dos museus, o presidente da feira….

Este patrão, para poupar 45 € por quarto, por dia (miserável, que até para ir para a banheira se tinha de passar por cima da sanita, mas muito limpinho) para dois empregados, tinha-os obrigado, obriga-os todos os anos, a fazer este forcing. Qualquer deles está na casa dos cinquenta e bastantes.
Nem lhes vou contar a vinda para Portugal, por tão constrangedora.

Julgam que se recusam a fazê-lo? Julgam que refilam? Julgam que têm ajudas de custo?
Paga-lhes o quarto e as refeições, mas nem sequer as gorjetas lhe cobram.

No entanto, dizem mal do patrão para quem os queira ouvir; tanto ao comissário da feira de arte, como a um grande coleccionador e cliente desse mesmo patrão, esquecendo-se que se piorarem a imagem da Galeria, talvez vendam menos, que se denegrirem o patrão, talvez o cliente não volte e que se fizerem isto amiúde, talvez os empregos possam ser postos em causa.

E fiquei sem saber qual preferir, ou de qual tomar partido.

2 comentários:

xistosa, josé torres disse...

Li e depois ... quase ao chegar ao fim, lá vi uma luzinha.
O prémio!
Quando não tomamos uma posição de força, faltam-nos as forças ...
Primeiro boicotamos os pintores, directamente com eles ... ou pintam calendários de bolso, vá lá até A4 ou estão lançados ás feras.
O trabalho já melhora e m pouco tempo, metemo-los debaixo do braço e ala ... moleiro.
Vender em Espanha é muito mau.
Pega-se uma hora mais cedo, da diferença horária, e despega-se uma hora mais cedo, também da diferença horária, mas para cá, onde os relógios andam mais devagar.

Trocado por miúdos.
Não há horas extraordinárias e muito bem.
O empregado é para trabalhar e o patrão, que poderá ser, O PAI, em sinal de servilismo, sim de submissão de inferioridade, aquele PAI TIRANO ou NÃO.
Temos um problema na sociedade ... o patronato não tem habilitações nem conhecimentos, na sua grande maioria.
Só conhecem a cor do dinheiro e a nudez das amantes, onde esbanjam o que deveria ser investido.

Muitos, deixaram crescer protuberâncias logo abaixo das costelas ou do diafragma, que não lhe permitem ver a cabeça de pensar no "negócio" .
É a classe de investidores e empresários que temos em maioria.

Com a dificuldade de trabalho, o que pode fazer o assalariado?
Mesmo que não seja crente, dizer, amen!

maria faia disse...

Sei que tens razão Xistosa, mas também sei que assisti à pouco educada maneira de falar com o patrão, de mandar vir por merdas, e depois nas coisas mais importantes, ficarem calados.
Havia toda uma energia mal direccionada, que valeria a pena repensar.

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