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9 de março de 2009

Morreu o Fernando Pessoa



Casa Comum, 29 de Dezembro de 1935

Cara amiga


A morte do Fernando Pessoa, no dia 30 de Setembro passado, foi algo que me marcou muito, embora tenha passado despercebido da maioria das pessoas, pois como você sabe, só no ano passado se publicou a Mansagem o único volume dos seus versos em português, publicado em vida, espero que como é habitual na nossa terra, os poetas e as pessoas de valor, só são homenageados depois de morrer, espero que Pessoa venha a ser reconhecido.

Estive presente em muitos dos cafés da nossa Lisboa, onde ele parava, muito embora também fossem largos os seus tempos de solidão. Tempo houve em que o ouvi defender o doutor Salazar, muito embora nos últimos anos, tivesse "mudado a agulha" por completo e muito bem, porque se existe algo mais contrário ao feitio de Pessoa, é o autoritarismo.

Ultimamente têm aparecido um poemas satíricos que confirmam o que eu disse


António de Oliveira Salazar
Três nomes em sequência regular...
António é António
Oliveira é uma árvore.
Salazar é só apelido.
Até aí está tudo bem.
O que não faz sentido
É o sentido que isso tudo tem

Relativamente recente também é a sua paixão pela astrologia e pela reencarnação, como se prova por uma coisa que escreveu, sobre o desaparecimento do astrólogo inglês Aleister Crowley, que tinha vindo a Lisboa para o conhecer e que segundo a polícia terá sido assassinado.

Disse Pessoa a propósito disso O Crowley, que depois de suicidar-se passou a residir na Alemanha, escreveu-me há dias.

Eu sei que você adora o Fernando Pessoa, talvez depois me queira dar a sua opinião sobre ele, mas para já deixo-lhe um dos poemas dele que mais gosto.

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para o pé do Fado,
Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansar-mo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente.
E sem desassossegos grandes.

O resto da nossa vida política actual é mais do mesmo, são tentativas de revolta como a do Rolão Preto, que regressara do exílio. Planeou-se um ataque ao quartel da Penha de França em Lisboa, mas a PVDE, que sabe tudo, gorou os intentos dos revolucionários, comandados por Mendes Norton, integrando militares e civis republicanos e nacionais-sindicalistas, que tinham como objectivo estratégico forçar o presidente Carmona demitir Oliveira Salazar. A consequência foram prisões e várias deportações.

No mês passado continuaram as prisões, sobretudo no interior do Partido Comunista, que embora na clandestinidade é a única força que continua a manter uma actividade regular e organizada da resistência à Ditadura Foi preso Bento Gonçalves o secretário-geral do PCP, que o era desde Abril de 1929, mais outras figuras do secretariado Júlio Fogaça e José de Sousa

E cá estamos de novo no fim de mais um ano, os votos são sempre os mesmos, que o próximo ano nos tragam o fim deste regime .

O meu convite musical para hoje é uma volta por Tchaikovsky vamos ouvir a Francesca de Rimini.


2 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

O poeta que cantou os portugueses foi António Botto e não Pessoa ou Camões.

Camões foi usado por Salazar para dar tom épico aos portugueses. Depois da abrilada viram-se para pessoa para parecerem mais intelectuais, mas Botto é que lhes conhecia a alma.

Luís Maia disse...

Mas como sabe o Botto, foi o primeiro português a ser julgado por homossexualidade (Não sei se o único) o que não coincidia com a imagem puritana que Salazar pretendia para Portugal, a terra de Santa Maria.

Pessoa e Botto eram poetas urbanos, talvez afinal nenhum deles fosse a voz do Portugal rural, que não conheciam.

Botto não vais escapar por certo à pena sensível da minha amiga Severa.

Um abraço

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