17 de abril de 2008
Sentimentos contraditórios
Não sendo habituais estas trocas, desta vez o Henrique, pediu a antecipação do almoço para hoje, por ser sua intenção passar o fim-de-semana a sós.
Coube ao Silva a escolha do restaurante, lembrando-se de repetir um, que bem conhecemos praticamente desde a sua abertura, quando ainda se resumia a uma pequena sala onde cabiam no máximo 12 pessoas. Hoje, O Poleiro, alargou as instalações mas manteve a qualidade da sua cozinha minhota ali à Rua de Entrecampos em Lisboa.
Estávamos os 5 um pouco tensos, dado os acontecimentos da semana passada e as revelações que Henrique nos fizera, acercas das sua relações pessoais.
Duas ou três piadas aos dois benfiquistas, pela banhada de ontem não disfarçaram o ambiente
.
De todos nós, eu era o mais íntimo do Henrique, mas sabia tanto do que se tinha passado, nesta semana como os outros. Há momentos em que as decisões que tomamos, não são objecto de ajuda de terceiros. Ele tem o meu número de telefone, se não tomou a iniciativa de me ligar, provavelmente não achou necessário.
-Estão a falar com um homem separado. desde sábado que estou hospedado um hotel- disse o Henrique. Tive com a Luísa uma demorada conversa, onde lhe confessei o que se passava comigo. Como a Mafalda se tinha apossado de mim, dos meus sentidos da minha vontade. Expliquei-lhe que não me era possível continuar com ela, sem afrontar, tudo o que tinha sido o nosso passado e o respeito que sempre tivera por ela.
-Ela olhou-me profundamente nos olhos, misto de algum desalento e de muita surpresa-continuou o Henrique- acabando por me perguntar, onde tinha errado , qual o quota parte dela no fracasso do nosso casamento.
-Teria preferido que me agredisse, que me maltratasse-continuou- esse olhar, essa pergunta e o silêncio que se seguiu, feriram-me profundamente, mas justamente. Da Luísa nada tenho a dizer, também me lembro que nos amámos, até ao dia em que passei a não ser dono de mim.
-Nesse dia mesmo, enquanto metia meia dúzia de peças de roupa numa mala, pensei como era duro que um sentimento tão belo e profundo como o meu amor pela Mafalda para se realizar tenha que passar por me colocar perante tantos sentimentos contraditórios, como a quebra de lealdade, a ingratidão ou o esquecimento do amor que outras pessoas nos dedicam.
-Então e a outra gaja, já a comeste ?-perguntou o Silva, um pouco ao sabor doutros almoços mais ligeiros. Embora a sua quase inocente boçalidade, não tenha desta vez colhido os sorrisos habituais.
-A Mafalda ? Nós temos um pacto ,queremo-nos para vida, mas sem teias, nem restos do passado, libertos e renascidos, Que cada um resolva, ou não, essas questões, é um problema individual.
-Então e tu ? perguntei eu, que bem conheço o Henrique.
-Eu ? Não sei se conseguirei algum dia voltar a ser feliz. Agora que descobri o meu Amor, deixando para trás a amargura de ter querido trair um amigo.
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5 comentários:
Olá Luís
Desculpa, só agora ter vindo aqui.
E não sou capaz de comentar grande coisa
Lembras-te da história que escrevemos, no Claras, a cinco mãos?
Acho que já lá está quase tudo.
Comecei este comentário a pensar dizer-te que não ia continuar a história.....
mas olha mudei de opinião
vou sim, vou continuar.
Desculpa nem sequer ter dado por teres postado, apesar de saber que o farias na sexta-feira, mas tenho andado meio distraída e com 0% a emocional e a intelectual.
sorriso
beijinho
A nossa vida é assim os biorritmos são determinantes, com 0 mais vale não fazer nada, muito menos escrever.
Eu vou continuar mais um tempo a relatar os meus almoços de 6º feira, acho que vale a pena que se fale de nós.
Nós existimos, também sofremos e choramos, embora para algumas mulheres, esse tipo de problemas só a elas diga respeito.
Luís Maia
Bem,confesso q também não tinha dado ainda pelo post.
Estes jantares de homens são sempre muito peculiares.lolol
Teve sorte o "Henrique" com a "Luisa",nem todos podem dizer o mesmo.Mas foi Mulher!
Acredito q não seja fácil para o "Henrique" daqui para a frente não se sentir sempre com 1 ponta de remorsos,apesar de ter sido Homem e fazer o q muitos não fazem.
Mas o assumir perante todos e principalmente pelo amigo,vai minimizar de certeza esses "sentimentos contraditórios".
Vai haver próximo almoço,certo?
Abraço
JC
Meu caro Imperador
Acho que vou continuar com os almoços mais um tempo.
Se quiser aparecer num deste almoços é bem vindo.
Há aqui um que também amava a sua Imperatriz (a dele claro) e um dia ficou sem ela, passaram 10 anos e ainda não a esqueceu, só que gosta de fingir contrário.
Luís Maia
Eu acho uma piada aos jantares de homens e principalmente à maneira descontraída que sempre têm de enfrentar o maior dos terramotos!!
Mas afinal..também os há com sentimentos (explícitos..quero eu dizer)!! Acho que este sentimento contraditório que o Henrique está a sentir..é perfeitamente natural...para alguém que seja realmente íntegro e que não queira viver na mentira!!!
Acredito que vivesse com maior peso na consciência se continuasse a enganar-se a si próprio e aos outros.Dói sempre mais!!!
Gostei muito!
E vai haver próximo..não é?
Cleo
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