Foto de Flávio Moura- Afinal a verdade é tão simples! disse Matilde, enquanto viam, aquele esplendoroso pôr-de-sol.
- sim disse Isabel, basta estarmos aqui sentadas para vermos como é fácil percebê-la, entendermos todos os seus aspectos, com este fim de tarde melhor que o de muitos verões, por não estar tanto calor…
- nem vento, acrescentou Mitó, espreguiçando-se enquanto se reclinava. Como gosto de estar assim e sentir-me quase gata. Felicidade é poder estar a contemplar esta maravilha, sem mais nada pensar, sem mais cuidados que não seja imbuir-me deste espectáculo.
Não sei se é a verdade de que estão a falar, mas mostra-me, pelo menos a minha verdade, ou pelo menos, a verdade do que sou
- eu fico comovida, tal como o fico quando vejo um bom espectáculo de dança, ou ouço o terceiro andamento da sétima sinfonia de Beethoven, ou ouço Bach, ou Mahler, dizia Rita
Ter agora aqui a sétima de Beethoven para ouvir, era a felicidade que completava este bocadinho.
- a verdade, dizem vocês, o que será a verdade? A verdade é a realidade? Há tantas realidades, todas tão diferentes, ou a verdade pode ser a ilusão? Perguntou Luísa, com a voz arrastada, que era parte do seu encanto
- não, Luisa, a verdade é a beleza e a realidade, ilusão és tu e eu com esta filosofia de trazer por casa, disse numa gargalhada Rita
- estavas tu tão sonhadora e já estás a estragar esta quietude, provocou-a Mitó
- já repararam em todas as tonalidades que temos estado a assistir, o azul do céu que se foi transformando em amarelos, laranjas, em rubro, que passou agora quase a acastanhado , o areal em contra luz que fica quase preto
- mas se te virares para trás continua nesta cor que nem se sabe bem se branca amarelada, ou se creme esbranquiçada, por isso ser uma ilusão, Matilde
- não, Luisa, acho que a Rita disse parte da verdade, a realidade é a beleza; a ilusão é a maneira como percebemos ou interpretamos essa beleza.
não estás cá, Isabel? continuou Matilde, ou estás a ficar nostálgica
- fiquei a pensar no que disse a Mitó…..
- ela já disse tanta coisa
- …..que lhe mostrava a sua verdade, ou a verdade de que era feita. Tens razão, sabes? Mostra de que somos feitas, e vocês fugiram a ela, porque terá sido? Porque na verdade comove tanto estar aqui a assistir a este espantoso pôr-de-sol, como perceber que nos mostra o que somos, se calhar por isso é que nos comove, por nos vermos.
- que grande elogio nos estás a fazer a todas, tu incluída, disse risonha Mitó, tentando aligeirar
- e de que te sentes feita? Perguntou Luísa
- neste momento só aparece o melhor de mim, de nós todas, os defeitos, os erros, esses não os conseguimos ver, estando perante….isto, disse abrindo os braços, como se quisesse abarcar tudo.
- mas sabemos sempre, temos essa noção, que só estamos a ver parte da nossa verdade e por isso ficarmos comovidas, por nos vermos como reflexo esplendoroso, o que é raro, acrescentou Mitó, era isso que queria dizer há pouco.
- vês porque somos nós a ilusão, Luísa?
- claro, Matilde, achas que não estava também fascinada? Sei que o que estamos a sentir é só parte de nós, que somos parte da verdade, porque a Beleza nos esconde o que de pior temos, o menos bom, vá lá, para não ser muito negativista, disse sorrindo
Ficaram em silêncio, aproveitando sentirem-se reflexo esplendoroso, indo embora só quando já não havia uma única tonalidade no céu, agora já escuro.
10 comentários:
Li toda a postagem ... não gosto de ser bajulador, nem "alter ego", - outro eu -.
Fui eu que li.
A verdade e a realidade.
As ilusões das mesmas, conforme a "incidência da luz no prisma".
Não o luz cadente dum pôr de sol espectacular.
Em textos com muitos nomes, não me consigo concentrar ... sempre fui assim.
Ando a (fingir) que leio, "Ao Anoitecer" de Susan Minot.
Li 70 páginas se tanto ... são tanto os nomes, os parentescos e as situações, que me disperso ....
Aqui, os nomes são meras personagens, (penso eu), que ajudam e conjugam a "pintura" da verdade que cada uma vê e sente.
Agradeço-te Marta a deferência da tua dedicação ao mesmo tempo de recuperavas uma "velha" questão doutros locais.
Sobre a verdade e a ilusão das múltiplas verdades (digo eu), que defendo que não há multiplas verdades em cada fenómeno.
Há uma única verdade inerente à sua própria existência, o que acontece é que os observadores por variadissimas razões o observam de acordo com a sua própria perspectiva, os seus interesses ou por uma enorme soma de razões.
Quanto ao diálogo precisa de ser reflectido por força das várias personagens e carece de mais um pouco de atenção e reflexão, que prometo fazer.
Mas há muitos conceitos em jogo, como é habitual numa roda de mulheres, onde a objectividade normalmente anda arredia em favor dum certo tom poético, bonito de ouvir mas pouco propício a conclusões.
(Aposto que tenho uma data de homens a abanar a cabeça em tom de aceitação)
Julgo que nem a Luísa( que poderia ser Maia) defende o meu ponto de vista.
Sorri ao ler o comentário do Luís Maia!:)
Há momentos na nossa vida que nos faz esquecer o bréu da noite!
Acho que na sua grande maioria, os homens conseguem "ver" em outros momentos..menos belos...a beleza que é a VIDA...tal como o referiu o Luís Maia!! Penso que nós mulheres somos mais negativistas..e por vezes fazemos tempestades num simples copo de água!!!
Mas um por do sol?Quem lhe fica indiferente?? Eu no Sábado vi um..e atá as lágrimas me saltaram aos olhos..mas eu sou suspeita...que ando com as hormonas descontroladas!!hahahha Mas que é lindo...e nos faz sentir de bem com a vida..lá isso é uma verdade..e penso sim que tem a ver com a beleza que ele tem!!!
Adorei o diálogo das "senhoras"!
Um beijinho Marta!
Cleo
Olá xistosa
Já me ri, com as tua incapacidade de leres com muitas personagens
Sempre que lia autores Russos, como Dostoievski, ou Léon toltoi, tinha um caderno onde ia escrevendo o nome doas personagens, com a respectiva grelha de parentescos ou amizades.
Dava um trabalhão!
beijinhos
Olá Parceiro de escrita
É verdade, fui buscar a verdade, mas quase, quase, para te dar razão, mas dediquei-to também por ser mais na linha dos diálogos de mulheres sem falarem de homens.
Os assuntos, mais complexos, acabam por ficar, dentro e mesmo sem dar por isso , lá vão sendo trabalhados.
lindinho, o giro é não haver conclusões, o que interessa é levantar questões e se podermos alguma vez, ter tempo para as pensar, melhor, se não houver esse tempo, tanto pior.
Mas eu vou continuar a pensar, sem dar por isso
não pode ser assunto acabado.
Há assuntos que são complexos, em que nem sempre existe o preto e o branco, continuo eu a pensar.
Beijinhos
Olá Cleo
Mas nada há que mais comova que o belo pôr-de-sol.
E diz lá que não te sentiste uma privilegiada por o estares a presenciar?
que não desencadeou o melhor que há em ti.
Pensa que estavas neura, zangada, ou que seja, quando ali o estivesses a ver será que durante esse tempo que o tiveste a presenciar, sentirias esses sentimentos?
beijinhos
Olha eu a abanar a cabeça em concordância com o Luís Maia!lolol
Mas quem é q não gosta de 1 por do sol,de preferência à beira mar,numa daquelas tardes quentes de verão,num belo grupo de amigos,a beber umas imperiazitas,ou abraçado ao amor da nossa vida,heim?
Sentimo-nos sempre os reis do Mundo!
Mas ainda te digo mais,eu,q sou surfista,é 1 sensação inexplicável estar dentro do mar em cima de 1 prancha só a ver o sol a pôr-se.Fantástico Marta,acredita!
Beijoca para ti.
JC
Acredito, claro, porque eu também já fui, não surfista, mas fazia bodybord, por isso sei o que é estar entre o mar e um pôr-de-sol.
Caramba, mas no post só se está a falar de sentimentos, caneco!
beijinhos
Caneco,atão e o q o q sentes quando vês 1 por do sol não é sentimento?Aquela sensação de paz,de alegria por estares vivo,de te sentires a pessoa mais feliz do mundo e por aí fora,não é sentimento?Cum caneco.Mulheres!lolol
Beijo
JC
Não lindo
Isso são emoções!
Há diferença entre emoções e sentimentos, mas não peças que te explique porque iria ficar sem saber como o fazer.
É mais intuitivo que racional, e isto sim, é muito de mulheres.
beijinho
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