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4 de maio de 2009

Um exército de bajuladores


Casa Comum, 30 de Dezembro de 1937

Cara amiga

O certo é que a nossa vida política, continua marcada por dois acontecimentos, a guerra cívil de Espanha e a consolidação da ditadura salazarenta e da consequente aliança com o nacionalismo espanhol.

Bem que fora de portas, se tenta que a união dos anti-fascistas portugueses e espanhóis, consiga florescer, mas a morte duma das suas figuras mais proeminentes da república portuguesa, Afonso Costa em Maio deste ano veio complicar o desenvolvimento dessa propaganda muito embora Bernardino Machado, tenha inclusivamente transferido a sua residência do Mónaca para Paris para substituir Afonso Costa no Comité ali formado.

No passado Verão, Bernardino Machado dirigiu-se a Juan Negrin, Presidente da Assembleia da Sociedade das Nações, protestando contra a atitude da Ditadura de se aliar com os governos alemão e italiano nesse apoio a Franco.

Como disse Bernardino Machado “servir os inimigos da nova Espanha livre é servir os inimigos seculares do Portugal restaurado”, reavivando a questão das ambições alemãs sobre as colónias portuguesas.

Os contactos com a "resistência" em Portugal, segundo um relatório de Roberto Queiroz, um representante daquele comité que se deslocou a Portugal para tentar conseguir adesões foi bastante negativo. Nesse relatório, Queiroz dizia que era difícil obter o apoio de grande parte dos adversários da ditadura, pois constatara que, seria inviável qualquer projecto de revolução sem o apoio do Exército, e o único militar republicano que poderia congregar vários sectores do Exército era Ribeiro de Carvalho, e este não mostrava empenho em assumir a chefia militar de uma revolução.

Como se vê minha amiga, o exército português está perfeitamente engajado à ditadura, prefere a bajular o ditador, do que servir a Pátria.

Enquanto isso Salazar nomeia o amigo Pedro Teotónio Pereira como o agente especial de ligação junto de Franco. Depois de ter sido de 1933 a 1936 subsecretário de Estado das Corporações e dois anos como Ministro do Comércio e Indústria, foi agora nomeado para este "importante cargo" na esfera da diplomacia da ditadura, que pasme-se, contraria a política oficial da Inglaterra.

Costa Leite o antigo discípulo, outra da fidelidades de Salazar em acumulação com o comando da Legião foi agora nomeado Ministro do Comércio e Indústria, substituindo Garcia Ramires, o que poderia não ter nenhuma importância especial, não fosse o acentuar da tendência para cada vez se fechar mais o grupo dos eleitos em torno do ditador, tenho a sensação que cada vez é mais restrito o número dos "eleitos" perto do ditador, o que talvez possa significar alguma insegurança e muita cautela, talvez como consequência do atentado falhado a 4 de Julho.

A consequência desse atentado foram detenções, muita detenções e mais repressão, fala-se em Ernesto Faustino, operário, José Lopes,operário anarquista, morre durante a tortura, Manuel Salgueiro Valente, tenente-coronel, (no exército há sempre alguém que resiste) que morreu em condições suspeitas no forte de Caxias, Augusto Costa, operário da Marinha Grande, Rafael Tobias Pinto da Silva, Francisco Domingues Quintas, Francisco Manuel Pereira, marinheiro de Lisboa, Pedro Matos Filipe, de Almada e Cândido Alves Barja,marinheiro, de Castro Verde, que morreram no espaço de quatro dias no Tarrafal, vítimas das febres e dos maus tratos; Augusto Almeida Martins, operário, é assassinado na sede da PVDE durante a tortura ; Abílio Augusto Belchior,operário do Porto, morre noTarrafal, vítima das febres e dos maus tratos.

Todos militantes do PCP e deixo-lhe a lista dos nomes que me chegaram ás mãos, para que fique bem claro, que eu não lhe disse apenas que morreram alguns, digo-lhe quem foi que morreu e não acredito que todos eles estivessem envolvidos no atentado, mas na sequência comem por tabela.

Para acabar a "chatisse " da política como vc lhe chama, deixo-lhe a mensagem que Paiva Couceiro um insuspeito monárquico disse a Salazar, numa carta que lhe enviou

Cantam-se loas às glórias governativas e ninguém pode dizer o contrário. O Portugal legítimo do "senão, não" foi substituído por um Portugal artificial, espécie de títere, de que o Governo puxa os cordelinhos.

Vela a Polícia e o lápis da censura. Incapacitados uns por esse regime de proibições, entretidos outros com a digestão que não lhes deixa atender ao que se passa, e jaz a Pátria portuguesa em estado de catalepsia colectiva. Está em perigo a integridade nacional. É isto que venho lembrar.

Em memória de tanto morto, em Portugal e em terra dos nossos vizinhos espanhóis, vamos ouvir o Te Deum de Bruckner, uma peça que gosto muito, com os desejos que o próximo ano, seja menos doloroso.

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