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16 de março de 2009

Os infelizes tempos modernos

Casa Comum, 31 de Março de 1936

Caro amigo

Será possível que estejamos condenados a viver num mundo de ditadores ? Parece que os velhos tempos, a velha ideologia, se agarra aos argumentos mais violentos para assegurar a sua continuidade. Por certo que os principais alvos a abater passam pelos mesmos de sempre a inteligência e a cultura, os seus interpretes mais notáveis.

Foi o que aconteceu no Brasil e na ditadura do Getúlio Vargas, que em Março de 1936,mandou prender o grande escritor brasileiro Graciliano Ramos, acusado sem que a acusação fosse formalizada, de ter conspirado no levantamento comunista que houve em Novembro do ano passado. Foi preso em Maceió e enviado para o Recife, onde foi embarcado com destino ao Rio de Janeiro no navio, com outros 115 presos.

Mas mais do que a política eu lamento sempre o desaparecimento de pessoas da cultura, independentemente da sua cor ou da sua ideologia, sei que é um exagero dizer isto, mas é para mim tão importante a Arte e a cultura, que desculpo "qualquer coisinha", mesmo que isso possa reflectir um desvio em relação à minha maneira de pensar.

Quero dizer com isto que morreu em Bombaim no dia 18 de Janeiro, Rudyard Kipling, o prémio nobel da Literatura em 1907. Normalmente considera-se Kipling o principal representante da literatura imperialista, mas esta interpretação é superficial, se se aprofundar na sua obra , as preocupações com a relação entre os dominadores brancos e a população indígena, estão lá ainda que ele não seja exactamente um revolucionário

Para outros as suas principais obras Kim e O Livro das Terras Virgens, são convencionalmente consideradas obras infantis, mas que realmente não o são, moralistas ? por certo que sim, mas voltam sempre à realidade das relações sociais no Império Britânico, a sua grande preocupação.

Deixo a parte final do poema If (é muito extenso )

Se vivendo entre o povo és virtuoso e nobre...
Se vivendo entre os reis, conservas a humildade...
Se inimigo ou amigo, o poderoso e o pobre
São iguais para ti à luz da eternidade...

Se quem conta contigo encontra mais que a conta...
Se podes empregar os sessenta segundos
Do minuto que passa em obra de tal monta
Que o minute se espraie em séculos fecundos...

Então, á ser sublime, o mundo inteiro é teu!
Já dominaste os reis, os tempos, os espaços!...
Mas, ainda para além, um novo sol rompeu,
Abrindo o infinito ao rumo dos teus passos.

Pairando numa esfera acima deste plano,
Sem receares jamais que os erros te retomem,
Quando já nada houver em ti que seja humano,
Alegra-te, meu filho, então serás um homem!...
-( tradução de Féliz Bermudes)

Também fui à estreia do último filme de Charlie Chaplin os Tempos Modernos, já foi ver ?



A mensagem musical de hoje é um retorno a Maurice Ravel e á sua Rapsódia espanhola.



3 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

Ando com a teoria de que os portugueses amavam os tempos de Salazar, mas estou com muita preguiça em ir consultar os arquivos da Torre do Tombo. Também os arquivos da PIDE foram delapidados com a corrida á ficha depois da abrilada, o que torna a coisa difícil.

Não digo que meia dúzia não fosse contra, há sempre pessoas contra, uns são do Benfica outros do Sporting, mas no geral adoravam o homem.

Luís Maia disse...

Por esta altura e pelo menos até aos anos 50, concordo consigo, é minha convicção que a maioria, até por força dos condicionalismos culturais (ou falta dela), o amava como vc disse.

A questão das minorias "revolucionárias", é um facto que "tem mesmo que ser assim", porque se a corrente de pensamento maioritária não fosse a que o amava, ele não se tinha mantido tanto tempo.

A tal abrilada como vc lhe chama, triunfou, porque realmente a contestação ao regime e sobretudo à guerra colonial, já era maioritária e a maioria dos portugueses há muito que já não amavam o regime.

xistosa, josé torres disse...

Manter um povo sem saber ler e escrever e à luz duma vela tem vantagens inestimáveis.

Por isso gosto deste mundo ... só os espertos é que vivem ... os outros sobrevivem.

Mas se todos os dias acordarmos com os dedos dos pés a mexer ... é bom sinal ...

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