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28 de setembro de 2008

Em Portugal o trânsito é pela direita

Chegada da Argentina onde assisti ao nascimento do jovem Ernesto, filho da minha amiga Célia, viagem de que guardo excelentes recordações, que lhas contarei brevemente.

De volta è nossa Lisboa, muito me surpreendeu o facto de finalmente ver o caótico transito da nossa cidade, ser regulamentado e por força da publicação do código da estrada, passarem os veículos a circular pela direita, entre outras regras, é preciso não esquecer que existem em Portugal hoje mais de 30.000 encartados e cerca de 28.000 veículos registados.

O trânsito político, também cada vez mais pela direita e com sentido único. Em marcha acentuada lá vamos andando pela ditadura financeira do espartilho acolitado pela clique militar que na sequência da romaria do mês passado, continuam afirmar o seu apoio incondicional a Oliveira Salazar

Salazar agradece os cumprimentos dos oficiais da guarnição militar de Lisboa: é a ascensão dolorosa dum calvário. No cimo podem morrer os homens, mas redimem-se as pátrias!.,disse no seu tom de sacristão.

Há dias falou-se aqui na causa do movimento sufragista e dos direitos das mulheres. Quero a propósito lembrar o falecimento, no passado dia 14 de Junho, de Emmeline Pankhurst a corajosa lutadora inglesa

Finalmente, a chamada Lei da Representação Popular, que concedia o direito de voto às mulheres, foi aprovada algumas semanas antes da sua morte. Ela que havia sido a figura central desta luta, ainda assistiu em vida à sua vitória.

Acabo falando de novo na Argentina, dum jovem cantador de tangos, chamado Carlos Gardel, não porque seja argentino, porque o seu local de nascimento é controverso, para uns terá nascido no Uruguai, para outros na europeia Toulouse. O próprio diz com muita graça "Nasci em Buenos Aires aos dois anos e meio de idade".

Lançou agora um novo tango chamado Adios muchachos, mas como não consegui obter a gravação , deixo aqui a seu tema de estreia, chamado Mi noche triste



Já agora meu caro amigo, aproveito para o convidar a passar pelo meu espaço novo, agora que o comecei a arrumar, para ouvir do nosso Beethoven a Eróica.

Casa Comum, 30 de Junho de 1928

22 de setembro de 2008

Chegou a ditadura das Finanças

Minha cara Severa

Lamento que vc, não tenha podido acompanhar-me ao Chiado Terrasse quando há dias fui ver o novo filme do Charlie Chaplin, a que chamou o Circo. Recordo ainda como gostou daquele outro que vimos já há um tempo o Garoto.



De facto ese jovem comediante inglês tem imenso talento, muito embora como tantos outros seus colegas me pareça também não querer aderir aos novos tempos do sonoro, neste caso justificado, porque me parece que o seu tipo de trabalho com esta figura de Charlot, só tería a perder "sonorizando" a sua voz.

Era o que precisavam de perceber alguns políticos que por aí andam, mudos, prestavam melhor serviço ao País.

Já sei que você está de partida para a Argentina, para acompanhar a sua amiga Celia de la Serna, que recentemente foi mãe, nos primeiros tempos de vida do filho que me disse chamar-se Ernesto.

O nosso Charlot das finanças, o insignificante beirão, começa a ganhar peso no governo do Vicente de Freitas de tal modo que já se fala numa DITADURA DAS FINANÇAS, tomando conta por dentro da própria estrutura do governo, com o apoio militar pois veja bem que no segundo aniversário do 28 de Maio, os oficiais da guarnição militar de Lisboa, presidida por Domingos de Oliveira vão visitar Salazar agradecendo-lhe a obra feita.

Muito embora em pouco tempo, o homem já se fez uma reforma orçamental (14 de Maio), onde se proíbe a criação de novas despesas sem autorização do ministério das finanças, como disse o Fernando Pessoa aí está a Ditadura das Finanças.

Salazar passa a ter como subsecretário de Estado do Orçamento Guilherme Luiselo Alves Moreira, desde 4 de Maio. O respectivo chefe de gabinete é Antero Leal Marques, antigo funcionário das finanças de Coimbra. Mantém a colaboração activa do director-geral da fazenda e secretário-geral do ministério Alberto Xavier, republicano convicto e antigo chefe de gabinete de Álvaro de Castro, que chegara a estar preso, durante um mês, em 1927. Outro elemento colaborador, proveniente da anterior máquina republicana, é o governador do Banco de Portugal, Inocêncio Camacho.

É esta minha amiga pois a equipe da Ditadura Financeira, com militares a ajudar não me agrada pensar que se vá eternizar.

Ouvi dizer que o Shostakovitch estreou uma ópera chamada o Nariz, enquanto não sabemos nada sobre isso aqui fica a Second Waltz.


Casa Comun, 31 de Maio de 1928

14 de setembro de 2008

Um dia talvez as mulheres possam votar

Pela segunda vez depois de Sidónio Pais, um Peresidente da República Portuguesa, foi eleito pelo voto popular e foi assim que Óscar Carmona, que já assumira a presidência interinamente se viu sufragado como o 11º Presidente da República.

Tomou posse em 15 de Abril passado e nomeou a 18 um novo governo sob a presidência do Coronel José Vicente de Freitas, um militar madeirense agraciado com a Torre e Espada, por distinção em actuação na guerra Mundial.

Assim se mascara a ditadura de democrática, fazendo crer que o acto eleitoral, os pode legitimar

Pergunto-me o que fará um militar na chefia do governo, especialista em cartografia, conhece-se dele uma planta de Lisboa ao que me dizem de notável qualidade técnica e artística, duvido que tais atributos sejam suficientes para levar a nau a bom porto. Deus queira que me possa enganar, para bem de Portugal.

Para ele reservou igualmente a pasta do Interior, Silva Monteiro para a Justiça, na Guerra Morais Sarmento, na Marinha Mesquita Guimarães, nos Estrangeiros Bettencourt Rodrigues, Duarte Pacheco na Instrução Pública e um tal Oliveira Salazar para as Finanças, que tomou posse há 3 dias no dia 27 de Abril, em vésperas de perfazer 39 anos.

Proclama então: sei muito bem o que quero e para onde vou, mas não se me exija que chegue ao fim em poucos meses. No mais, que o país estude, represente, reclame, discuta, mas que obedeça quando se chegar à altura de mandar.

Como conceito para "início de vida", parece-me encerrar desde logo uma certa visão excessivamente "independentísta", face a eventuais opiniões discordantes.

Este mês o jornal Novidades publicou uma entrevista coma Drª Paulina Luisi , por acaso a primeira mulher uruguaia a formar-se em medicina e entre as suas multiplas actividades dedica-se à defesa dos direitos das mulheres, entre eles o direito ao voto, não só obviamente das mulheres uruguaias mas ás de todo o Mundo, incluindo as portuguesas (acrescento eu), que tão longe estão desses direitos.

No Portugal de hoje, declara-se que as mulheres portuguesas são inimigas irreconciliáveis da República, e que, conceder-lhes o voto, seria transformar Portugal numa antecâmara do Vaticano-

A Drª Paulina Luisi é pois um exemplo a seguir por todas as mulheres, ele que também é fundadora do Partido Socialista do Uruguai, mas socialismo e direitos das mulheres são ainda entre muitas coisas conceitos proibidos por aqui, que o digam a Drªs Elina Gumarães, Adelaide Cabete, entre outras, que seguem o exemplo da Drª Beatriz Ângelo que conseguiu votar em 1911,
contornando a lei que só permitia votar aos cidadãos maiores de 21 anos que fossem chefes de família ou que soubessem ler e escrever, (ela era médica, mãe e viúva)

Para evitar estes contornos foi modificada o direito abrangendo somente pessoas do sexo masculino.


Casa Comum, 30 de Abril de 1928

6 de setembro de 2008

Existirá vida para além do deficit ?



Minha cara amiga Severa, tenho estranhado a sua ausência, tanto assim que aceitei o seu convite de subir aos seu cantinho, para ouvir uma coisa que me deu saudade e que tenho pena de não ter partilhado com a minha cara amiga. "Desembrulhei" a sua vasta colecção Beethoven e deliciei-me com a sempre maravilhosa Sonata nº2 em dó sustenido menor op.27 a Sonata ao luar.

Deu-me para me lembrar de Rilke falecido em 1926, porque também mais uma vez seguindo os seus avisados conselhos é na arte que podemos encontrar lenitivo, para os dias cinzentos que vivemos.

Recordo-lhe este poema e que dizer dele, aparenta arrogância de sentir quase divino, mas ostenta a sua (e nossa) indiscutível pequenez, não acha

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?

Que farás tu, meu Deus, se eu perecer?
Eu sou o teu vaso - e se me quebro?
Eu sou tua água - e se apodreço?
Sou tua roupa e teu trabalho
Comigo perdes tu o teu sentido.

Depois de mim não terás um lugar
Onde as palavras ardentes te saúdem.
Dos teus pés cansados cairão
As sandálias que sou.
Perderás tua ampla túnica.
Teu olhar que em minhas pálpebras,
Como num travesseiro,
Ardentemente recebo,
Virá me procurar por largo tempo
E se deitará, na hora do crepúsculo,
No duro chão de pedra.

Que farás tu, meu Deus? O medo me domina.

Por cá os nossos pequenos "deuses", que espero efémeros, continuam a sua ascenção ao poder, culminada com a "eleição" de Carmona para Presidente da Republica. Rica eleição esta quando aos opositores é proibida a actividade política, muito embora a operação de maquilhagem da polícia política especial de Lisboa e Porto, tenha dado lugar "apenas" a uma Polícia de Informações do Ministério do Interior.

Por mim sempre me assustaram as criações, dos super polícias, mesmo que sejam só rotulados de Informadores.

O Sínel de Cordes continua a levar nas lonas dum tal António de Oliveira Salazar, nas páginas do Novidades, que ataca ferozmente a política do Ministro das Finanças. Claro que parece ser oposição, mas quanto a mim e a outras pessoas mais dadas às questões da Economia, não deixam de considerar correctos os seus pontos de vista, naturalmente muito mais abalizados por ser um regente de Finanças e de Economia Política de Coimbra, do que as medidas preconizadas pelo general Sínel, que toma medidas da ... corda

Diz-lhe o Oliveira Salazar que foi um erro o Sínel ter "esmolado" um grande empréstimo internacional, sem ter garantido um prévio restabelecimento orçamental.

Provavelmente o Sínel de Corde está convencido que existe vida para além do deficit.

Casa Comum, 31 de Março de 1928

1 de setembro de 2008

Como tornar nossos dias menos escuros

Quero dizer-lhe meu caro amigo que não perca de vista um jovem chileno de apenas 23 anos e que dá pelo pseudónimo de Pablo Neruda.

Já tive oportunidade de ler esse seu livro de estreia, que chamou Crepusculário e que lhe deixo na secretária da sua biblioteca, para que passe, uma leitura atenta, como é seu hábito


Sei que ele também já publicou em 1924 mais vinte poemas de amor e uma canção desesperada, onde destaco um deles, para mim de rara beleza onde diz

Quero apenas cinco coisas..

Primeiro é o amor sem fim
A segunda é ver o outono

A terceira é o grave inverno

Em quarto lugar o verão

A quinta coisa são teus olhos

Não quero dormir sem teus olhos.

Não quero ser... sem que me olhes.

Abro mão da primavera para que
continues me olhando.


Sei que o meu amigo, tal como eu, anda apreensivo, com os rumos da vida política portuguesa, cada vez mais longe dos ideais republicanos, aproximando-se das ditaduras fascistas europeias, como estamos a assistir acontecer aqui ao lado nos "nuestros hermano" e em Itália.

Faça como Neruda mas passe a desejar 6 coisas, inclua a Liberdade, sem a qual essa outras 5 sabem a nada.


O Sinel de Cordes, nas Finanças, soube à pouco ,recusou as soluções apresentadas para a remodelação do sistema fiscal, apresentadas pela comissão que foi criada e presidida por um tal Oliveira Salazar.


O Golpe dos Fifis em Agosto, também não deu em nada. Tenho como certo que um golpe, qualquer golpe militar, só terá êxito se envolver um causa nacional e popular.

Mas meu caro não era um golpe deste tipo que nós ansiamos, já que desta vez este golpe dos Fifis, não é mais do que questão interna dentro da própria ditadura.

Contestação a Sínel de Cordes a sua substituição por outra flor do mesmo jardim, não é objectivo, poderá ser para Morais Sarmento, mas não para os republicanos liberais.

Curioso é o nome que a imaginação popular já baptizou por Fifis, Filomeno mais Fidelino de Figueiredo, mas na prática não são mais do que divergências envolvendo o
Integralismo Lusitano e as suas figuras mais proeminentes.

Há muito tempo que não falamos de música, soube que o nosso Rachmaninov, está nos Estados Unidos, provavelmente descontente com o rumo dos acontecimentos políticos na sua pátria Russa.

Deixo-lhe para recordar o 1º andamento do seu Piano Concerto nº 2.

Querendo ouvir o resto o meu amigo já sabe, é só subir e ao meu cantinho.

Rachmaninov e Neruda são as minhas propostas de hoje, para um dia menos escuro, não é afinal para isso que serve a arte ?

Casa Comum, 31 de Agosto de 1727

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