
Não é o sítio nem o local para descrever todos os factos quer da ocorrência, quer das causas que motivaram, esse facto que se adivinhava na altura e tinham alguns como inevitável.
Fala-se hoje se a eventualidade da abdicação no seu filho poderia eventualmente evitar esse derramamento do sangue, eu direi peremptoriamente que não.
A crise era já longa, profunda e decorrente do evoluir das novas ideias, que emanavam do liberalismo, já então na sua evolução republicana e igualmente radicalizada pelas teorias anarquistas.
As culpas próprias inerentes ao seu diletantismo, no agravar dessa crise foram inquestionáveis, culminando no seu apoio directo a ditadura de João Franco, tida como a causa próxima do desenlace fatal.
Importa também referir o quanto D.Carlos foi igualmente vítima de ser rei dos portugueses. Primeiramente da estultícia imbecilóide de alguns políticos portugueses, País onde a maioria do povo passava fome, que não se desenvolvia, se cravava de dívidas, que não tinha indústria, pretender ser dona de meia África, só porque se mandava um punhado de exploradores valentes atravessá-la de costa a costa.
A isso se achavam com direito, políticos de um País que não tinha dinheiro sequer para criar uma carreira regular marítima para a Guiné.
Era este país de se achava no direito de afrontar a poderosa Inglaterra no apogeu do seu imperialismo encabeçado por Cecíl Rhodes.
Foi esta gente, essa corja de políticos que o rodeavam, que perante o definitivo e impaciente Ultimatum de 1890, proposto por uma Inglaterra fartíssima de os aturar, que sempre se refugiou atrás dum pseudo patriotismo, deixando ao rei o libelo acusatório de traição à Pátria e de colaboracionismo com os ingleses, quando toda a gente sabia que não havia outro caminho a seguir senão ceder.
Se por natureza D.Carlos nunca foi um rei popular, eventualmente por timidez, pois na intimidade parece que era muito simpático, esse acontecimento em definitivo arrasou a sua popularidade e viria a feri-lo de morte.
A queda da monarquia era inevitável, mas afirmo convictamente que mais do que os tiros da pistola carbonária que o matou foi a habitual mentalidade dos políticos portugueses, que preferem os seus próprios interesses partidários aos do País, que "preparam" a morte do rei.
Nesse tempo o conluio político-partidário chamava-se rotativismo, pois também já havia bloco central esses sim os verdadeiros regicidas qua armaram a mão de Buiça.