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30 de abril de 2008

ISABEL


Estou tão arrependida!
Gostava de voltar para casa, tenho umas saudades do Alfredo….o que gosto dele….como fui tão cega, como pude fazer o que fiz….

O que pode fazer a parvoíce e a rotina…a rotina parece que mata tanta coisa, mas do lado dele não, eu bem sabia que me continuava a querer, mas era aquele ramerrame….era a vida sossegada demais, era pensar que queria aquele amor escaldante, a paixão numa palavra, esquecendo-me que o amor vale mais e quando o Afonso se fez a mim, parecia que me tinha devolvido a vida, ou a alegria…pelo menos a excitação e a malfadada paixão.
Não é justificação, bem o sei, porque pensei que o amava e só depois ……o depois para nada serve.

Não o devia ter feito, ponto, não lhe devia ter, sequer, dado a mínima hipótese e agora estou para aqui a chorar sobre o leite derramado, sem ter coragem de falar com o Alfredo.
Só depois de perdermos, perdermos não, que o que fiz foi deitar fora…..se eu pudesse voltar a atrás, mas só tenho é que assumir que lhe provoquei uma infelicidade imensa a ele, que nunca a mereceu e agora amargo e de que maneira.

Não tenho desculpa nenhuma, mas como poderei falar com o Alfredo se ainda por cima já passaram dois anos e tal, até é capaz de já ter outra e mesmo que não tenha, como me há de perdoar ter saído porta fora sem sequer o avisar, com a Mariana….

Céus, com a Mariana! Não estava mesmo boa da cabeça, parece-me que me enfeiticei….
Já deixei o Afonso há um ano e o Alfredo bem sabe que vivo sozinha, que não tenho ninguém.

Quando olha para mim, parece-me que me quer dizer alguma coisa, mas não é a vez dele falar, mas os meus olhos ficam sempre molhados, ele a olhar para mim e eu com olhos a pedir perdão…..só que para pedir desculpa não chegam os olhos , há que falar.

Mas de cada vez que o vejo a sair a porta com a Mariana, só me apetece gritar LEVA-ME, LEVa-me também…..mas a voz não sai e fico a vê-los partir já com as lágrimas as escorrer pela cara abaixo, e juro e torno a jurar a mim própria que quando vier trazer a Mariana lhe falo, lhe falo, lhe falo e repito sem fim a ver se me entra na cabeça, na coragem…..mas a voz não sai.

Tenho medo, tanto medo, que me diga não e nem sei o que me assusta mais, se é ficar assim eternamente, ou ouvi-lo dizer - não, nem pensar.

Já pensei em o convidar para almoçar, não pode é ser à sexta-feira, que ele vai com os amigos.
Almoçar, almoçar era boa ideia, metia um dia de férias e ficávamos os dois a conversar. Desta vez falo, desta vez vou-lhe perguntar se não quer cá vir almoçar na quinta…quando ele trouxer a Mariana….

Queres almoçar comigo na quinta? Não, não pode ser assim de chofre.
Alfredo gostava de falar contigo , queres vir almoçar aqui a casa na quinta, ou na quarta, ou na segunda…..segunda é que era mesmo bom, quanto mais rápido melhor e assim podemos ficar sozinhos a conversar
- Claro Isabel, segunda está ótimo, a que horas queres que apareça? Está bem, à uma estou cá.


25 de abril de 2008

As pedras que se atiram


Quando cabe ao Alfredo escolher restaurante, é certo e sabido que vamos parar à Travessa do Rio, ali em Benfica. Como sempre o Alfredo não resiste às magníficas entradas e normalmente depois,todos nós atacamos no cabrito.

Já todos sabíamos que o Henrique havia passado uns dias em meditação, escolhera ir para bem longe, para a Casa da Campeã perto de Vila Real.

É uma tendência pensei para mim, o afastamento para longe, induz à distância que realmente não existe, da resolução dos problemas.

As contradições não pararam de se avolumar. Henrique continuava com a certeza de como lhe iria ser difícil, alcançar a felicidade que ambicionava junto da Mafalda sem conseguir afastar de si o olhar que guardara da Luísa, e o ferira profundamente, mais do que todas as palavras justas de recriminação, que ele sem dúvida merecia.

Percebemos todos afinal, que de todos nós o que menos falara até aí fora o Alfredo, mas pelo que disse depois duma forma tão simples e concisa como era seu hábito o que mais perto estaria de perceber a dimensão, dos que sofrem pelo amor, que não têm ou que perderam.

O Alfredo fora casado e tinha uma filha com 5 anos, quando inopinadamente e sem explicação, um dia chegara a casa e constatara que a mulher o tinha abandonado e levado com ela a filha de ambos.

Viria a saber depois que o tinha feito, por outro amor. Tantas vezes haviam insistido com ele, para que Alfredo fizesse valer os seus direitos de pai e de marido, sobre uma mulher que sem motivo aparente abandona o lar. Tantas vezes o haviam até insultado, por meias palavras, por o não fazer.

Muito mais vezes teve que responder, que o facto de continuar a amar a sua mulher, o impedia de a interpelar judicialmente e uma vez negociado a bem, os seus encontros com a sua pequena filha, se limitara a deixar que o tempo lhe trouxesse de volta a única mulher, que sabia poder um dia amar.

Um dia ela voltou, e hoje estão de novo juntos, porque Alfredo lhe perdoou, em nome do amor de sempre, Talvez não tenha esquecido, mas aceitou, como desde a primeiro momento, que as pessoas não escolhem o seu destino e não mandam nos seus sentimentos.

Além disso- disse ele ontem- Amar não é fazer parte dum contrato de troca, onde só se dá em função do que se recebe. Amar é dar, sem esperar o retorno com juros.

-Isso é que era bom, comigo não dava- sempre "oportunas" as palavras do Silva- mulher que me pusesse a lenha, estava feita comigo. desculpa lá ó Alfredo, mas sabes como eu sou, garanto-te que nunca mais lhe olhava para a cara.

Já abandonávamos o restaurante e ainda se ouvia o Silva resmungar, cambada de putas, é o que ela são todas.

De volta ao carro, liguei o reprodutor de cds, por acaso o que ouvi, fez-me voltar à Luisa e ao Alfredo, pensando como amor e revolta tantas vezes andam juntos.



22 de abril de 2008

LUÍSA



Não consigo dormir.
Voltas e revoltas na cama, almofada molhada de lágrimas, este peso que de meu peito não sai….

Onde falhei é a mesma pergunta para a qual não acho resposta. mas devo ter feito alguma coisa, mas o quê? Dávamos-nos tão bem...claro que havia discussões, mas quem as não tem, mas nunca nos zangámos a sério, nunca nos agredimos, como gosto dele...não posso pensar que gosto dele
soluço que do meu peito sai

Como não não percebi nada? Não percebi nada…..havia alguma coisa, talvez uma sensação de ausência, mas poderia tão bem ser do trabalho, ele nunca fala do trabalho, nunca quis, por serem segredos profissionais e o mundo é tão pequeno. Sempre o percebi.

Não como, há um nó que me não deixa engolir, também nunca tenho vontade de comer, nem de nada, nem sequer já de pensar, porque no meio do desespero vem-me sempre a amargura de ter chegado a sábado e ter resolvido friamente dizer-me que anda apaixonado há muito tempo…..talvez anos….nem consegui perguntar, pela Mafalda e fez a mala e saiu pela porta.

Até me dá vontade de rir, a facilidade com que se descartou. É assim, de uma hora para a outra, diz-me que está apaixonado há muito tempo por outra…….

Raios! mas como conseguia fazer amor comigo, e todas as ternuras que me dizia, era tudo falso? Ainda três dias antes….ou pensava na outra quando me dizia ……

É melhor nem pensar que ainda dou em doida.
Sai pela porta e quer lá saber se fico bem ou mal, já nada é com ele por ter saído a porta, anos de vida em comum nada valem, evaporam-se num segundo, o tempo de dizer «estou apaixonado por outra» e aqui vou que se faz tarde e ainda pensa que se portou bem, ainda pensa que me não traiu
Ah, os homens! só pensam que é traição quando se consuma o acto.
Se sofro? Não quer saber disso para nada. Apaixonou-se , ponto.

Sobe a raiva de tanto ter dado, de se ter aproveitado desse amor, enquanto não teve a certeza do amor da outra, depois foi só abrir a porta e sair.
Às tantas ainda aqui estava se a outra não o quisesse. Ainda bem que o quis, porque nunca me amou.

Parar esta cabeça, estas lágrimas que saiem sem eu dar por isso. Tenho de dormir ou enlouqueço. Tenho de dormir, tenho de parar este desespero, tenho de não pensar, tenho de mudar de casa que aqui tudo me fala dele, tenho de parar de pensar,estes soluços que não param, estes gritos encravados, tenho de não pensar, que ninguém merece que se sofra assim.

Tenho de dormir, tenho de.....dor-mir...tenho..de..dor-mir....te-nho... dor-mir.... dor....mir...dor....mi


17 de abril de 2008

Sentimentos contraditórios


Não sendo habituais estas trocas, desta vez o Henrique, pediu a antecipação do almoço para hoje, por ser sua intenção passar o fim-de-semana a sós.

Coube ao Silva a escolha do restaurante, lembrando-se de repetir um, que bem conhecemos praticamente desde a sua abertura, quando ainda se resumia a uma pequena sala onde cabiam no máximo 12 pessoas. Hoje, O Poleiro, alargou as instalações mas manteve a qualidade da sua cozinha minhota ali à Rua de Entrecampos em Lisboa.

Estávamos os 5 um pouco tensos, dado os acontecimentos da semana passada e as revelações que Henrique nos fizera, acercas das sua relações pessoais.

Duas ou três piadas aos dois benfiquistas, pela banhada de ontem não disfarçaram o ambiente
.
De todos nós, eu era o mais íntimo do Henrique, mas sabia tanto do que se tinha passado, nesta semana como os outros. Há momentos em que as decisões que tomamos, não são objecto de ajuda de terceiros. Ele tem o meu número de telefone, se não tomou a iniciativa de me ligar, provavelmente não achou necessário.

-Estão a falar com um homem separado. desde sábado que estou hospedado um hotel- disse o Henrique. Tive com a Luísa uma demorada conversa, onde lhe confessei o que se passava comigo. Como a Mafalda se tinha apossado de mim, dos meus sentidos da minha vontade. Expliquei-lhe que não me era possível continuar com ela, sem afrontar, tudo o que tinha sido o nosso passado e o respeito que sempre tivera por ela.

-Ela olhou-me profundamente nos olhos, misto de algum desalento e de muita surpresa-continuou o Henrique- acabando por me perguntar, onde tinha errado , qual o quota parte dela no fracasso do nosso casamento.

-Teria preferido que me agredisse, que me maltratasse-continuou- esse olhar, essa pergunta e o silêncio que se seguiu, feriram-me profundamente, mas justamente. Da Luísa nada tenho a dizer, também me lembro que nos amámos, até ao dia em que passei a não ser dono de mim.

-Nesse dia mesmo, enquanto metia meia dúzia de peças de roupa numa mala, pensei como era duro que um sentimento tão belo e profundo como o meu amor pela Mafalda para se realizar tenha que passar por me colocar perante tantos sentimentos contraditórios, como a quebra de lealdade, a ingratidão ou o esquecimento do amor que outras pessoas nos dedicam.

-Então e a outra gaja, já a comeste ?-perguntou o Silva, um pouco ao sabor doutros almoços mais ligeiros. Embora a sua quase inocente boçalidade, não tenha desta vez colhido os sorrisos habituais.

-A Mafalda ? Nós temos um pacto ,queremo-nos para vida, mas sem teias, nem restos do passado, libertos e renascidos, Que cada um resolva, ou não, essas questões, é um problema individual.

-Então e tu ? perguntei eu, que bem conheço o Henrique.

-Eu ? Não sei se conseguirei algum dia voltar a ser feliz. Agora que descobri o meu Amor, deixando para trás a amargura de ter querido trair um amigo.

14 de abril de 2008

A verdade sobre as Lealdades



Estavam a jantar com um grupo de amigos, quando a avisou de que iria, estar quinze dias no Algarve em serviço e que partiria na sexta à tarde
Ela só perguntou admirada porque ia na sexta e não domingo, visto que durante o fim-de-semana não iria trabalhar, com quase toda a certeza.
Encolhendo os ombros respondeu que era menos cansativo, não tendo ela acrescentado mais nada.

Todos perceberam que iria ficar sem carro e ofereceram-se para a ir buscar, propondo-lhe vários programas alternativos.
Ela ria-se e quando todos se despediram, tudo tinha ficado no ar, pensando ela que ninguém se iria lembrar daquela conversa quando chegasse o dito fim-de-semana.

Enganou-se, o Miguel telefonou-lhe a perguntar se não queria ir com ele até Sesimbra, por o dia estar de não se desperdiçar.
Miguel tinha acabado namoro há pouco tempo com a Graça e ela hesitou um pouco, mas pensando que daí não viria mal ao mundo, acabou por aceitar.

Miguel era um homem sem nenhuns atractivos físicos, mas emocionalmente era uma rocha, uma arriba, que ali está para o que desse e viesse, a quém sempre alguém se encostava quando estava em baixo.
Era amigo do Manuel desde o princípio da adolescência e ela sabia que também era seu amigo, desde que a conhecera já namorada do Manuel e hoje em dia, sua mulher há seis anos.

Foram juntos para a praia e um dia inteiro, propiciou a que se fizessem confidências, ele sobretudo, porque ela pouco falava da sua vida.
A certa altura, já a tarde ia a meio, ele olhando-a nos olhos, disse saber que ela não feliz com o Manuel, que se percebia que ela estava a murchar e se ela não lhe queria explicar a razão.

- não há nenhuma razão especial, são fases, disse renitente e evasiva.

Foi então que lhe declarou todo o amor reprimido há anos, acrescentando que tinha namorado com a Graça para ver se a esquecia, mas como sempre se estavam a encontrar, por fazerem parte do mesmo grupo, que nunca o conseguira.

Ela olhava abismada para ele

- anda disse-lhe puxando-a por uma mão, vamos dar um mergulho, o que ela aceitou de imediato para não ter de lhe dar uma resposta, qualquer resposta que não tinha.

Já na água, aproveitou para com ela brincar, puxando-lhe uma perna e quando se desequilibrou, aproveitou a abraçar e vendo que ela se deixava estar beijou-a apaixonadamente.
Feliz por ela ter correspondido, aproveitou quando nas toalhas se deitaram, para afagar o corpo lindo, enquanto lhe sussurrava palavras de louco amor, finalmente extravasado.

Foram para a casa que ele tinha em Sesimbra, para banho tomarem.

Já ela estava no chuveiro, confusa com o que estava a acontecer, sabendo que com o marido tudo tinha acabado há tempo, quando ele entrou e a começou a lavar
Ela ainda murmurou o nome do marido, ao que ele respondeu que pensariam nele mais tarde.

Quando ela teve o seu primeiro orgasmo, ele percebeu o que corria mal entre aquele casal e esforçou-se por lhe dar mais e mais prazer.
Passaram o fim-de-semana juntos, com Miguel sempre a insistir que ela não tinha mais do que se separar, que era com ele que ela sempre deveria ter vivido.

Quando a deixou no emprego na segunda-feira, longe da sua insistência, resolveu pedir abrigo aos pais, para não ter outra vez de o enfrentar e poder com calma pensar.

Sim, o seu casamento tinha acabado, era só necessário que os dois, ela e o marido, tivessem mais uma conversa, que desta vez seria a última.
Estava agradecida a Miguel, por inconscientemente a ter feito decidir, por lhe ter dado a conhecer o que era prazer, por lhe ter feito saber que não era frígida como julgava, mas no fundo com alguma repugnância pela pouca lealdade do Miguel pelo amigo.

Pensou para com ela, que havia pessoas que pareciam vampiros, que sempre estavam presentes, para à menor oportunidade a poderem abocanhar. Talvez estivesse a ser injusta, mas era o que sentia.

Quando pensou na sua lealdade para com o marido, encolheu os ombros, não teria acontecido se não fosse a ocasião ter aparecido e lealdade, era coisa que o marido não tinha para com ela há muitos anos.

11 de abril de 2008

A verdade ao almoço de sexta-feira

(Para a Marta com a nota que os homens também comem, ou talvez, que às vezes também falam a sério)

Todos reparámos que o Henrique, chegou algo alquebrado, a sua cara reflectia uma amargura pouco habitual, mais do que o seu Sportinguísmo podia justificar, numa noite passada mais triste.

É assim já há uns anos, encontrar-mo-nos para almoçar todas as sextas-feiras. Coubera-me a escolha do restaurante desta semana, mas o Henrique não estava bem.

Estou em tempo de grande revolução na minha vida disse ele, quando por nós instado a revelar, o que se passava.

Ontem foi-me revelado um aspecto da minha vida que não tinha dado conta, continuou e que não tenho dúvidas vai marcar por completo o resto da minha vida.

-Por uma coincidência difícil de voltar a acontecer e que não vem a propósito revelar, encontrei-me a sós com a Mafalda, mulher do meu amigo Fernando, que vocês não conhecem.

É um grupo de amigos de infância, que se reúne há muitos anos.-continuou o Henrique.

Faz já alguns anos que, quase sem crer me tenho vindo a aproximar da Mafalda apercebendo-me que cada vez mais, ela é a mulher da minha vida.

Ontem não resisti mais, alguns toques de aproximação, fizeram com que Mafalda inteligente como é, tenha percebido que eu não era o Henrique habitual. Devolvia-me no seu olhar belo e profundo essa mesma mensagem.

Decidi que não iria calar mais tempo o meu amor por ela, já de tantos anos e em volta dum café simples, num local de sossego, por acaso encontrado.

Surpreendeu-me, quando me revelou, lembrando-me que me tinha conhecido ainda solteira e eu casado com a Luísa e que já nessa altura se apaixonara por mim e até hoje não tinha voltado a amar ninguém e que também lhe não tinha passado despercebido a gradual alteração que ao longo dos anos, tinha notado em mim, sobretudo na forma como a olhava.

Havia casado algum tempo mais tarde com o Fernando, rendida ao encanto duma pessoa íntegra e boa, que a amava profundamente e por quem hoje sentia uma amizade profunda.

Independentemente de me continuar a amar, estará completamente fora de questão, qualquer hipótese de traír a confiança que o seu marido nela depositara.

Num silêncio pouco habitual, nestes almoços de sexta-feira, quase nem reparáramos que a magnífica couvade de bacalhau havia chegado e enquanto iniciávamos a equitativa repartição das postas de bacalhaus, foi salvo o erro, o Alfredo que perguntou, e então agora o que vais fazer ?

-Reflicto em muitas coisas, retorquiu o Henrique, sobre tudo que a verdade revelada do amor recíproco entre mim e a Mafalda, não pode servir de capa a que outras verdades que existem, possam ser afastadas, porque nos daria jeito, para alguns encontros fortuitos e seguramente furtivos.

A Mafalda deu-me várias lições que eu provavelmente me dispunha a ignorar. Lembrou-me que o Fernando era meu amigo de infância, o mais antigo aliás, andáramos juntos desde a escola primária e os amigos não se traíem, isto a ser verdade que eu sou amigo dele.

Mas se vocês se amam, não têm direito a ser felizes ? perguntou o Silva que gosta sempre dizer coisas.

-Naturalmente que sim disse o Henrique, mas não dessa forma, convenhamos que em nome da verdade do nosso amor nem eu nem a Mafalda, o devemos abandalhar. Será também em nome dessa verdade que este fim-de-semana, vou falar com a Luísa para nos separamos.

Então e depois ? disse o Silva

Depois ? depois, logo se vê-rematou o Henrique

8 de abril de 2008

A verdade é tão simples, afinal




Em tua honra Luís Maia


Foto de Flávio Moura
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- Afinal a verdade é tão simples! disse Matilde, enquanto viam, aquele esplendoroso pôr-de-sol.
- sim disse Isabel, basta estarmos aqui sentadas para vermos como é fácil percebê-la, entendermos todos os seus aspectos, com este fim de tarde melhor que o de muitos verões, por não estar tanto calor…

- nem vento, acrescentou Mitó, espreguiçando-se enquanto se reclinava. Como gosto de estar assim e sentir-me quase gata. Felicidade é poder estar a contemplar esta maravilha, sem mais nada pensar, sem mais cuidados que não seja imbuir-me deste espectáculo.
Não sei se é a verdade de que estão a falar, mas mostra-me, pelo menos a minha verdade, ou pelo menos, a verdade do que sou

- eu fico comovida, tal como o fico quando vejo um bom espectáculo de dança, ou ouço o terceiro andamento da sétima sinfonia de Beethoven, ou ouço Bach, ou Mahler, dizia Rita
Ter agora aqui a sétima de Beethoven para ouvir, era a felicidade que completava este bocadinho.

- a verdade, dizem vocês, o que será a verdade? A verdade é a realidade? Há tantas realidades, todas tão diferentes, ou a verdade pode ser a ilusão? Perguntou Luísa, com a voz arrastada, que era parte do seu encanto
- não, Luisa, a verdade é a beleza e a realidade, ilusão és tu e eu com esta filosofia de trazer por casa, disse numa gargalhada Rita

- estavas tu tão sonhadora e já estás a estragar esta quietude, provocou-a Mitó
- já repararam em todas as tonalidades que temos estado a assistir, o azul do céu que se foi transformando em amarelos, laranjas, em rubro, que passou agora quase a acastanhado , o areal em contra luz que fica quase preto

- mas se te virares para trás continua nesta cor que nem se sabe bem se branca amarelada, ou se creme esbranquiçada, por isso ser uma ilusão, Matilde
- não, Luisa, acho que a Rita disse parte da verdade, a realidade é a beleza; a ilusão é a maneira como percebemos ou interpretamos essa beleza.
não estás cá, Isabel? continuou Matilde, ou estás a ficar nostálgica

- fiquei a pensar no que disse a Mitó…..
- ela já disse tanta coisa

- …..que lhe mostrava a sua verdade, ou a verdade de que era feita. Tens razão, sabes? Mostra de que somos feitas, e vocês fugiram a ela, porque terá sido? Porque na verdade comove tanto estar aqui a assistir a este espantoso pôr-de-sol, como perceber que nos mostra o que somos, se calhar por isso é que nos comove, por nos vermos.

- que grande elogio nos estás a fazer a todas, tu incluída, disse risonha Mitó, tentando aligeirar
- e de que te sentes feita? Perguntou Luísa

- neste momento só aparece o melhor de mim, de nós todas, os defeitos, os erros, esses não os conseguimos ver, estando perante….isto, disse abrindo os braços, como se quisesse abarcar tudo.

- mas sabemos sempre, temos essa noção, que só estamos a ver parte da nossa verdade e por isso ficarmos comovidas, por nos vermos como reflexo esplendoroso, o que é raro, acrescentou Mitó, era isso que queria dizer há pouco.

- vês porque somos nós a ilusão, Luísa?
- claro, Matilde, achas que não estava também fascinada? Sei que o que estamos a sentir é só parte de nós, que somos parte da verdade, porque a Beleza nos esconde o que de pior temos, o menos bom, vá lá, para não ser muito negativista, disse sorrindo

Ficaram em silêncio, aproveitando sentirem-se reflexo esplendoroso, indo embora só quando já não havia uma única tonalidade no céu, agora já escuro.

4 de abril de 2008

Mulher que no rio lavas....




Fotografia de Nuno de Sousa
Cliquem na fotografia, porque vale a pena


Mulher que já depois de tantos anos da revolução e de revolucionárias, a pedirem, a exigir, condições iguais, ainda aí está lavar a roupa no rio, que consigo leva a tábua de esfregar, os alguidares e o detergente, sem água canalizada ou esgotos.

Nem tempo tem para no rio se mirar, galochas altas calçadas, esfregando a roupa do seu homem….

Olho as sombras e os reflexos, e toda esta beleza, quando tempo tenho

Quando era jovem vinha para aqui namorar e ele dizia-me que era a cachopa mais linda, de entre todas a escolhida, e eu ria-me e ficava todo orgulhosa….….
no rio, enquanto por ele esperava, olhava meu reflexo com os outros misturados e gostava do que via, cabelo comprido muitas vezes feito em trança, delgada como um junco……
que rápido passa a juventude, sem termos tempo de nela mergulhar; quando vamos por ela, já não existe, fica só a marca.

Felizmente não sabemos o que o futuro nos traz, não é que tenha queixas a fazer, porque saúde tenho e trabalho não falta, felizmente, mas é vida de labuta que não me deixa em nada pensar, que faz com que chegue à cama derreada, sem vontade de nada e o meu homem ali a querer mais do que lhe posso dar.

Claro que tem razão, a Senhora, a vida não deveria ser só labuta, mas que havemos de fazer, os homens ainda não nos ajudam, nem me posso queixar do meu, que não é homem que venha da taberna bebido, que bebe também, mas não vem para casa a cair como tantos que por aí andam, nem vem a embirrar com ninguém, que nunca me bateu, tem defeitos como todos nós, mas não são nada por aí além.

Com os filhos? Não senhora, não ajuda com os filhos, mas isso é natural, os filhos é com as mães…está bem que também trabalho, mas os filhos sempre com as mães foram, só lá para a cidade é que as coisas mudaram e isso que está a dizer, deve ser só por lá ouvido.

Mas às vezes ao sábado quando o dia está lindo como hoje, venho para aqui sentar-me e às vezes, se não está ninguém à vista, até me banho, muitas vezes fiz isso quando era garota e mais tarde também, as saudades que tenho do tempo livre que então tinha…..
Não era muito que lá em casa éramos tantos que tinha de ajudar minha mãe, mas sempre tinha mais do que agora.

Mas nesses sábados que para aqui venho, até uma alma nova arranjo, e deixo-me ficar a olhar o rio que vai até Lisboa e penso se um dia me deixasse ficar a vogar nele se me levaria também, tão docemente como o faz às folhas que na água caiem.

Não sei nadar não, mas também não preciso, porque o rio só aqui é quentinho, aqui na margem com água pouca, com este sol depressa aquece. Mas hoje não tenho tempo.
Aquilo que estava a dizer era só a pensar…..
é o que penso quando tenho tempo para um pouco descansar. Não me faz falta e daqui não quero sair, o que queremos é ter melhores condições de vida.

Então até qualquer dia. Gostei de estar este bocadinho na conversa com a Senhora…….Ui! mas já me atrasei tanto…..Boa Viagem!

1 de abril de 2008

Hoje é dia de falar verdade

É muito fácil criticar-se os Países mais pobres do Mundo pelas suas incapacidades em responder ás necessidade básicas dos seus concidadãos, no que à saúde ou à educação dizem respeito.

Menosprezam-se alguns deles por não considerarem esses desideratos como meta fundamental das suas políticas, eu próprio o faço, quando me refiro a Portugal, porque normalmente sou violentamente crítico das políticas que optam por gastos sumptuários à luz das questões que para mim deveriam ser centrais na política dos partidos portugueses, ataque deliberado à fome, ataque ao fim das reformas de miséria, implementação eficaz dum serviço nacional de saúde, concreto e eficaz e ataque deliberado ao desemprego.

Esta introdução para dizer que, do mesmo modo, que a imprensa dum modo geral, está sempre tão atenta e servil, para elogiar os feitos tecnológicos da nação norte-americana, sempre tão ávida de se babar com as vantagem do sonho americano, não dê o destaque devido, aos factos da sua realidade económica, que como quase sempre acontece, nas sociedades onde o capitalismo ostenta a sua imagem mais feroz, que aquilo é muito bom, mas não é para todos, é só para alguns e respectivos servidores.

Eis um aspecto do "sucesso".
  • Em 2006 22 mil adultos morreram nos Estados Unidos por falta de seguros, mas 47 milhões de pessoas nos EUA não têm seguro de saúde. Só não morrerão se tiverem sorte de não adoecer com mais gravidade.
Entretanto em campanha eleitoral no Estado de Oregon, oferece-se por sorteio 10 mil seguros de saúde, mais uma vez a sorte pode sorrir, pelo que alguns dos 600 mil habitantes daquele estado, poderão não morrer por sorte.

Quantos milhões por dia gasta este País exemplo do Mundo livre como gostam de lhe chamar, na guerra mentirosa do Iraque mas que deixa morrer concidadãos só porque não têm dinheiro para, por exemplo, pagar a insulina que a sua diabetes exige. ?

Temas e Instituições