- Casa Comum, 31 de Julho de 1929
- Minha cara amiga Severa:
- Isto é que têm sido tempos agitados, desde a última vez que falámos. O homem de Santa Comba esteve hospitalizado no hospital da Ordem Terceira no Chiado, mas pelo vistos não é grave, só partiu uma perna.
- Os amigos, dizem que o homem tem queda para as finanças.
- Eu acho que, às vezes há sinais , avisos que devemos respeitar, sobretudo quando se trata de quedas.
- Que me diz daquela coisa da Portaria dos sinos ? Como você sabe desde o tempo do Sidónio, que havia a proibição do toque dos sinos, fora das horas permitidas
- Uma igreja qualquer de Évora resolveu tocar os sinos fora de horas que o Governador-civil proibiu. Mete-se o arcebispo de Évora no assunto e faz queixa ao Mário de Figueiredo, que estava na chefia da Justiça e que entra a matar, publica uma Portaria, que permite manifestações públicas do culto católicos, com procissões e toques de sinos.~
- Caldo entornado, Maçonaria em acção, e o ministro da guerra Júlio Morais Sarmento comanda protestos no próprio Conselho de Ministros e você bem o conhece como republicano, anti-clerical.
- Discute-se o "importantíssimo problema" e Mário de Figueiredo, impetuoso, perante a atitude contrária do ministro da Guerra e do Presidente do Ministério, apresenta o seu pedido de demissão. O nosso engessado perneta, imobilizado no hospital, quando sabe da atitude do seu companheiro de governo, escreve ao Chefe do Estado e ao Presidente do Ministério, a manifestar o seu desejo de se afastar, pretextando motivo de doença.
- O Presidente Carmona procurou harmonizar a situação. Figueiredo teima em manter a portaria. Sarmento obstina-se em reprová-la. O chefe Vicente de Freitas publicou uma nota oficiosa desagradável para Salazar e manda cortar pela censura uma entrevista dada pelo ministro das Finanças ao "Século",onde considera que a demissão do gabinete se filia em razões de ordem geral e não apenas por causa da portaria dos sinos.
- Uma coisa é certa Carmona não dispensa o Salazar, mas aceita a demissão do restante governo de Vicente de Freitas, afinal o governo a que presidia, caiu aos pés do seu verdadeiro chefe, o ungido do Senhor, o clerical Salazar.
- Carmona, chama Ivens Ferraz para formar Governo. Salazar é o único que transita, mas o homem faz o que quer bate o pé, só entra na condição de se manter válida a portaria em causa.
- Você que anda lá pelo norte, deve ter sabido da reunião em Torres Vedras no passado dia 7, dos vitivinicultores do centro e sul criticando o chamado projecto de salvação do Douro, que visava proibir a entrada na região do Douro das aguardentes do Centro e do Sul.
- É de novo a defesa do vinho do Porto, velha questão iniciada com Pombal, mas que desta vez com o apoio nos Sindicatos Agrícolas, das Câmaras locais e da Comissão de Viticultura do Douro José Relvas, presente, considera a solução como imbecil, ele terá as suas razões, essa reacção já vem do governo de João Franco, que restaurou o regime de privilégio do vinho do Porto e que desde então, suscita larga controvérsia e a crítica de muitos agricultores de outras regiões do país, designadamente do Ribatejo.
- Os americanos estão sempre a inventar coisas para ter a "coisa a mexer", e é desses movimentos que se gera dinheiro.
- Agora foi essa coisa dos Óscares, organizados pela própria indústria do filmes, para premiar os melhores. Esta primeira edição teve como vencedor do melhor filme um chamado Wings (Asas), que voce deve ter visto, é a história de dois jovens rapazes, um rico, outro de classe média, que se apaixonam pela mesma mulher, se tornam pilotos de guerra. Um filme com Clara Bow
4 de novembro de 2008
A Portaria dos sinos
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3 comentários:
Esta coisa dos sinos sempre me fez confusão. Compreensíveis antes da invenção do relógio, marcava as horas da padralhada rezar, e dos afazeres dos aldeões em volta das igrejas e conventos.
Com os relógios são uma fonte de poluição sonora no tecido urbano e rural. Mais curioso é as pessoas gostarem e defenderem. Em Portugal não se conhece o conceito de medicina preventiva, a poluição sonora provoca excesso de cortisona no corpo e consequentes doenças do foro circulatório. É a forma do corpo se defende do excesso de barulho. Mas para os lusos é mais importante o barulho ao qual estão "acostumados".
E olhe que está para chegar o Cerejeira
O meu bisavô paterno participou nas manifestações contra as aguardentes do sul. O castigo foi ter em casa um soldado da GNR para o vigiar nas suas atividades protetoras do vinho da região. Quando lhe levantar o cerco e o soldado teve de ir embora o rapaz não queria. Afinal comia melhor na casa fo prisioneiro do que no quartel da Guarda
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