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20 de junho de 2010

A guerra nas Ardenas e os GACs internos



  • Casa comum, 28 de Fevereiro de 1945
Amiga Severa

Enquanto a guerra de recuperação aliada, continua violenta na Europa, muito centrada na Bélgica, que os nazis consideram crucial recuperar, para cortar as ligações aliadas. O plano central de operações é nas Ardenas na Valónia, conta-se até um episódio saboroso, passada com o General McAuliffe no decorrer da Batalha do Bulge, que ao receber um ultimato de rendição dos alemães respondeu "Nuts", mas que ele já desmentiu dizendo que respondeu, usando outra palavra também com 4 letras bem mais forte.


Em Setembro de 1944, o Avante! declarara que as condições estão maduras «para que, num próximo futuro, o Povo português se levante em massa contra a tirania fascista»:

Como preparar essa grande ofensiva? Nas fábricas e nos campos, os movimentos reivindicativos devem ganhar uma nova intensidade, Devem multiplicar-se as reclamações por melhores salários, por um justo horário de trabalho, contra os descontos, contra o imposto profissional, pelo pagamento a dobrar das horas extraordinárias, etc. As comissões de unidade, escolhidas ou aprovadas pelos trabalhadores, em cada fábrica ou empresa, em cada localidade, em cada herdade ou povoação, devem formar-se às centenas, para encabeçar esses movimentos. As lutas reivindicativas devem unificar-se, tornar-se lutas por indústria, por localidade, por região. Os sindicatos nacionais e as casas do povo devem ser chamados e arrastados à luta.

Nestes movimentos reivindicativos, uma perspectiva deve estar bem clara: as massas unidas, solidárias, com os seus organismos de unidade constituídos, terão dentro em breve que lançar-se em lutas vigorosas contra o governo fascista, em amplas greves, manifestações, movimentos de protesto.

Para o que propunham a criação dos GACs (Grupos Antifascisas de Combate) com o objectivo de :

São necessários para as lutas que antecedem a insurreição. Um GAC que se formasse e ficasse esperando de braços cruzados a hora H da insurreição seria hoje um organismo quase inútil e nunca poderia vir a ser amanhã um destacamento armado para a insurreição.

Desde já podem ser atribuídas aos GACs importantes tarefas de harmonia com a situação presente. Aos GACs pode caber a defesa armada das massas contra a brutal repressão fascista, o assalto e distribuição pelo povo de géneros açambarcados, a defesa do povo e dos militantes antifascistas contra os seus inimigos, a execução de campanhas de agitação, a obtenção de armas e munições quer para o próprio GAC, quer para outros, etc. Estas são algumas das tarefas gerais que, desde já, os GACs poderão começar a levar a cabo.

É a tentativa do PCP, de preparar o povo para o fim da guerra que se adivinha pelo menos na esperança de todos nós.

No mês passado foi desmantelada mais uma tentativa de golpe militar, para derrubar Salazar, mais uma que aborta entre quartéis e que integrava elementos de sectores liberais, dos meios monárquicos, que se movimentam desligados do PCP e desse GAC s que estão sendo criados. São muitas as desconfianças que impede a unidade nacional anti-fascista necessária para o bom êxito desses projectos.

Afinal foi só o descontentamento do funcionalismo civil e militar que criou esse boato. A 14 de Fevereiro, porém, Salazar concede um aumento salarial de 15% o seu braço direito militar o tenebroso Santos Costa procede a algumas trocas de chefia e tudo se acalma.

Para hoje a 3ª Sinfonia de Rachmaninov pode ser um bom motivo para a esperança





14 de junho de 2010

Salazar um anti-imperialista convicto



  • Casa Comum, 30 de Novembro de 1944
Cara amiga


Os Estados Unidos, sobretudo as autoridades militares norte-americanas, não ficaram satisfeitas com o teor do acordo luso-britânico de 1943, uma vez que este não previa a possibilidade de as forças norte-americanas terem acesso directo à base inglesa, que foi cedida unicamente à Inglaterra e, apesar de estar previsto o seu uso “para o reabastecimento de aviões e navios das Nações Unidas”, a “manutenção de unidades americanas em permanência” não era contemplada, como falámos na altura

Ora para os americanos esta situação tinha um duplo inconveniente: por um lado, continuava a faltar uma escala fundamental no transporte das tropas americanas para os continentes europeu e africano; por outro lado, sendo a base dos Açores um estabelecimento britânico, não assegurava os direitos de longa duração que os americanos pretendiam já adquirir.

Na verdade, os americanos tinham já elaborado vários planos para o estabelecimento a longo prazo de bases militares na chamada esfera de influência e de protecção do continente americano e as ilhas dos Açores figuraram sempre como uma prioridade

Roosevelt tinha já a 14 de Outubro de 1943 informado Churchill que os Estados Unidos iriam, de imediato, iniciar uma aproximação directa ao governo português no sentido de obter “facilidades de aviação” nos Açores e de garantir a utilização de tais facilidades por parte das forças norte-americanas envolvidas no esforço de guerra aliado

Os Estados Unidos dispensaram a intervenção do Reino Unido como intermediário e como interlocutor privilegiado em Lisboa e passavam a desenvolver uma diplomacia autónoma para com Portugal e isso já é uma novidade, atendendo a como sabemos Salazar também não gosta de americanos e que terá afirmado a George Kennan, conselheiro da embaixada americana em Lisboa, que as pretensões americanas era a “manifestação de imperialismo que avança em relação à Europa” pelo que “teremos de defender esta até ao extremo limite das nossas forças.

Há um ano que negoceiam pelo que julgo saber os americanos tiveram portanto que amenizar muito as pretensões iniciais que passaríam por uma verdadeira tomada do arquipélago.

No dia 23 de Novembro do ano passado Salazar recebera Kennan, que trazia uma carta de Roosevelt, na qual se salientavam as vantagens, “no que respeita ao encurtamento da guerra e ao salvamento de vidas”, da utilização pelas forças norte-americanas de facilidades nos Açores.

O acordo principal entre os dois governos só foi assinado Há dois dias por Oliveira Salazar e pelo embaixador Henry Norweb.

Os governos português e americano comprometeram-se a construir na Ilha de Santa Maria um aeródromo para servir de “base aérea”, sendo que a “parte dos trabalhos” a cargo do governo português seria executada “por intermédio de uma empresa privada”.

Todas as construções “uma vez em estado de servirem, serão consideradas propriedade do Estado português”. Portugal concedia aos Estados Unidos “a utilização sem restrições da base aérea de Santa Maria que ficará, tanto no que respeita a operações como a administração e controle, sob o comando da força aérea americana”.

Em anexo ao acordo principal foram trocadas duas notas diplomáticas de teor idêntico entre o governo português e os governos americano e britânico. Através destas notas, os governos americano e britânico, “cônscio[s] do legítimo desejo do governo português de pôr termo à ocupação de Timor pelos japoneses e reconhecendo que este território português se encontra compreendido num largo campo de operações empreendidas” pelos Aliados no Pacífico,
“aceita[m] e concorda[m] com a participação de Portugal nas operações que eventualmente sejam conduzidas para expulsar os japoneses do Timor português a fim de ser restituido à plena soberania portuguesa”.

Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), criado em 1933, foi agora transformado no Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), duas criações atribuidas a António Ferro e estão directamente ligadas a Salazar, que não larga da mão o controlo daquilo que considerava fundamental para a sua própria manutenção a cultura e a inteligência que não podem ser deixadas à solta.

Esta coisa de mudar o nome para que tudo se mantenha, é um velho estilo sempre reinventado)


Para hoje o convite para ouvirmos a Sinfonia alpina de Strauss.


(créditos-Luís Nuno Rodrigues
O Acordo Luso-Americano dos Açores de 1944)

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